Um tempo para pensar

 

 

 

 

Desde o fim de fevereiro na presidência da Fundação Nacional de Arte (Funarte), Celso Frateschi ainda está se ambientando com o trabalho. Ator da novela Paixões proibidas (na qual também atua o ex-presidente da Fundação, Antônio Grassi), da Record, Frateschi divide o tempo entre os inúmeros projetos pessoais em São Paulo e a gestão da instituição vinculada ao Ministério da Cultura. “Pedi o prazo de um mês para me desligar dos compromissos pessoais. Estou numa época de muito trabalho e com dificuldade de tocar tudo ao mesmo tempo”, comenta o presidente, que também foi diretor de teatro da Universidade de São Paulo (USP).

 

Ainda surpreso com a indicação para a presidência do órgão, Frateschi afirma que acredita nas gestões do ministro Gilberto Gil e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso, espera encontrar no governo o grande parceiro para os projetos desenvolvidos por ele. “Só me interessa participar de ações que sejam coletivas. Há algum tempo não acredito em trabalhos individuais. Então, quero comprometimento do governo federal e do Ministério da Cultura para todas as ações da Funarte”, avisa o presidente, que garante não ter pretensões de ter autonomia administrativa para a realização de atividades pela Funarte. “A pior coisa que pode acontecer para a cultura do país é ter carta branca. Na minha opinião, ela significa descomprometimento do governo. Pelo contrário, quero ajustar as minhas propostas ao programa nacional”, destaca.

 

Com muitos planos na cabeça, Frateschi pretende dar continuidade às ações iniciadas na gestão de Grassi. “Ainda não tenho nada para apontar oficialmente, mas posso adiantar que muitos projetos permanecerão. Prêmios como o Myriam Muniz continuarão existindo”, diz o presidente da Funarte, que não descarta uma possível alteração de alguns aspectos dos editais. “Eles poderão sofrer modificações para se adaptar ao modelo de gestão do ministro Gil”.

 

Segundo Frateschi, as principais diretrizes de sua gestão devem ser decididas no fim deste mês e os editais serão lançados até o começo de maio. “A verba que recebemos de patrocínios, como o da Petrobras, é praticamente do mesmo valor que recebemos do governo. Os patrocinadores ainda são os grandes colaboradores para o desenvolvimento da cultura”, ressalta.

 

Com mais de 30 anos de carreira, Frateschi já teve experiência à frente da Secretaria de Cultura de Santo André, durante a gestão de Celso Daniel e no começo da administração de João Avamileno, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT). Na cidade de São Paulo, foi diretor do Departamento de Teatro e secretário de cultura, tendo apostado no fomento à produção teatral e no desenvolvimento de políticas que levaram cultura à periferia. “Evidentemente, a Funarte tem um foco muito diferente de uma secretaria, mas quero trabalhar de acordo com a metodologia utilizada em São Paulo. A gente não pode encarar a cultura como um gueto ou um primo pobre, que fica quieto no seu canto reclamando que tem pouco dinheiro. Temos, sim, que ter a atitude de propor coisas concretas ao governo e trabalhar também em parceria com outros ministérios, como o da Educação, do Turismo, do Desenvolvimento Social”, comenta.

 

Apesar de estar há três semanas à frente da Funarte, Frateschi afirma que ainda não sabe, com clareza, das dificuldades que pode enfrentar pela frente. “Tenho idéia de quais serão os problemas mais genéricos, como a dimensão do país. Mas também acredito ser um grande desafio recuperar o status da própria instituição. Desde o governo de Fernando Collor, a Funarte foi muito desvalorizada. O Grassi conseguiu essa retomada e eu quero continuar com a luta”, conta.

 

Outra aposta do presidente é tornar as programações dos espaços culturais da Funarte de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília mais dinâmicas. “Ainda não tenho nada definido completamente. Algumas salas estão fechadas, outras estão cedidas. Meu propósito é que esses espaços passem a cumprir a verdadeira missão da Funarte e possam ser elementos ativos no processo de melhoria das condições culturais do país”, analisa. Enquanto os editais não são lançados, os espaços físicos da Funarte continuam com programações rotineiras .

Caroline Lasneaux

26/03/07

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