A proposta do ministro das Comunicações, Hélio Costa, de criar uma rede de TV do Executivo, já apelidada pela oposição de TV Lula, tem mais críticos dentro do próprio governo do que se imaginava. Para técnicos do Ministério da Cultura, ao lançar a idéia, Costa acabou atropelando uma discussão ampla, que a Cultura desenvolve desde o ano passado, sobre a criação de uma rede pública de televisão. O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, já havia reagido com surpresa ao projeto do ministro das Comunicações.
Embora não admita publicamente, o ministro interino da Cultura, Juca Ferreira, está disposto a se distanciar da idéia de criação de uma TV estatal destinada a divulgar políticas do governo federal. “Reconhecemos o direito de o governo ter uma estrutura para se comunicar com a população diretamente. Mas o que nós discutimos no ministério é um projeto de TV pública”, afirmou.
Ferreira informou que ainda não conversou com o colega das Comunicações e espera que, em reunião prometida por Lula para debater o assunto, a proposta seja esclarecida. “Uma reunião é a busca de entendimento, de compreensão, de esclarecimento”, alegou. “O que está nos jornais é confuso. Mistura as duas coisas. Por isso, não tenho condições de me posicionar tão claramente.”
O Ministério da Cultura vem trabalhando com diversos setores da sociedade na construção de uma proposta de criação de uma rede de TV pública em tecnologia digital, destinada exclusivamente à difusão de conteúdo educativo e cultural de interesse da sociedade, com autonomia de gestão.
FÓRUM
A discussão já cumpriu três etapas, com encontros de todos os setores envolvidos em grupos de trabalho. Em maio, está prevista a realização do 1º Fórum Nacional de TVs Públicas no País.
Com a tecnologia digital, será possível ampliar o número de canais disponíveis. Onde opera um canal analógico atualmente, poderá haver até quatro programações em sinal digital.
A questão é que, para migrarem para o novo sistema, asemissoras públicas, educativas e culturais precisarão de apoio federal. O que se teme é que o governo abrace a idéia de criar a TV Lula e não mova esforços pela criação da rede pública.
Ferreira afirmou que está disposto a discutir uma alternativa intermediária entre as duaspropostas. “Uma coisa não implica necessariamente a atrofia da outra. Nós achamos até que pode se pensar em uma infra-estrutura comum”, frisou.
O ministro interino da Cultura ressalva, porém, que “seriam canais diferentes com finalidades diferentes, com conteúdos e modelos de gestão diferentes”.