O SAMBA
AS TIAS DO SAMBA:
No Rio de Janeiro a partir de 1850, mais especificamente nas imediações do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá, Praça XI, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária, foi crescendo a população de negros e mestiços oriundos de várias partes do Brasil, principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra de Canudos. Estes últimos viriam a formar uma comunidade que eles próprios denominaram de “Favela” – termo que posteriormente viria a ser usado como sinônimo de construções irregulares das classes menos favorecidas. Um dos principais líderes desse tipo de comunidade pobres foi o músico e dançarino Hilário Jovino Ferreira (1855/1933), responsável pela fundação de vários blocos de afoxés e ranchos carnavalescos. Muitas baianas descendentes de escravos alojaram-se nestes bairros, sendo conhecidas como as Tias Baianas. Inconteste a contribuição das Tias do Samba, como eram conhecidas no final do século 19, para a sedimentação da cultura negra, principalmente com relação ao candomblé e ao samba (amaxixado) desta época. Tia Ciata ou Aciata – Hilária Batista de Almeida – (avó do compositor Bucy Moreira) morou inicialmente na Rua da Alfândega, 304 e posteriormente na Rua General Pedra, Rua dos Cajueiros e mais tarde na Rua Visconde de Itaúna, residindo na Cidade Nova entre os anos de 1899 e 1924. Aciata, Ciata ou mesmo com a grafia Asseata, foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba-carioca. Diz a lenda que um samba para alcançar sucesso teria que passar pela casa de Tia Ciata e ser aprovado nas rodas de samba das festas, que chegavam a durar dias. Várias composições eram criadas e cantadas em improvisos, caso do samba “Pelo telefone”, que viria a ganhar a assinatura de Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos – 1890/1974) e Mauro de Almeida (jornalista conhecido como Peru dos Pés Frios – 1882/1956), samba para o qual também havia outras tantas versões. Este samba-maxixe é considerado o primeiro a ser gravado, ainda no ano de 1917. Outras tias também foram importantes: Tia Amélia (Amélia Silvana de Araújo – mãe de Donga), Tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana), Tia Bebiana, Tia Rosa Olé, Tia Sadata, Tia Mônica (mãe de Pendengo e Carmem Xibuca) e Tia Prisciliana (mãe de João da Baiana).
O TERMO “SAMBA”:
Possivelmente o termo “Samba” é uma corruptela de “Semba” (umbigada), palavra de origem africana, provavelmente do Congo ou Angola, donde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil. Uma das grafias mais antigas do termo “Samba” foi publicada por Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama, em fevereiro de 1838 na revista pernambucana “Carapuceiro”, não se referindo ao gênero musical, mas sim a um tipo de folguedo popular de negros da época. Segundo o pesquisador Hiram Araújo, na Bahia, ao longo dos séculos, as festas de danças dos negros escravos eram chamadas de “Samba”. Com o passar dos anos, a dança “Samba”, sempre conduzida por diversos tipos de batuques, assumiu características próprias em cada estado, não só pela diversidade das tribos de escravos, como pela peculariedade da região em que foram assentados. Entre os tipos de danças populares mais conhecidas, destacamos Samba-lenço, Samba-rural, Tiririca, Miudinho e Jongo (São Paulo); Tambor-de-crioula ou Ponga (Maranhão); Samba-corrido, Samba-de-roda, Bate-baú, Samba-de-Chave e Samba-de-barravento (Bahia), Bambelô (Rio Grande do Norte), Coco (Ceará), Trocada, Coco-de-parelha, Samba de coco e Coco-travado (Pernambuco) e Partido-alto, Miudinho, Jongo e Caxambu (Rio de Janeiro). Quanto ao vocábulo “samba”, existem várias versões de seu nascedouro. Uma delas diz ser originário do árabe, mais precisamente mouro, quando da invasão desse povo à Península Ibérica no século VIII, sendo o termo original “Zambra” ou “Zamba”. Há quem diga que é originário de um dos muitos dialetos africanos, possivelmente do Quimbundo: “Sam” = dar, “Ba” = receber, ou ainda “Ba” = coisa que cai.
