“Terezas” traça linha sutil pela biografia e pelo romance

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Por Hugo Viana

“Quando virei secretário de Comunicação em Olinda, conheci Tereza melhor, em 2001 ou 2002. Comecei a frequentar a casa dela, almoçava com ela. Ela meio que me adotou, como amigo e neto postiço”, lembra o autor, sobre a pintora pernambucana. “Em determinado momento, eu disse que ia escrever um livro sobre ela, uma biografia, mas ela não queria. Queria que fosse um livro de arte. Mas eu insisti, eu a entrevistei umas 12 ou 13 vezes”, diz Inácio, que também é jornalista.

“Conversei também a filha dela, Maria Tereza, e as histórias divergiam. O ponto de vista da filha era mais cartesiano, com datas, detalhes. A mãe dava uma versão melhor do que o factual. Então percebi que não queria mais escrever uma biografia. Virou ficção a partir dessa convivência. Eu gostava mais da ficção que a artista plástica contava. E depois eu recontava do meu jeito. Ela me deu essa liberdade de escrever uma ficção sobre a vida dela. Quando me autorizou, continuei a conversar, mas sem a obrigação do gravador”, diz Inácio.

O livro então confunde classificações, desafia gêneros, ocupa uma região de fronteira imprecisa entre perfil, crônica e romance. “São histórias que não sei se são reais ou não”, diz o autor. “Optei por esse formato de novela, o romance curto. Desde o início dizia que não queria escrever um ‘tijolo’. Não queria saciar o leitor, queria deixar um gosto de quero mais”, ressalta Inácio, que narra a história de Tereza entre os anos de 1962 e 1979, abordando o período da ditadura militar.

O romance nasceu da proximidade com Tereza e da própria experiência pessoal do autor. “Ia muito ao ateliê dela. Eu a vi pintando o quadro ‘Sete luas de sangue’. ‘Mulheres de Tejucupapo’, um mural enorme de 12 metros de comprimento, vi nascer na casa dela. Também li sobre o movimento comunista, a biografia de Carlos Marighella. Como fui militante do PCB, já sabia dos procedimentos internos do partido comunista. Fiz parte também de movimentos estudantis, então pude recriar a partir da memória”, explica.

O título do livro indica a perspectiva do autor sobre a protagonista. “‘Terezas’ é a pluralidade dela. Ela foi filha de senhor de engenho, criada para ser a daminha da casa. Era casada com juiz, mãe de duas filhas e deixou tudo pra viver na clandestinidade. Deixou a casa que tinha com 11 criados e virou militante, com outro nome, abandonou ‘Terezinha’. Adotou o nome ‘Joana’. Quando seu companheiro morreu, em 1979, ela se tornou Tereza”, diz Inácio.

“Ela foi uma mulher que viveu essas vidas de maneira intensa. Finalmente virou Tereza, uma pintora que não quer ficar à margem de nenhum homem”, detalha. “Ela teve a coragem de aos 30 e poucos anos se desviar do mundo do Espinheiro, Graças e Casa Forte do Recife dos anos 1960. O jornalismo não dá conta dessa história, fica apegado aos detalhes da verdade, dos documentos. O livro busca os sentimentos que moveram a mulher a fazer isso”, ressalta.

Lançamento em São Paulo

Local: Livraria Patuscada – Rua Luis Murat, 40
Horário: 20 horas
Data: 20 de setembro

Fonte: FolhaPE

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