14/12/1956 – PORTA-AVIÕES MINAS GERAIS

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A aquisição do porta-aviões Minas Gerais pela Marinha do Brasil, no final do primeiro ano de mandato do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956), provocou inúmeros e acalorados desencontros de opiniões. Um deles, descrito em várias fontes disponíveis na internet, revela que “Sob forte oposição de setores das Forças Armadas, Juscelino achou prudente atender a uma reivindicação da Marinha e da Aeronáutica – e autorizou a compra do porta-aviões inglês Vengeance, que no Brasil foi rebatizado Minas Gerais.

 

Custou 82 milhões de cruzeiros. ‘Se o preço da submissão da Marinha à Constituição é o porta-aviões – ponderou JK -, acho que vale a pena”.

 

“Mas logo se deu conta de que as coisas não correriam exatamente conforme planejara. Para começar, o compositor e cantor Juca Chaves glosou o acontecimento em uma marchinha cujos versos diziam a certa altura: – Brasil já vai à guerra / comprou porta-aviões / Um viva pra Inglaterra / de 82 milhões. / –  Ah, mas que ladrões!”

 

“E foi o de menos, a irreverência do menestrel. Longe de aplacar os ânimos dos militares, o Minas Gerais veio abrir uma crise entre a Aeronáutica e a Marinha, que disputavam o direito de controlar os aviões embarcados. A pendenga se arrastaria até 1964, quando o governo Castelo Branco deu ganho de causa à Aeronáutica”.

 

O NAeL Minas Gerais (Navio-Aeródromo Ligeiro) foi o terceiro navio da Marinha de Guerra do Brasil a ostentar esse nome (antes, dois encouraçados, um em 1906 – não concluído -, e outro em 1908 – desativado e desmanchado em 1953 -, haviam recebido a mesma denominação. Construído no Reino Unido entre 1942 e 1945, o HMS Vengeance (seu nome original), pertencia à Classe Colossus, a mais numerosa família de porta-aviões da Grã-Bretanha (treze unidades ao todo), incluída, inclusive, no plano de construções navais de tempo de guerra dos britânicos, durante a II Guerra Mundial. .Essa grande e majestosa arma naval tinha 212 metros de comprimento, capacidade para 1.300 homens, podendo transportar até 14 aeronaves entre aviões e helicópteros.

 

Vendido pela Marinha Real Britânica, o porta-aviões rebatizado com o nome de Minas Gerais foi modificado e modernizado na Holanda, sendo-lhe adicionado, então, entre outros melhoramentos, um convés de vôo em angulo de 8.5 graus, e uma catapulta a vapor para permitir o lançamento de aeronaves mais pesadas (até 13.640kg). Finalmente incorporado à Armada Brasileira em 08 de dezembro de 1960, ele passou a ser utilizado como base para aeronaves adaptadas à vigilância do litoral brasileiro e atividade anti-submarina, função da qual não se afastou durante praticamente toda a sua vida operacional.

 

Sua aquisição havia provocado grave crise entre a Marinha do Brasil, que reivindicava o controle da aviação embarcada, e a Força Aérea Brasileira, que discordava dessa possibilidade. Tanto que criou, em 06/02/1957, o 1° Grupo de Aviação Embarcada, organizado inicialmente com dois esquadrões – um de caça e outro de patrulha -, cuja finalidade seria a de guarnecer navios-aeródromos da Marinha. Somente em agosto de 1964 o então presidente Hugo de Alencar Castelo Branco colocou ponto final nessa divergência, ao decidir que pertenceria à FAB a posse das aeronaves embarcadas.

 

Mas apesar das modernizações que recebeu posteriormente, suas máquinas só lhe permitiam navegar a uma velocidade máxima de 24 nós, o que o deixaria mais lento cerca de três a quatro nós em relação ao que seria necessário para a plena operação dos aviões modernos como os A-4 Skyhawk. Por isso, no período entre final da década de 1990 e início dos anos 2000, o Brasil tinha acertado com a França a aquisição do porta-aviões Foch (rebatizado como NaeL São Paulo), da classe Clemanceau, desativado pelos franceses após a entrada ao serviço do seu novo porta-aviões nuclear “Charles De Gaulle”. Esta transferência acabou selando o destino do Minas Gerais.

 

Desativado em 9 de Outubro de 2001, o Minas Gerais foi colocado em leilão no ano de 2002. Um grupo britânico interessou-se em salvá-lo para transformá-lo em museu histórico-temático flutuante sobre a história da aviação naval, já que se tratava do último navio da classe Colossus ainda em funcionamento, mas seus esforços não tiveram sucesso. Entre os doze participantes do pregão de venda, a maioria tinha como intenção transformá-lo em sucata, reciclando o aço de seu casco. Ao final dessa sessão de venda, o navio foi arrematado por 2 milhões de dólares norte-americanos por uma empresa de eventos e navegação de Xangai, na China, para onde a embarcação foi transportada. Mas a alteração dos planos da nova proprietária provocou mais uma troca de dono do antigo porta-aviões, que acabou sendo desmontado como sucata em Alang, na Índia.

 

 

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