O PESSOAL DO ESTÁCIO E O SAMBA MODERNO:
Em 1927 surge a primeira das escolas de samba, a Deixa Falar, no bairro do Estácio de Sá, vizinho ao afamado quarteirão boêmio carioca da Lapa. Inicialmente era um Rancho Carnavalesco, posteriormente Bloco Carnavalesco e por fim, Escola de Samba, tendo como fundadores alguns compositores do bairro do Estácio, entre eles Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (Bide), Armando Marçal e Rubem Barcelos, de uma turma também integrada por Mano Elói, Nilton Bastos, Aurélio, Baiaco, Brancura e Mano Edgar. Estes compositores fizeram com que o samba fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no desfile, distanciando assim do andamento amaxixado de outros compositores como Sinhô. Oficialmente como Escola de Samba, a Deixa Falar desfilou apenas em 1929, 1930 e 1931, quando encerrou as atividades como Rancho Carnavalesco de segunda categoria, devidamente pobre e sem expressão maior perante à comunidade.
ALGUNS DESDOBRAMENTOS RÍTMICOS DO SAMBA:
O samba ao longo dos anos tem se apresentado com muitas variantes rítmicas. Dentre as mais conhecidas, destacamos, o samba-de-breque, samba-exaltação, samba-de-terreiro, samba-enredo, sambalanço, samba-de-quadra, sambalada, samba-chulado, samba-raiado, samba-coco, samba-choro, samba-canção, samba-batido, samba-funk, samba-de-partido-alto e samba de gafieira.
O PARTIDO-ALTO:
O partido-alto, segundo Nei Lopes, é considerado como a forma de samba que mais se aproxima da origem do batuque angolano, do Congo e regiões próximas. Contudo, quando surgiu, no início do século XX, pelo menos na casa da Tia Aciata, esse termo era usado inicialmente para designar música instrumental.
O SAMBA-RAIADO:
Samba com influência da música sertaneja/rural, comum logo no início do século 20, ainda com forte influência do samba-rural baiano e trazido para o Rio de Janeiro pelas Tias Baianas e sendo ainda uma variante do Samba-de-roda.
SAMBA-CORRIDO: Com uma harmonia mais trabalhada.
SAMBA-MAXIXE: Muito influenciado pela dança homônima e tocado basicamente ao piano. Teve como expoente o compositor Sinhô (José Barbosa da Silva – 1888/1930), que detinha a alcunha de “O Rei do Samba”.
O SAMBA-ENREDO:
Juntamente com as Escolas de Samba, que galgaram estágios de aceitação, admiração e paternalização através dos anos, o samba-enredo tornou-se um dos símbolos nacionais. Pesquisadores discutem se o samba virou bem de consumo ou não e se houve ou não a ascensão social do sambista.
Inicialmente o samba-enredo não tinha enredo. Com a entrada do Estado (mais propriamente o Estado Novo, no ano de 1937) na organização dos desfiles, foi criada uma contra-partida, a de os temas serem sobre a história oficial do Brasil.
O SAMBA-CANÇÃO:
Surgido na década de 1920 e firmando-se na década seguinte, esta forma de “amaciamento” do samba, segundo Ruy Castro, inicialmente tinha influência do fox e na década de 1940, do bolero. Se o “Samba de morro” tratava de temas diversos como malandragem, mulheres comportadas, favelas, esperteza etc, o samba-canção mudou o foco para o lado subjetivo das dores e ingratidões, principalmente pela ótica do sofredor amoroso, tendo como resquício a temática do bolero, então em voga e ainda com ênfase musical recaindo sobre a melodia. Henrique Vogeler, Custódia Mesquita, João de Barro, Ary Barroso, Fernando Lobo, Dolores Duran, Ismael Neto, Antônio Maria e tantos outros se utilizaram do samba-canção para compor grandes clássicos da MPB, como “Ai, Iôiô”, “Risque”, “Rancho fundo”, “Copacabana” e “Ninguém me ama”. No final da década de 1950, com o surgimento da bossa-nova, o samba-canção com sua temática mais voltada para a ‘fossa’, foi sendo um pouco esquecido e dando vez a temas mais ligados à praia, ao mar, ao sal e ao sol, dentre outros temas mais amenos, cultivados por essa nova geração de compositores como Mário Telles, Carlos Lyra, Ronaldo Boscoli e Roberto Menescal, entre outros, que também faziam uso do samba em seu compasso 2/4, contudo, influenciados pelo violão jazz-cool de Barney Kessel e a voz de Julie London no LP “Julie is my name”. Pouco depois, esses compositores, sedimentados pela batida do violão de João Gilberto e as composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, formariam o núcleo central de um novo movimento intitulado Bossa Nova.
