Cultura – Fomentar, fomentar, fomentar

 

 

 

 

 

A cultura é absolutamente transversal, porque está presente em todas as áreas da administração, do governo, das universidades, enfim, de toda a sociedade. Nesse sentido, temos de buscar elementos mais objetivos e diretos para uma discussão sobre a questão cultural. Podemos partir da reflexão sobre a participação do privado e do público, do Estado e da sociedade, e tentar entender a importância da administração da cultura – se é que a cultura é administrável no sentido tradicional do nosso entendimento.

 

Meu primeiro ponto é a relação entre cultura e educação. Há um divórcio que separa essas duas categorias de forma bastante danosa. Elas se confrontam como se fossem duas realidades diversas e antagônicas e disputam espaços de maneira bastante desigual. Como a educação tem um peso e um fundamento, inclusive na própria legislação, a questão da cultura fica desvirtuada, deixada de lado, como se fosse uma coisa à parte da educação. Esse entendimento me parece perigoso. No passado, o Ministério da Educação, que é conhecido como MEC até hoje, era também da cultura. Quando a administração da cultura saiu do âmbito do MEC , ela não foi acompanhada daquele suporte financeiro que estava por trás da educação, que tem sua cota constitucional estabelecida. Em função disso, a cultura foi buscar meios para seu financiamento. E onde a administração da cultura busca recursos? Sobretudo na iniciativa privada, através de leis de incentivo, ou nas empresas públicas, que são as principais ‘financiadoras’ no País hoje.

 

Na prática vemos Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, enfim, estes são os grandes financiadores da cultura no País usando esses“patrocínios” como elemento de marketing. A Petrobras com freqüência se apresenta como a maior financiadora da cultura no Brasil. Eu não sei até que ponto isso é válido, porque, a rigor, a Petrobras tem como obrigação principal cumprir o seu papel de grande empresa de tecnologia no campo energético. Mas o fato é que o financiamento da cultura acaba entrando como uma espécie de complemento numa perspectiva de marketing, o que é pouco para garantir a sua manutenção no País. A questão toda passa pela distribuição de recursos do Estado. Sem dúvida, a cultura tem de ter suportes mais claros do Estado. Isso implica no entendimento de não só preservar a identidade nacional, mas também de valorizar os artistas que estão criando. Além disso, a cultura tem outro papel importante, separado do primeiro, que é o de ferramenta de mudança, de transformação, de melhoria, de valorização do ser humano.

 

No que diz respeito a adminitração cultural, o Estado tem um papel muito claro no meu entender: garantir infra-estrutura e fomentar, Mais do que financiar, fomentar, fomentar. Em fomento, cabe muita coisa, inclusive realizar eventos. Porém, insisto, isso é complementar. O importante é infra-estrutura e fomento–isso do ponto de vista da administração pública.

 

Com relação à atuação do Sesc, especificamente, tenho algo a dizer: lá procuramos não trabalhar no sentido de substituir a administração pública. Porque não se trata disso. Em cultura, não cabe esse lado concorrencial que há na administração das empresas, no mundo econômico. Com muita freqüência vejo a lógica empresarial tentando se aplicar nesse campo. É um equívoco. Cultura e educação são facetas da mesma realidade, do mesmo fato em si. Agora, cultura e economia são coisas diferentes. Entretanto, cabe ressaltar, a economia da cultura é uma parte muito importante sobre a qual a administração pública deveria se debruçar numa perspectiva, aí sim, de indústria, de desenvolvimento, de exportação, com cálculos bastante objetivos. . Mas isso nada tem a ver com a cultura como instrumento de transformação da sociedade.”

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