Coreografia em Wolfsburg: cordas que aprisionam e libertam Em entrevista à DW-WORLD, Deborah Colker fala de seu espetáculo que estreiou na Alemanha, discorre sobre a construção de seu imaginário coreográfico e mantém-se discreta em relação ao projeto agendado para a Copa de 2006.
O espetáculo Nó, da Companhia de Dança Deborah Colker, que teve sua estréia mundial neste mes (5/5), em Wolfsburg. Este “nó”, conta a coreógrafa, refere-se às amarras do desejo, que prendem e libertam.
Com 16 bailarinos, incluindo a própria Deborah, o espetáculo promete ser “ao mesmo tempo violento e delicado, brusco e sensível, chocante e amoroso, onde a dramaturgia se torna evidente”. Os figurinos são do estilista Alexandre Herchcovitch, que foi há pouco, ao lado de Deborah, foco do documentário És Tu Brasil, de Murilo Salles, um portrait do trabalho de quatro artistas brasileiros fora do país.
Parceria – Nó tem sua estréia dentro do Festival Internacional de Dança Movimentos, que acontece durante 31 dias em Wolfsburg, a terra da Volkswagen. A produção é fruto de uma parceria entre a Companhia de Dança Deborah Colker e a cidade, tendo sido criada ao longo dos dois últimos anos.
Depois dos vasos que a coreógrafa espalhou pelo palco em 4 por 4, seu último espetáculo visto na Alemanha, Nó traz um emaranhado de 120 cordas, manipuladas através de uma técnica que permite o controle da dor, do movimento e do prazer. O título remete às amarras do desejo, que ao mesmo tempo libertam e prendem.
Equipe binacional – Em relação ao espetáculo que a imprensa alemã divulga sob o título Maracanã, Deborah prefere se calar. “Ainda é cedo para falar deste projeto, que inclusive não terá este nome”, diz. As informações oficiais da organização da Copa do Mundo de 2006 são as de que o espetáculo, reunindo 11 bailarinos alemães e 11 brasileiros, deverá ser um dos pilares da programação cultural do campeonato mundial de futebol. É esperar para ver.
Leia aqui a íntegra da entrevista com Deborah Colker:
No próximo dia 5, você estréia “Nó”, em Wolfsburg, na Alemanha. Em janeiro de 2006, um espetáculo com referências ao futebol, à Copa do Mundo, em Hamburgo. Seu trabalho conta com uma excelente recepção na Alemanha. Qual é sua ligação com o país?
Já tive a oportunidade de apresentar meus trabalhos em várias cidades da Alemanha. Em algumas, como Hamburgo, levei todo o meu repertório. Também fui chamada para montar meu espetáculo Casa para a Komische Oper em Berlim e fiquei quatro meses indo e vindo. Viajo para a Alemanha com os meus trabalhos desde 1996. Gosto muito dessa troca, acho que é rica para ambos. A Alemanha é um país que tem uma história antiga e uma nova também, me identifico com isso.
A imprensa alemã, quando fala de seus espetáculos, costuma acentuar o domínio sobre o “vocabulário das acrobacias” e associar isso ao “espírito brasileiro”. No Brasil, credita-se a seu trabalho referências européias. O que você diz disso?
Não me lembro de nenhum comentário a respeito de referência européia no meu trabalho. As misturas na minha linguagem são sempre bem-vindas. Esta questão da movimentação acrobática acredito que está mais dentro da própria linguagem contemporânea. A movimentação contemporânea busca novos eixos para a dança, novos vocabulários, novos limites para o desafio do corpo e, principalmente, novas experimentações entre corpo e movimento.
Às vezes creditar esta pesquisa de movimento como vocabulário acrobático pode ser por resultar uma dinâmica vigorosa, explosiva e aparentemente não tendo um repertório ligado à dança, mas isso é só nomenclatura. Dança é se expressar através do movimento e se comunicar com o público com emoção, inteligência, simplicidade e síntese.
O material de divulgação sobre “Maracanã”, consta que o conceito “futebol” vai ser interpretado de uma forma completamente nova. Em que se sentido vai se dar essa nova interpretação?
Ainda é cedo para falar deste projeto, que inclusive nem terá este nome.