O ministro da Cultura, Gilberto Gil, afirmou que a idéia de livre comércio cultural, defendida pelos Estados Unidos, pode aniquilar as culturas regionais. Ele participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores que discutiu a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre diversidade cultural.
Gil argumentou que a proposta norte-americana pode parecer positiva a princípio, mas a longo prazo o livre comércio poderá uniformizar a cultura, prejudicando a diversidade de manifestações regionais. “As pequenas manifestações culturais, regionais, locais, dos vários países, especialmente os países mais pobres, essas manifestações são cada vez mais tênues, elas são ofuscadas pelos grandes produtos padronizados, internacionais.”
A criação de mecanismos que preservem as culturas locais dos padrões impostos pela globalização é um dos objetivos de Conferência da Unesco no próximo mês, quando será aprovado o texto da convenção sobre diversidade cultural. Com a convenção, a Unesco ganharia sobre a diversidade cultural os mesmo poderes que a Organização Mundial do Comércio (OMC) tem sobre as relações comerciais, por exemplo.
Diálogo de culturas
O ministro ressaltou a importância da convenção da ONU e citou, entre os pontos importantes do texto, as garantias ao direito soberano dos estados de manter e implementar políticas de proteção a manifestações culturais, a consciência do papel da cultura em políticas de desenvolvimento e a importância do diálogo entre as culturas.
Gilberto Gil lembrou que a cultura é a área da indústria que mais cresce e emprega no mundo e as estimativas são que os negócios relacionados à cultura representem neste ano cerca de US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 4,2 trilhões).
Exportação de cultura
O presidente da Comissão de Relações Exteriores, deputado Aroldo Cedraz (PFL-BA), afirmou que a audiência com Gilberto Gil teve como objetivo trabalhar a idéia de que o Brasil pode exportar cultura. “Na área de serviços culturais, nós temos muito a exportar. Porque nós temos quantidade, diversidade, qualidade, e eu espero que isso possa marcar definitivamente essa inovação, essa renovação da pauta de exportações do Brasil com a área de serviços, principalmente na área cultural.”
O deputado Aroldo Cedraz acredita que a Câmara deve mandar representantes para a Convenção da Unesco, que já vai contar com representantes brasileiros dos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores. A Convenção da Unesco sobre a diversidade cultural vai ser realizada em Paris entre 13 e 20 de outubro.