PAULO FREIRE
“Conhecimento não se transfere, se constrói”
Reconhecido como um de nossos mais importantes pensadores, criou a pedagogia da libertação. Propõe partir da realidade do aluno para lhe dar consciência de seu papel na sociedade.
Por Luiz Ribeiro
Brasileiros que visitam Estocolmo podem talvez surpreender-se com a estátua de um compatriota numa praça, em pleno centro da capital sueca: Paulo Freire. Homenagem que possivelmente aqueles viajantes não tenham jamais visto por aqui. Doutor honoris causa em 28 universidades, o educador pernambucano é reconhecido no mundo todo como um dos mais importantes pensadores brasileiros do século passado.
Sua infância não foi fácil. Paulo Reglus Neves Freire nasceu no Recife, em 19 de setembro de 1921. Órfão aos 13 anos, chegou a passar fome. Formou-se em Direito, mas nunca exerceu a advocacia. A convivência com as privações do povo nordestino lhe indicou outro caminho.
No começo dos anos 1960, criou um método de alfabetização de adultos. Simples e revolucionário. Em 1963, faz a primeira grande experiência. Leva apenas 45 dias para alfabetizar cerca de 300 camponeses de Angicos, no Rio Grande do Norte.
EDUCAÇÃO PELO TIJOLO
No ano seguinte, 1964, durante o governo João Goulart, convocam-no para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização, com objetivo de alfabetizar 5 milhões de pessoas. E elevar sua condição de cidadãos: analfabetos não podiam votar.
Paulo Freire considerava o ensino da época rígido e autoritário. Os professores davam aulas formais para alunos dos quais se esperava comportamento dócil e passivo. Era a “pedagogia da dominação”.
A “pedagogia da libertação” de Paulo Freire propunha formar pessoas capazes de tomar consciência de sua condição; de que, sendo exploradas, podiam mudar a situação. O educador imaginava um processo de ensino flexível e participativo, que incentivasse o diálogo entre professores e alunos.
A primeira medida foi acabar com as cartilhas padronizadas. O ensino deveria partir da realidade dos alunos, de palavras conhecidas por eles – as “palavras geradoras”. A experiência clássica foi a alfabetização dos operários que construíam Brasília nos anos 1960. Primeiro, apresentava-se uma palavra geradora conhecida: “tijolo”, por exemplo. Depois, suas sílabas eram separadas: “ti-jo-lo”. Em seguida, mostravam-se as famílias fonêmicas: “ta-te-ti-to-tu, ja-je-ji-jo-ju, la-le-li-lo-lu”. A partir daí, os alunos deveriam formar palavras com as novas sílabas. Ao mesmo tempo em que ensinava, o professor deveria criar discussões e estimular a reflexão sobre a realidade dos alunos.
LIDO EM 28 LÍNGUAS
Pode-se imaginar por que a ditadura militar instaurada em 1964 não gostou do novo método. Naquele ano, Paulo Freire ficou preso por 70 dias. Libertado, exilou-se.
No Chile, escreveu sua obra mais importante: Pedagogia do Oprimido (1968). Tornou-se mundialmente conhecido. Foi consultor da Unesco e do Conselho Mundial de Igrejas. Desenvolveu projetos em diversos países.
Em 1979, às vésperas da Anistia, o governo Figueiredo (1979-1984) permitiu seu retorno ao Brasil. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Experimentou também a política: em 1989, assumiu o cargo de secretário municipal de Educação de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina.
Morreu em 2 de maio de 1997. Deixou mais de 40 livros. Alguns deles, traduzidos para 28 idiomas. Por meio de suas idéias e de sua obra, segue influenciando educadores de todo o mundo. Sobre a educação, costumava dizer:
“A tradição brasileira, profundamente autoritária, coloca sempre o formando como objeto sob a orientação do formador, que funciona como o sujeito que sabe. É preciso deixar de ser assim. Conhecimento não se transfere, conhecimento se constrói.”
Fonte: Almanaque Brasil.