REVOLTA DA CHIBATA

 

Mesmo depois da Lei Áurea ser assinada o tratamento para os marinheiros era de escravidão. Quando o torturador açoitava o marinheiro, amarrado e desprotegido, chegava a arrancar pedaços de sua carne.

 

Era uma época em que a marinha era tida como órgão disciplinador. Seus marinheiros eram homens indicados pela polícia (desocupados, malfeitores e criminosos).

 

Em viagem à Inglaterra (possuidora da marinha melhor organizada e aparelhada do mundo) para aprender a lidar com novas embarcações e armamentos, marinheiros brasileiros conheceram o politizado proletário inglês e revoltas que garantiram boas condições de trabalho aos tripulantes da marinha inglesa. Essa viagem fez fermentar nos brasileiros idéias de insubordinação e luta contra suas condições de trabalho.

 

Começaram então a surgir comentários sobre organizações de revoltas. Uma noite, depois de um ritual de açoite no navio Bahia, um bilhete foi encontrado junto à porta do camarote do comandante. Trazia a exigência de que se findassem os maus tratos à tripulação e continha uma ameaça: “Ninguém é escravo de oficiais e chega de chibata. Cuidado.” No fim a assinatura: “Mão Negra”. Era o marinheiro Francisco Dias Martins.

 

A revolta estava combinada, ocorreria no dia 24 ou 25 de novembro de 1910, mas a condenação de um marinheiro a 250 chibatadas, dez vezes mais que o permitido pela legislação da marinha, levou a sua antecipação para o dia 22.

 

Ao ser dado o sinal para o início da revolta os marinheiros se posicionaram sem afobação, cada canhão estava guarnecido por cinco marujos com ordem de atirar para matar contra todo aquele que tentasse impedir o levante.

 

Marinheiros enfrentaram o comandante e seus protegidos em uma luta de canos e baionetas a bordo do Minas Gerais. Terminado o combate no convés, João Cândido, líder da revolta, ordenou que se disparasse um tiro de canhão 47 milímetros como sinal de alerta aos outros navios revoltados. Os holofotes do Minas Gerais iluminaram o Rio de Janeiro. Através do rádio a revolta foi comunicada e se pediu o fim dos castigos corporais.
 
O recrutamento militar

Desde o período colonial, o recrutamento de soldados e marinheiros era feito de maneira particularmente violenta. Para começar, o recrutamento era forçado, arbitrário e recaía sobre pessoas de origem humilde, que não tinham como se defender. Os que dispunham de alguma fortuna compravam sua isenção do serviço militar. Além disso, os homens recrutados eram submetidos a constantes violências, que incluíam desde uma péssima alimentação até castigos corporais.
A rebelião

A Revolta da Chibata ocorreu na Marinha. Em comparação com o Exército, a Marinha era tradicionalmente elitizada, e a distância entre oficiais e marinheiros era muito maior do que a existente entre postos análogos no Exército. Desde meados do século XIX, o tratamento humilhante e violento na Marinha vinha sendo questionado sem nenhum resultado concreto. Com o advento da República, cuja história iniciou-se um ano após a abolição, aquela forma de tratamento que vinha do Império era insustentável. Contudo, foi necessária uma rebelião ameaçadora dos marinheiros para que a Marinha adotasse medidas disciplinares menos brutais.

 

A rebelião ocorreu em 1910. Nesse ano, o marinheiro Marcelino Rodrigues Meneses, que servia na belonave Minas Gerais, fora condenado a 250 chibatadas. Seus companheiros – obrigados, como de costume, a assistir ao castiga – não se contiveram e, na noite de 22 de novembro, se rebelaram. Os outros três navios (São Paulo, Bahia e Deodoro) estacionados na Guanabara aderiram. O líder da revolta foi o marinheiro João Cândido.

 

Embora tenha sido precipitada pelo castigo de Meneses, a revolta já vinha sendo preparada havia muito tempo. Assim, os rebeldes estavam razoavelmente organizados, o que lhes permitiu dominar com rapidez os quatro navios. O comandante do Minas Gerais, Batista Neves, foi morto, juntamente com outros oficiais. Também houve mortes do lado dos marinheiros.
A repressão

O objetivo da revolta era simples, conforme declarou o cabo Gregório do Nascimento, que assumiu o comando do navio São Paulo: conseguir o fim do castigo corporal e melhorar a alimentação.

