Santa Catarina ganha Roteiro de Imigração

 

 

 

 

 

Grupos folclóricos apresentaram música e dança tradicionais

 

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, passou uma tarde agradável no interior do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, onde esteve para apresentar o projeto Roteiros Nacionais de Imigração. O Sítio Tribess, propriedade do casal de agricultores Ingo e Waltraut Tribess, foi escolhido para sediar o lançamento da ação, que tem como objetivo a preservação do patrimônio histórico-cultural de tradições alemães, ucranianas, italianas, polonesas, húngaras, austríacas, entre tantos outros povos que estabeleceram-se no Brasil, além do incentivo ao turismo nessas regiões de imigração.

 

Para marcar a cerimônia, realizada no dia 27 de agosto, apresentações de grupos artísticos de dança e música tradicionais, uma farta mesa composta por alimentos da culinária germânica e a entrega de uma grande cesta de produtos típicos ao ministro Gil, como forma de agradecimento. Durante o evento, foram firmados dois convênios para o desenvolvimento do projeto no estado.

 

Visando promover ações que auxiliem na implantação dos Roteiros de Imigração, assinaram um termo de cooperação o ministro da Cultura, Gilberto Gil; o vice-governador de Santa Catarina, Leonel Pavan; o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida; os representantes do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC), José Alaor, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Jurandir Teodoro Gurgel, do Ministério do Turismo (MTur), Tânia Brizolla; e os prefeitos dos 15 municípios envolvidos no projeto – Ascurra, Benedito Novo, Blumenau, Indaial, Itaiópolis, Jaraguá do Sul, Joinville, Pomerode, Orleans, Nova Veneza, Rio dos Cedros, Rio do Sul, São Bento do Sul, Urussaga e Timbó. Em seguida, o ministro da Cultura e a representante do MTur assinaram, também, um termo de cooperação entre os dois ministérios para o fortalecimento do turismo cultural no país.

 

 

Iniciativa Inédita

 

Roteiros Nacionais de Imigração é a concretização de um estudo inédito que vem sendo feito há 20 anos pelo Iphan, instituição vinculada ao MinC, em conjunto com o governo do estado e as prefeituras municipais. O presidente da autarquia, Luiz Fernando de Almeida, salientou que “a diversidade é a maior riqueza cultural do Brasil. E faz muito pouco tempo, somente há duas décadas, que o Iphan iniciou um trabalho de reconhecimento da contribuição da imigração européia do final do Século XIX como parte do patrimônio cultural brasileiro”. O tombamento da cidade de Antônio Prado, no Rio Grande do Sul, e do Museu de Orleans, em Santa Catarina, foram as ações pioneiras.

 

O diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, Dalmo Vieira Filho, afirmou que a iniciativa é uma tentativa de um olhar diferenciado para o contexto social que se estabeleceu na região sul do Brasil. “Nós temos que preservar não apenas porque é bonito. O patrimônio não preserva o passado, ele preserva coisas que precisam ser legadas para o futuro. Acho que isso faz toda a diferença do que se busca para a região. A partir deste belo dia neste belíssimo lugar que a gente vai decidir se vai ser possível legar paisagens, ações, lugares como este para os nossos netos ou se nós seremos as últimas gerações a vivenciar essa herança”, refletiu.

 

 

Paisagem Cultural

 

Para o presidente do Iphan, o conceito de Paisagem Cultural, que esse projeto de roteiros de imigração emprega, tem uma relação direta com o princípio de execução, circulação e produção dos bens culturais. “Este é um bem cultural brasileiro. A preservação desses lugares é a preservação da dinâmica desses lugares, da sua forma de vida, das suas expressões e do exemplo de relação harmoniosa entre o homem e a natureza.”

 

Luiz Fernando de Almeida ressaltou que a maior preocupação do Roteiros Nacionais de Imigração é com a preservação do modo de vida de quem habita as cidades que integram o roteiro. “Para nós, o turismo é só mais um elemento. Nossa preocupação é a relação de sustentabilidade que este território tem. É a relação do homem com o meio ambiente.”

 

Destacou, ainda, que a proposta – que deverá ser ampliada para outros estados – não apenas visa preservar os imóveis por meio de tombamentos, mas incentiva a cultura e as condições de sustentabilidade das pequenas propriedades. “Primeiro não basta tombar e proteger somente o bem material. É preciso criar condições para que esse modo e essa maneira de viver e de produzir possa permanecer. Isto só será possível se nossas ações forem compartilhadas no tombamento, no registro, no zoneamento rural, na política fundiária, no valor agregado ao produto artesanal, no turismo. O compartilhamento das responsabilidades e a complementação dos instrumentos, isso é um sistema de cultura, um dos desafios de mudança de escala da política territorial de responsabilidade sobre o amanhã.”

 

 

Turismo e Cultura

 

O representante do Sebrae-SC informou que os Roteiros serão implantados dentro do projeto turístico da região. “Vamos mesclar as duas coisas, permear uma coisa com a outra, fazer com que enriqueçamos a nossa região com o projeto turístico, mas resgatando a história de todos os catarinenses”, afirmou José Alaor.