O SAMBALANÇO:
São muitos os subs-gêneros do samba, porém, todos, sem exceção, fazem uso do compasso binário. Podemos listar o Sambalanço, considerado um sub-produto da Bossa-Nova e muito utilizado em bailes suburbanos das décadas de 1960 a 1980. Dos artistas e grupos mais importantes destacam-se Ed Lincoln e Seu Conjunto, Os Devaneios, Grupo Joni Mazza, Bebeto, Copa 7, Bedeu, Luiz Wagner e Dhema. Anos mais tarde, já no século XXI, os grupos paulistas Funk Como Le Gusta e Clube do Balanço deram continuidade aos bailes e mantiveram este sub-gênero.
O PAGODE:
Basicamente é dividido em duas tendências: a primeira mais ligada ao partido-alto, conservando a linhagem sonora e fortemente influenciada por gerações passadas. Entre os artistas que se destacam a partir da década de 1980 estão Jovelina Pérola Negra, Almir Guinéto, Dona Ivone Lara, Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e a dupla Arlindo Cruz e Sombrinha, Quinteto em Branco e Preto, Grupo Semente. Na segunda tendência, considerada mais “popular”, isto já na década de 1990 em diante, estão Raça Negra, Só Pra Contrariar, Grupo Pirraça, Harmonia do Samba, Irradia Samba e Kaô do Samba, entre outros com a mesma qualidade sonora e de letra, considerados “samba-romântico”.
O SAMBA-FUNK:
No final da década de 1960 o pianista Don Salvador e o seu Grupo Abolição (Rubão Sabino, Luiz Carlos Batera, Barrosinho, Oberdan, Zé Carlos, Serginho Trombone e Darcy Trumpete), já mesclavam samba com o funk americano, ritmo recém chegado dos Estados Unidos. Com a ída definitiva de Don Salvador para os Estados Unidos, o grupo encerrou as atividades. No começo dos anos 70 alguns ex-integrantes do Grupo Abolição: Luiz Carlos Batera, Barrosinho e Oberdan juntaram-se a Cristóvão Bastos, Jamil Joanes, Cláudio Stevenson e Lúcio da Silva, formando a Banda Black Rio. A banda aprofundou ainda mais a o trabalho de Don Salvador na mistura do compasso binário do samba brasileiro com o quaternário do funk americano, calcado na dinâmica de execução, conduzida pela bateria e baixo. Exemplos do repertório autoral da banda são: “Maria fumaça” (Oberdan e Luiz Carlos Batera), “Mr. Funk Samba” (Jamil Joanes), “Caminho da roça” (Oberdan e Barrosinho) e “Metalúrgica” (Cristóvão Bastos e Cláudio Stevenson), composições nas quais o trabalho da banda mescla funk e samba. O sucesso e reconhecimento da banda veio com a inclusão da música “Maria Fumaça” (1977) na novela “Loco-motivas”, da Rede Globo. Em 1978 a banda gravou o LP “Gafieira universal”, no qual aprofundou ainda mais a mescla dos ritmos e acompanhou Caetano Veloso em turnê. A banda encerrou as atividades em 1980 após gravar o último disco “Saci-Pererê”. Na década de 1990 DJs ingleses e japoneses passaram a divulgar o trabalho da banda e o ritmo fora redescoberto em toda a Europa, principalmente na Inglaterra e Alemanha.
SOBRE A DANÇA DO SAMBA:
No livro “O samba na realidade…”, de Nei Lopes, o autor enumera quatro princípios básicos para o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, do qual era diretor. Um desses princípios diz respeito à movimentação dos sambistas da escola no desfile, o que serve para explicitar a ‘dança’ do samba:
“Samba mesmo é no passo curto, é drible de corpo, é ‘no faz que vai, mas não vai’, é no passo largo cheio de ginga, é no balançar dos braços, é no girar constante da cabeça, mostrando um sorriso contagiante, uma combinação improvisada de movimentos que ninguém do mundo consegue fazer igual ao brasileiro”.
A PINTURA NAIF:
O samba, além de ritmo e compasso definidos musicalmente, traz historicamente em seu bojo toda uma cultura de comidas (pratos específicos para ocasiões), festas, roupas (sapato bico fino, camisa de linho etc), danças variadas (miudinho, coco, samba de roda, pernada etc), a pintura naif de Nelson Sargento, Guilherme de Brito e Heitor dos Prazeres, para citar apenas três pintores consagrados, além de artistas anônimos das comunidades (pintores, escultores, desenhistas e estilistas) que confeccionam as roupas, fantasias, alegorias carnavalescas e os carros abre-alas das escolas de samba.