 

João Cândido enviou pelo rádio uma mensagem ao Catete, ameaçando bombardear a cidade e os navios que não haviam aderido à revolta, caso suas reivindicações não fossem imediatamente atendidas. O presidente era Hermes da Fonseca, recém-empossado.

 

O governo estava sem alternativas, pois os canhões estavam apontados para a cidade. Assim, por iniciativa de Rui Barbosa, na época senador, foi proposto e aprovado um projeto que atendia aos marinheiros e lhes concedia anistia. Com isso, os revoltosos depuseram as armas e se submeteram às autoridades.

 

Porém as concessões do governo ficaram no papel. Os novos comandantes nomeados para os navios revoltados ordenaram a prisão de João Cândido e seus companheiros, muitos dos quais morreram numa masmorra na ilha das Cobras. Desse modo, os oficiais e o governo se vingaram dos marinheiros que ousaram revoltar-se. João Cândido, no entanto, conseguiu sobreviver a todas as atrocidades, sendo enfim absolvido em julgamento realizado em 1912. Conhecido como Almirante Negro, João Cândido faleceu em 1969.

 

 

 

A Revolta da Chibata pode ser encarada como mais um daqueles momentos em que a sociedade, ou pelo menos parte dela, dá um basta aos absurdos cometidos pelo poder instituido.

 

Imagine! 1910 e os marinheiros da Marinha Brasileira eram castigados pelos seus superiores com surras de chibata!

 

Os baixos salários, a péssima alimentação e os castigos corporais vinham a algum tempo gestando a revolta. A condenação do marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes a uma surra de 250 chibatadas precipitou o conflito.

 

Liderados pelo marinheiro negro João Cândido, “o Almirante Negro” como ficou conhecido, os marinheiros rebelados na Baía da Guanabara tomaram quatro dos maiores navios de guerra brasileiros e ameaçaram bombardear a Capital Federal. Exigiam melhor alimentação e o fim dos castigos corporais.

 

Vitoriosos no seu entento, o Congresso Nacional aprovou o fim da chibata. A repressão ao movimento contudo, veio traiçoeiramente. Os rebelados, que haviam sido anistiados pelo Congresso Nacional, acabaram ilegalmente presos pelogoverno – Hermes da Fonseca era presidente – e acabaram muitos deles mortos nas msmorras da ilha das Cobras.

 

João Cândido sobreviveu falecendo na miséria em uma favela do Rio de Janerio no ano de 1969.

 

A canção a seguir foi a homenagem de João Bosco e Aldir Blanc a este herói popular que apesar da repressão e da marginalização impostas pelo Estado, conseguiu seu intento de jovem e a preservação moral de sua imagem.
O Mestre-sala dos mares

Há muito tempo

 

Nas águas da Guanabara

 

O dragão do mar reapareceu,

 

Na figura de um bravo marinheiro

 

A quem a história não esqueceu.

 

Conhecido como almirante negro,

 

Tinha a dignidade de um mestre-sala,

 

E ao acenar pelo mar

 

Na alegria das regatas, foi saudado no porto

 

Pela mocinhas francesas,

 

Jovens polacas

 

E por batalhões de mulatas!

 

Rubras castatas

 

Jorravam das costas dos negros

 

Entre cantos e chibatas,

 

Inundando o coração

 

Do pessoal do porão

 

Que a exemplo do marinheiro

 

Gritava!

 

Glória aos piratas, às mulatas,

 

Às sereias!

 

Glória à farofa, à cachaça,

 

Às baleias!

 

Glória a todas as lutas inglórias

 

Que através da nossa história

 

Não esquecemos Jamais!

 

Salve o navegante negro

 

Que tem por monumento

 

As pedras pisadas do cais…

Saiba mais…

 

Musica rende homenagem ao Almirante Negro

Clovis Moura e a Revolta da Chibata

João candido Heroi da Patria

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