 

Por sua vez, a diretora do Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico do MTur considerou importante o “momento de congraçamento”. “Sem o Ministério da Cultura, o Ministério do Turismo não vai conseguir alavancar todas as iniciativas envolvidas. Sem o MinC, não vamos conseguir fazer o que queremos, que é transformar a atividade turística num movimento de sustentabilidade e geração de emprego e renda no nosso país.” Tânia Brizolla também chamou a atenção para o outro ministério parceiro: o Ministério do Desenvolvimento Agrário: “a gente tem um parceiro muito importante que é o MDA, que vai trabalhar com pequenas propriedades”. “Turismo, se você não trabalha em rede, não existe. Hoje temos o Sebrae, o poder público e a iniciativa privada trabalhando lado a lado”, comemora.

 

O vice-governador Leonel Pavan enfatizou o que foi dito pela representante do MTur: “não dá para falar de turismo sem falarmos de cultura. O Vale Europeu, o Alto Vale, o Médio Vale e a Região Norte têm um potencial enorme na área cultural, principalmente no setor de turismo. Agora esses 15 municípios que fazem parte desse grande projeto, trabalhado há muito tempo, podem chegar ao sucesso com muito rapidez. O governo estadual vem há muito tempo trabalhando com o turismo, mas com essa parceria que está se iniciando hoje entre os governos municipal, estadual e federal, temos a certeza que chegaremos ao sucesso com segurança.” Leonel Pavan fez uma ressalva: não adianta as parcerias de governos se não houver a parceria com a sociedade.

 

Turismo Rural – O projeto tem como foco principal as pequenas propriedades rurais espalhadas pelas centenas de estradas que formavam as antigas colônias de imigração. Segundo o representante do MDA, serão fornecidos subsídios que permitam aos pequenos agricultores não descaracterizarem o seu modo de produção. “Nós temos destinado para este ano mais de R$ 12 bilhões para o crédito da agricultura familiar e dentro desses R$ 12 bilhões tem uma boa parte destinada para a questão do turismo na agricultura familiar. O ministério também está com um projeto já aprovado: nós vamos liberar recursos ainda neste semestre em torno de R$ 100 mil no orçamento 2007 e teremos em 2008 e 2009 mais R$ 300 mil reais completando nossa cota de participação em R$ 400 mil, que somados à contrapartida do Sebrae vamos finalizar em três anos a aplicação de R$ 800 mil, que serão recursos destinados a capacitar e formar agricultores para essa nova porta de oportunidades que é o turismo na agricultura familiar”, garantiu.

 

 

Modelo a ser reproduzido

 

O prefeito de Pomerode, Ércio Kriek, comemora a iniciativa, mas diz esperar que as políticas prometidas saiam do papel. “É muito comum o governo federal – e não falo apenas da atual gestão – lançar um projeto e depois os municípios arcarem com tudo. Se ocorrer como prometido, será excelente.” Ércio Kriek disse que o estado catarinense, na questão da preservação da cultura dos seus antepassados, é um modelo a ser seguido. “Esperamos que com este convênio que hoje estamos assinando nós possamos juntar forças para que possamos continuar a ser um exemplo”, finalizou.

 

 

Reconhecimento

 

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) mencionou uma entrevista do teatrólogo Augusto Boal, na qual ele relatou que quando o presidente Lula nomeou Gilberto Gil para ministro da Cultura ele disse ‘eu não entendi, eu fiquei preocupado; o que um artista internacional como Gilberto Gil, que tem tantos compromissos, vai fazer no MinC? E depois eu entendi a intuição do presidente, porque o ministro Gilberto Gil conseguiu fazer no Ministério da Cultura arte. Conseguiu fazer com que este ministério fosse pensado, visto e encaminhado como deve ser. A arte em sua plenitude, em todas as suas formas de manifestação. E não há povo que sobreviva sem cultura’.

 

“Eu concordo com Augusto Boal. Nessa concepção de fazer do ministério uma arte, Santa Catarina vem sendo muito privilegiada. E para nossa felicidade, esse projeto maravilhoso que entende como cultura a preservação da maneira das pessoas trabalharem, produzirem, morarem, viverem entre si”, destacou a parlamentar catarinense.

 

O ministro Gil respondeu que é uma satisfação poder contribuir para a renovação do conceito de cultura do país. Disse, ainda, ficar satisfeito pelo reconhecimento da importância do que vem sendo feito pela área cultural no Brasil. “Não exatamente pela quantidade de coisas, mas pelo significado simbólico, pelo significado de renovação, pelo significado cultural de transformação que se estabelece nesse país, que precisa ser levado adiante, que precisa ser confirmado.”

 

 

 

 

Informações sobre o projeto Roteiros Nacionais de Imigração: (61) 3326-3911/8014.

 

03/09/07

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