Nelson Rodrigues
“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre que a grande apoteose. Os admiradores corrompem”, dizia Nelson Rodrigues. Contudo, pode-se dizer que o dramaturgo e jornalista mais corrompeu a hipocrisia da moral e dos bons costumes do que foi corrompido por seus fãs. Para lembrar seus 25 anos de morte, o Conjunto Cultural da Caixa, no Centro, lança hoje, às 20h, o projeto 25 anos sem Nelson Rodrigues, que promete um panorama da produção do autor de Vestido de noiva, marco inicial de teatro brasileiro moderno.
Idealizadores da iniciativa, Nelson Rodrigues Filho e sua filha, a atriz Cristiane Rodrigues, prometem a maior homenagem já feita ao escritor, nascido no Recife em 1912 e radicado no Rio desde criança. O projeto pretende abranger todos os aspectos da obra do autor, que expôs a intimidade da sociedade carioca; escreveu com peculiar estilo sobre adultério, incesto, traição e morte; foi também um ótimo cronista de futebol; discutiu política; e falou sobre psicanálise.
– Queremos mostrar como ele era multifacetado. Tinha o Nelson folhetinesco, o repórter, o homem do esporte. O universo rodriguiano é muito amplo, e vamos mostrar tudo isso – diz Nelsinho.
Esta noite, às 20h, estréia no Teatro Nelson Rodrigues (no centro cultural) a peça Os sete gatinhos, que fica em cartaz até dia 31, de quinta a domingo. Nelsinho assina a montagem, dirigindo um elenco com o qual trabalha há cinco anos, encenando textos de Nelson.
Em agosto será a vez de Anjo negro. A peça, que estreou em abril de 1948, depois de muita briga com os censores, conta a história do negro Ismael, que luta contra seu próprio racismo e os problemas decorrentes dele. A censura da época proibiu as cenas sensuais de um ator negro com uma mulher branca. Por isso, Nelson, a pedido de amigos, substituiu o artista por um ator branco pintado de negro para levar a peça ao palco.
– O tema de Anjo negro continua sendo atual. Convidamos Sérgio Menezes para ser o protagonista. Desta vez, realmente um ator negro interpretará o papel, como o velho (Nelson) sempre quis – comemora Nelsinho.
Embora nenhuma das peças seja musical, as encenações têm música do início ao fim.
– E chamamos Jaime Arôxa para fazer a coreografia – completa o diretor.
A programação conta com a leitura dramatizada dos textos de A vida como ela é, exposições de cartazes e fotos das montagens de suas peças e das produções cinematográficas baseadas em seus textos. Algumas de suas frases, conhecidas pela inteligência e ironia, estarão espalhadas pelas paredes do conjunto cultural. Também haverá a exibição de filmes como A dama do lotação, Toda a nudez será castigada e Bonitinha mas ordinária.
Depois da temporada no Rio, Nelsinho pretende levar a programação de 25 anos sem Nelson Rodrigues para outras cidades do país. Mas por enquanto, só está confirmada a passagem por Porto Alegre.
Paralelamente, outro filho de Nelson, o primogênito Joffre Rodrigues, lembrará a morte do dramaturgo lançando no Brasil a primeira versão para o cinema do consagrado texto de Vestido de noiva. O filme teve pré-estréia na França e participou do 9º Festival de Cinema de Miami.