A REVIGORAÇÃO DO SAMBA NAS DÉCADAS DE 1960 a 1980:
No início da década de 1960 foi criado o “Movimento de Revitalização do Samba de Raiz”, promovido pelo Centro de Cultura Popular (CPC) em
parceria com a UNE. Foi o tempo do aparecimento do Zicartola, dos espetáculos de samba no Teatro de Arena e no Teatro Santa Rosa e de musicais como “Rosa de Ouro”. Foi a época do aparecimento de grupos como “Os Cincos Crioulos” (Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho e Paulinho da Viola, substituído por Mauro Duarte), “A Voz do Morro” (Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento, Oscar Bigode, Paulinho da Viola, Zé Cruz e Zé Kéti), “Mensageiros do Samba” (Candeia e Picolino da Portela), “Os Cinco Só” (Zuzuca do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Wilson Moreira, Zito e Velha), todos com experiência anteriores no universo do samba e músicas gravadas por grandes nomes da MPB. Tempo também do aparecimento do chamado “Samba-empolgação” dos blocos carnavalescos “Bafo da Onça” (Catumbi), “Cacique de Ramos” (Ramos) e “Bhoêmios de Irajá” (Irajá).
Na década seguinte surgiram os termos “Sambão-jóia”, “Sambolero” e “ABC do Samba”. Muitos críticos usavam o termo “Sambão-jóia” pelo lado pejorativo, como samba de qualidade duvidosa. Outros, mais conscientes, perceberam neste termo e nos cantores e compositores a ele relacionado, a grande importância deste período da MPB, especificamente ligado ao samba. Cantores e compositores como Luiz Ayrão, autor do “Mulher à brasileira”, na verdade um samba-enredo para disputa na Portela, em 1978, Benito Di Paula (‘Retalhos de cetim’), Jorginho do Império (‘Dinheiro vai, dinheiro vem’, de Noca da Portela e Vovó Ziza), Antonio Carlos & Jocafi (‘Você abusou’), e ainda, no mesmo bolo, Beth Carvalho por cantar sambas como “Vou festejar” (Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias) e “Coisinha do pai” (Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos), logo aceitos por várias faixas sociais e principalmente pela classe baixa, foram considerados por alguns críticos como os artistas de ‘qualidade duvidosa’. Estes artistas recolocaram o samba nas principais emissoras de rádio e TV do país, sendo responsáveis por vendas expressivas do gênero na década de 1970. Segundo Luiz Ayrão, o termo “Sambão-jóia” apareceu em uma coluna do Jornal Estado de São Paulo, no final da década de 1970 e atribuía pejorativamente à Beth Carvalho o título de “Rainha do Sambão-jóia”, o que causou um grande estigma e mágoa para alguns desses artistas. Por essa mesma época, surgiu também o termo “ABC do samba”, relacionado às cantoras Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes, quando elas conseguiram bater recordes de venda. Interessante assinalar que também não foram vistas com bons olhos por muitos críticos, ainda que em se tratando de três grandes cantoras, mas por ter direcionado seus repertórios para ritmos afro-brasileiros, principalmente o samba, pois como está grafado na história de cada uma delas, nenhuma começou exatamente como sambista.
Em São Paulo surgiu o cantor e compositor Geraldo Filme, um dos sambistas da Barra Funda, reduto do samba paulistano, freqüentador também das rodas de “Tiririca” – tipo de disputa com pernadas ao ritmo de samba – no Largo da Banana. Geraldo Filme, em parceria com Plínio Marcos, montou os espetáculos “Balbina de Yansã” e “Pagodeiros da Paulicéia”. Outros sambistas, também importantes, são Germano Mathias, Osvaldinho da Cuíca, Thobias da Vai Vai, Aldo Bueno e Adoniran Barbosa, este último já devidamente reconhecido nacionalmente por esta época, mas regravado e relembrado com mais freqüência nesta década. Ainda em São Paulo, Benito Di Paulo foi “classificado” como “sambolero”, usando freqüentemente em suas apresentações piano, timba e chimbau. Em Salvador os compositores Riachão, Panela, Batatinha, Garrafão e Goiabinha, foram seguidos por Tião Motorista, Chocolate, Nélson Balalô, J. Luna, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Walmir Lima, Roque Ferreira, Walter Queirós, Paulinho Boca de Cantor e Nélson Rufino, que mantiveram a tradição dos sambas-de-roda e samba-coco, quase todos despontados para um maior reconhecimento a partir da década de 1970.
