Da mesma maneira que a “pátria de chuteiras” se permite um vale tudo para vencer, as gravadoras atacam na área com compilações oportunistas de samba e afins na cola da Copa do Mundo. É no mínimo ingênuo achar que seria diferente. Aí abundam os clichês nos textos publicitários e pseudocríticos: afinal, é uma oportunidade de ouro para se associar música e futebol como os maiores orgulhos nacionais, blablablá… Agora, o repertório escalado (com o perdão da metáfora “lulante”) para as tais coletâneas está longe de bater um bolão (hum…). Está mais para motivo de vergonha nacional. Mas é claro que muitos incautos vão cair nas armadilhas desta temporada de “todos juntos num só coração”.
Para quem não agüenta mais ver a cara do Ronaldinho Gaúcho em tudo que é anúncio de futilidades, SambaGoal (Universal) tem esse agravante na capa. E ele ainda divide os vocais com um tal grupo Sambatri na faixa de abertura, Goleador. Além disso, a gravadora usa como trunfo o fato de o próprio jogador ter escolhido o repertório. Dá para acreditar? A mistureba tem Ivete Sangalo, Babado Novo, Jeito Moleque, MC Leozinho, Zeca Pagodinho, Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Gilberto Gil, Tamba Trio. As faixas que se salvam são Deixa a Vida me Levar, Meia-Lua Inteira, Taj Mahal, Chiclete com Banana e Mas Que Nada, interpretadas pelos últimos quatro, mas obviamente não valem o investimento.
A mesma Universal mandou ver outra compilação só de Ben Jor (Football & Samba Groove), com alguns clássicos relacionados ao tema, como Ponta de Lança Africano (Umbabaraúma), Camisa 10 da Gávea, Filho Maravilha (Fio Maravilha) e Zagueiro, o que já melhora bastante o panorama. Outras, porém, apesar de também boas e animadas, entraram meio na forçação de barra. A dupla de emboladores Caju & Castanha, que já lançou um CD temático no ano passado, Embolando no Futebol, ressurge com outro bem inferior, Levante a Taça (Trama). São melodias forçadas, arranjos pasteurizados, forrozinhos e emboladas recheados de letras ufanistas, repetitivas e pitadas de humor machista porno-escatológico (A Copa do Perna de Pau x Perneta). Há quem ache graça nisso, mas ô preguiiiiça que dá…
De Hexa Brasil! (EMI) só o que segura a onda é Levada Brasileira, de Daniela Mercury, que abre o CD num misto de capoeira, samba e eletrônica e foi hit absoluto do último carnaval baiano. O resto é a sucata do axé (Harmonia do Samba, É o Tchan e similares), brega de toda espécie (Latino, Frank Aguiar) e até uma armação chamada Hexageradas (atenção para o trocadilho “ishperrrto”) da Copa.
Visando ao mercado internacional como o Samba Goal, a Warner lançou Play Brazil, outro vexame em verde-e-amarelo. O CD abre com a simpática Balé de Berlim, de Gilberto Gil, segue com regravações ruins de temas ligados a outras Copas, mistura O Rappa, Jorge Ben Jor e Waldir Azevedo. Mas o que pega é a capa apelativa: um trocadilho com pelada? Como disse o colega Juca Kfouri, assim fica difícil combater o turismo sexual.
Lauro Lisboa Garcia