Comédia “Bendito Fruto” diverte com estereótipos

Criativo, esperto e cheio de ritmo,
“Bendito Fruto”, filme de Sérgio Goldenberg, cumpre sua função
e arranca gargalhadas, revelando um diretor que soube conduzir
como um bom maestro a fina orquestra de atores composta por
Otávio Augusto, Zezeh Barbosa, Vera Holtz, Eduardo Moscovis,
Camila Pitanga e uma surpreendente Lúcia Alves.

Não por acaso, Lúcia e Zezeh levaram os troféus de melhor
atriz no Festival de Brasília, nas categorias coadjuvante e
principal, respectivamente.

Com roteiro do próprio Goldenberg e Rosane Lima, “Bendito
Fruto” rompe uma espécie de círculo vicioso das comédias
recentes do cinema brasileiro, diversificando o gênero ao
compor um filme de classe média em que os personagens parecem
realmente de carne e osso e fugindo aos muitos estereótipos da
comédia televisiva, que geralmente aposta num humor ralo e, não
raro, com piadas de baixo nível — como “Sexo, Amor e Traição”
e “Avassaladoras”.

Melhor ainda, a comédia de Goldenberg não só foge desse
formato televisivo, mostrando amplos planos do Rio de Janeiro,
como até satiriza as novelas, embora não conteste o inegável
amor que o público brasileiro tem por elas.

A dramaturgia esquemática e adocicada das novelas, aliás,
forma um delicioso contraponto da trama. Todos os personagens
do filme adoram assisti-las, sonhando com o romance complicado
do galã (Eduardo Moscovis) com duas gêmeas.

A família central de “Bendito Fruto”, porém, é formada pelo
cabeleireiro Edgar (Otávio Augusto) e sua empregada (Zezeh
Barbosa), que é na verdade sua mulher, mas ele se recusa a
assumir o caso. Os dois têm um filho que mora na Espanha e que
não sabe que Edgar é seu verdadeiro pai.

Para complicar, aparece na vida de Edgar uma velha colega
de colégio (Vera Holtz), agora viúva e disposta a tudo por uma
nova paixão.

O ponto forte de “Bendito Fruto” é somar a esse triângulo
amoroso ingredientes mais polêmicos, como menções ao racismo.

Tocando nestes assuntos com leveza mas sem concessões, a
comédia mostra que é possível ser inteligente e popular sem
cair no grotesco.

(Neusa Barbosa, do Cineweb, especial para a Reuters)

Fonte: Reuters

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