Por Verônica Maia*
Um dos grandes desafios do Brasil nos dias de hoje é oferecer educação de qualidade aos seus cidadãos de maneira universalizada, e com o objetivo de promover inserção social, qualidade de vida adequada e de incentivar a criação de alternativas de geração de renda à população no século XXI. Em busca de respostas para esse desafio, o Currículo da Educação Básica, a partir da Lei 9.394/96 – que determina as Diretrizes Curriculares Nacionais e instituiu os Parâmetros Curriculares Nacionais -, fundamenta-se numa proposta pedagógica que tem como eixo metodológico a ênfase nas aprendizagens significativas e o desenvolvimento de habilidades e competências que pressupõem disponibilizar, na estrutura cognitiva, recursos mobilizáveis, objetivando um agir eficiente em situações complexas na vida da pessoa.
A partir dessas diretrizes, a escola viu-se confrontada com a tarefa de abandonar uma educação enciclopédica e atemporal. Viu-se, portanto, diante do desafio de voltar-se para uma educação substancial, essencial, com a atenção dirigida ao seu contexto histórico-social e que desenvolve o saber-ser, o saber-fazer e o saber-estar. Um compromisso que deve englobar a ética, os valores, os comportamentos, as artes, as ciências, as tecnologias, as profissões, a ecologia e os princípios básicos de dignidade da pessoa humana, igualdade de direitos, participação e co-responsabilidade pela vida social.
Nessa nova feição da educação brasileira, ainda que a maioria das escolas encontre dificuldades para torná-la realidade, o Ensino Médio passa a assumir o caráter de terminalidade em sua competência de preparar o aluno para exercer com autonomia as potencialidades humanas.
O teatro na escola oferece uma bela possibilidade de colocar em prática os preceitos adotados para o ensino básico no Brasil. Ele congrega interesses para a realização compartilhada de um objetivo em que a experiência de vida de cada um é relevante; ensina a processar informações recebidas de fontes variadas e aplicá-las com um propósito orientado; promove a investigação de novas possibilidades, a noção de processo e de qualidade, o trabalho em equipe e a superação de obstáculos como a construção da narrativa, a relação consigo mesmo e com o outro, o uso da voz, a interpretação do texto, a comunicação de uma mensagem; além de todas as questões práticas de confecção de cenários, figurinos, iluminação, sonoplastia, que se comunicam com outros saberes.
Adolescentes e jovens têm no teatro um espaço de fala que, na maioria das vezes, inexiste na escola. O palco é um território livre onde qualquer idéia, tempo ou personalidade pode ser exposta sem acarretar punições comuns na vida real por conta do distanciamento que a ficção proporciona. Essa situação é fundamental para o desenvolvimento de uma reflexão crítica, e contribui para satisfazer a busca de experiências característica da adolescência.
Por fim, todos os esforços empregados no fazer teatral culminam com uma apresentação que concretiza-os e todos sentem-se orgulhosos consigo mesmos por terem se permitido participar. O jogo teatral estimula o auto-conhecimento e eleva a auto-estima. É um movimento de re-significação do lugar do indivíduo no todo, no ambiente em que está inserido; uma experiência individual e coletiva que coloca os indivíduos em contato, para fazê-los existir em uma outra dimensão, ampliada. Além de um exercício útil para toda a vida, é adequado à situação de carência de recursos financeiros e abundância de recursos humanos no Brasil.
* Verônica Maia é atriz, graduada em antropologia pela UnB, idealizadora e Coordenadora Geral do Festival BrasilTelecom de Teatro na Escola, realizado há cinco anos pela Fundação Athos Bulcão.