Herbert de Souza
Herbert José de Souza ficou conhecido em todo o Brasil no final dos anos 70 como o ‘irmão do Henfil’, símbolo da anistia que marcaria o fim da ditadura militar nos anos seguintes, nos versos de O bêbado e o equilibrista, música de Aldir Blanc e João Bosco. Na década de 90, o sociólogo passou a ser conhecido popularmente como Betinho, artífice da Ação da Cidadania contra a Fome e pela Vida, entidade que apontou caminhos para a luta da sociedade civil organizada no país, seja pela alimentação dos desvalidos, seja pela reforma agrária, seja a favor da ética na política. Hoje, oito anos após a sua morte por complicações decorrentes da Aids, Herbert de Souza poderia até ganhar mais um nome, Cidadania, valor social que o mineiro de Bocaiúva ajudou a incorporar na vida do povo brasileiro.
Para relembrar a vida de Betinho e sua luta por várias causas sociais, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) – que teve o sociólogo como um dos fundadores, em 1981 – prepara uma série de eventos Conversas com Betinho, que inclui seminários, debates em escolas, lançamentos de publicações especiais e do site (www.conversascom betinho.org.br) – lançado na sexta-feira -, além de um documentário, realizado pelo sobrinho de Betinho, Marcos Souza, e um registro em vídeo feito pelo cineasta Zelito Vianna, em 1993. As homenagens seguem até 3 de novembro, data em que Herbert completaria 70 anos.
– O maior mérito do Betinho foi a capacidade de mobilizar pessoas e entidades em torno de causas que na época eram tabus e mais tarde foram incorporadas pela sociedade – diz a diretora do Ibase, Dulce Pandolfi, que organiza com a pesquisadora Luciana Heymann um livro contendo o arquivo de imagens, projetos, charges e correspondências do sociólogo. Este livro, após seu lançamento, será doado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas.
Outro importante arquivo sobre Betinho será exibido por Zelito Vianna durante a homenagem organizada pelo Ibase. O diretor de filmes como Villa-Lobos – Uma vida de paixão e Avaeté recuperou um registro feito em vídeo por ele mesmo durante um ato contra a fome realizado no Teatro Municipal do Rio, em 1993.
– Tinha documentado o evento com uma câmera beta, mas um incêndio no laboratório destruiu quase todo o material, só consegui salvar uma fita VHS de trabalho. A partir dela, fiz uma edição no material bruto, que deve render pelo menos uma hora de imagens. Há muita coisa boa, como o Betinho cantando Apesar de você, acompanhado pelo Guinga ao violão – adianta o cineasta, para quem o vídeo tem valor documental e não pode ser encarado com uma obra fechada.
Vianna acredita que o grande legado do homenageado foi apontar formas de articulação para a sociedade civil que independem da ação do governo:
– Ele encarnava o terceiro setor. Não era público, nem privado. Era um santo no sentido amplo do termo. Ele mobilizou a sociedade em ações de caráter emergencial que jamais poderiam ter se transformado em campanhas de governo, já que o Estado tem outras funções.
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