O arquiteto mineiro Luiz Fernando de Almeida, 43 anos, coordenador nacional do programa Monumenta de restauração a prédios e monumentos históricos, assume hoje às 15h a presidência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), numa cerimônia com a presença do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop/MG). O nome de Almeida foi anunciado por Gil para o cargo em 14 de janeiro, dois dias depois que o ministro recebeu a carta de demissão do então presidente do Iphan, o sociólogo Antonio Augusto Arantes Neto.
Com a posse de Almeida, que continuará coordenando o Monumenta, o Ministério da Cultura unifica seus dois principais canais executores de ações de preservação histórica. O Monumenta, com uma previsão total de R$ 125 milhões investidos pelo MinC, pelos governos estaduais e municipais e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, atua sobre monumentos tombados pelo Iphan, e a junção dos dois viria a acelerar o processo. Uma mostra clara do perfil dois-em-um que o Iphan toma agora é a agenda programada hoje para Ouro Preto.
Depois da posse, Gil, Almeida e convidados ilustres como o governador Aécio Neves seguem para a Praça Tiradentes, ponto central da cidade. Lá serão inauguradas duas obras do Monumenta: a Casa da Baronesa – sede local do Iphan – e a Casa de Gonzaga – na qual morou o poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga e que serviu de local de despacho dos Ouvidores da antiga Vila Rica.
A restauração dos dois imóveis está orçada em pouco mais de R$ 700 mil e confirma a atuação intensiva do Monumenta em Ouro Preto, estimada em mais de R$ 9 milhões. Ao longo dos próximos anos, está prevista no sítio histórico a restauração de monumentos como a Casa do Folclore, a Igreja Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias e o Teatro Municipal, considerado o primeiro do gênero no Brasil. O Monumenta também prevê a substituição da fiação elétrica da cidade por um sistema subterrâneo. No Rio, outra das 26 cidades atendidas pelo Monumenta, a ação se concentra na Praça Tiradentes e em seu entorno, com previsão de mais de R$ 9 milhões.
Em entrevista ao JB há um mês, Luiz Fernando de Almeida garantiu que sua gestão daria continuidade aos projetos desenvolvidos por seu antecessor, Arantes Neto, que dirigiu o Iphan desde março de 2004. Ele também pretende alcançar no Iphan os bons resultados obtidos no programa Monumenta desde sua posse como coordenador nacional, em 2003 – Almeida orgulha-se de ter atingido no ano passado um índice de 98% de execução dos projetos previstos pelo programa, contra 7% em 2002. Sob a responsabilidade do Iphan, estão 41 museus, 20 mil edifícios tombados, 83 centros e conjuntos urbanos e 12.517 sítios arqueológicos, administrados no ano passado com uma dotação de R$ 35,6 milhões.
A nova ênfase do Iphan para a preservação do patrimônio sinaliza para breve a criação pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O órgão, prometido ainda para este ano, passará a cuidar dos 41 museus hoje sob responsabilidade do Iphan. O futuro presidente do Ibram também já foi definido: será José do Nascimento Junior, diretor do Departamento de Museus e Centros Culturais do Iphan.
A atenção do futuro Iphan ao patrimônio imaterial será representada na solenidade de hoje por grupos de manifestação popular de Ouro Preto e de cidades próximas. Depois da posse na Ufop, Gilberto Gil e Luiz Fernando de Almeida sobem as ladeiras até a Praça Tiradentes acompanhados pelo cortejo da Cavalhada da Associação de Cavaleiros Mestre Nico de São Gonçalo do Amarante e pelos grupos Dança e Folia de São Gonçalo e Dança de Fitas de Glaura. Um grupo de Pastorinhas, representantes da Folia de Reis da cidade de Lavras Novas e os grupos de congado de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito também farão performances. As comemorações terminam com a apresentação do Clube dos Lacaios de Ouro Preto, uma das agremiações carnavalescas mais antigas do país, criada em 1863 e com 150 componentes.