A FORMATAÇÃO DO PAGODE NO FINAL DA DÉCADA DE 1970 E A CRIAÇÃO DE UMA NOVA SONORIDADE COM INSTRUMENTOS MODIFICADOS:
No final da década de 1970 um grupo de cantores e compositores fazia uma roda de samba embaixo da tamarineira, na quadra do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, no subúrbio carioca de Ramos. Entre os que ficariam conhecidos anos depois, estavam Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Sombrinha, Deni de Lima, Luiz Carlos da Vila, Carlos Sapato, Neoci, Dida, Bira Presidente, Ubirani, Almir Guineto, Sereno, entre outros.
Alguns instrumentos davam uma sonoridade peculiar àquele grupo, como banjo com braço de cavaquinho criado por Almir Guineto e o tantã, criado por Sereno. A própria formação sonora era um pouco diferente com tantã e repique-de-mão. Alguns desses músicos viriam a ser reconhecido quando Beth Carvalho os convidou para participar de seu disco “Pé no chão”, de 1978, produzido por Rildo Hora. Dois anos depois o grupo, com o nome de Fundo de Quintal, lançava o primeiro disco pela RGE e estava formatado o pagode carioca, que viria a influenciar todas as gerações de sambistas posteriores.
Na década de 1980 despontaram para o sucesso Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Fundo de Quintal, Dona Ivone Lara.
Na década de 1990 as grandes gravadoras criaram o “Pagode-romântico” e lançaram centenas de grupos e artistas paulistas, mineiros e cariocas, que foram responsáveis por músicas de qualidade mais que duvidosa, mas que devido à massificação nas rádios e TV foram responsáveis por uma melhora na arrecadação de direitos autorais, fazendo com que as músicas americanas ficassem em segundo lugar em arrecadação, coisa inédita no Brasil. Pelo menos este foi um dos pontos positivos desta moda sonora imposta pelas majors.
No início do século XXI o samba retoma a tradição do partido-alto a partir do ano 2000, quando surgiram diversos artistas em vários estados. No Rio de Janeiro surgiram Teresa Cristina e Grupo Semente, Marquinhos de Oswaldo Cruz e tantos outros que contribuíram para a revitalização da Lapa, no Rio de Janeiro. Em São Paulo o samba retomou a tradição com shows no Sesc Pompéia e ainda através do trabalho de vários grupos, entre eles, o grupo Quinteto em Branco e Preto que desenvolvia o evento “Pagode da Vela”, tudo isso fez com que vários artistas do Rio de Janeiro, além de shows, fixassem residência em São Paulo, São Matheus, Santos e pequenas cidades e bairros periféricos da capital.
PAULO DA PORTELA E O SAMBA NO TREM:
Na década de 1930, organizados por Paulo da Portela, sambistas de Madureira e Oswaldo Cruz, subúrbios do Rio de Janeiro, após um dia de trabalho, voltavam para Oswaldo Cruz no trem das 18h5min. Num desses vagões, organizavam reuniões e discutiam a organização do carnaval, sempre com muito samba. No ano de 1995 outro compositor, Marquinhos de Oswaldo Cruz, reorganizou o “Pagode do Trem”, fazendo com que o evento entrasse para o calendário turístico da cidade do Rio de Janeiro, sendo apresentado no dia 2 de dezembro, “Dia Nacional do Samba”.
O SAMBA – PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE:
No ano de 2004 o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, apresentou à UNESCO o pedido de tombamento do gênero “Samba”, sob o título de “Patrimônio Cultural da Humanidade”. O Samba (bem imaterial), assim como a “Festa do Círio de Nazaré”, de Belém do Pará, faz parte das 13 manifestações artísticas, religiosas e gastronômicas do Brasil que disputam no Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) receber a consagração nacional. Segundo Márcio Vieira – Secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura – A característica mais importante para a Unesco é a singularidade. Ou seja, tem que ser uma coisa realmente única e especial para merecer o título de “Patrimônio da Humanidade”. Sendo este o mesmo critério do IPHAN, que antes da Unesco, conferiu à pintura corporal dos índios Wajãpi, do Amapá, o título de “Patrimônio Cultural da Humanidade”.
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VIANA, Luiz Fernando. Zeca Pagodinho – a vida que se deixa levar. Coleção Perfís do Rio. Rio de Janeiro: RioArte/Relume-Dumará, 2003.
Euclides Amaral
(poeta e letrista / euclidesamaral@superig.com.br )