Brasil & África – União

 

 

 

 

 

“Olá pessoal, eu sou o Ildo, tenho 13 anos de idade. Eu gostaria de saber sobre a vida no Brasil. Eu também gostaria de mostrar-vos a nossa cultura. Chama-se Ngozi um instrumento musical”. Trechos como esse estão em cartas que crianças da África portuguesa vêm enviando às crianças do Brasil. A correspondência faz parte de um projeto para ensinar mais a cada uma delas sobre a cultura que está do outro lado do Atlântico.

 

A troca faz parte do projeto Brasil-África, desenvolvido pela Organização Social Civil de Interesse Público (Oscip) Imagem da Vida, com apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Não só cartas, entretanto, são enviadas ao outro continente: as crianças carentes de 10 a 14 anos que fazem parte do projeto também retratam suas realidades através de fotografias que elas mesmas tiram.

 

A ministra da Seppir, Matilde Ribeiro, diz que é preciso, de fato, unir forças para conquistar o desenvolvimento. “É fundamental que Brasil e África, unidos tragicamente no passado pelas correntes da escravidão e do aparato comercial que se instalou para fomentá-la, agora dêem as mãos para encararem juntos o trabalho de regaste das nossas histórias, similaridades e desafios para o crescimento de nossas populações”, afirma.

 

O projeto-piloto começou em outubro de 2004, envolvendo cerca de 200 crianças. Para participar na fase inicial, foram escolhidas quatro escolas, duas em favelas, outras próximas a um lixão, em duas cidades do Brasil e da África: Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS), e Cabinda (Angola) e Maputo (Moçambique).

 

Cabinda é uma província de Angola, com 1,5 milhões de habitantes, rica em petróleo e madeira. Lá, as crianças são alfabetizadas em português, mas a população tem uma língua própria, o Ibinda. O lixão de Maputo, capital de Moçambique, outro lugar escolhido para o projeto, fica na periferia, no bairro chamado Hulene, e seus habitantes vivem da coleta de lixo.

 

História

A presidente da Oscip Imagem da Vida, Dirce Carrion teve que vender seu carro e usar suas economias para dar o pontapé inicial no projeto. Gastou cerca de R$79 mil para cobrir todas as despesas que incluíam viagens, material escolar, máquinas fotográficas, revelação de filmes e oficinas com as crianças e a edição e impressão de um livro onde as cartas e fotos foram publicadas. Assim mesmo, todos os profissionais envolvidos no projeto, entre fotógrafos, educadoras e auxiliares, trabalharam voluntariamente.

 

Finalmente, as fotos e cartas que chegaram ao Brasil vindas da África, contando o dia-a-dia de lá e fazendo perguntas sobre o país do futebol, encontraram, do lado de cá, brasileirinhos curiosos e cheios de histórias para contar. Todo o material produzido pelas crianças que atravessou o oceano foi editado e lançado em livro durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. O nome da Obra é “Brasil-África Olhares Cruzados”, com 96 páginas que se dividem entre textos, fotos, poesias e cartas.

 

Agora, a Seppir pretende articular entre o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Cultura (MinC) a ampliação do projeto para todos os países de língua portuguesa. Com isso, o MEC poderá avaliar o ensino da língua portuguesa nesses países e o MinC poderá atuar nas trocas de informações culturais e sobre as raízes africanas.

 

No dia da África, 25 de maio, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), a Imagem da Vida e a Seppir pretendem publicar em alguns jornais brasileiros 50 cartas de crianças africanas. As crianças brasileiras que quiserem participar do projeto devem endereçar suas cartas para a redação dos jornais. As cartinhas serão analisadas por educadores e depois seguirão para a África.

 

18/07/07

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