Musica Erudita 2

Musica Erudita no Brasil

A mais remota referência à música no Brasil encontra-se na carta de Pero Vaz de Caminha, que relata ao rei de Portugal a musicalidade dos nativos. Outras referências aparecem nas anotações do padre Manoel da Nóbrega que chega ao Brasil com os primeiros jesuítas, a partir de 1549, mencionando a música de catequese realizada, em geral, a partir de melodias gregorianas. Os primeiros registros de partituras são de 1557: melodias indígenas anotadas pela tripulação de Jean de Lery.

 

 

 

 

 

 

Barroco

 

A música do período barroco no Brasil compreende uma larga faixa de gêneros praticados no século XVIII. Dentre as escolas de composição destacam-se as do Recife, Bahia e Minas Gerais.

Bahia – A música renascentista e os antigos organuns medievais servem de modelo à produção da época. A música instrumental começa a ser registrada no século XVI, geralmente por compositores europeus em atividade no país. Na Bahia, encontram-se referências ao padre Pedro da Fonseca, primeiro organista da Sé de Salvador, em 1559. A partitura mais remota, de 1759, é um Recitativo e ária, de autoria desconhecida, com texto cantado em português.

Recife – Há documentos no Recife relativos à atuação dos compositores Inácio Ribeiro Nóia (1688-1773) e Luís Álvares Pinto (1719-1789), este descendente de mulatos, cuja obra encontra-se documentada, como seu Te Deum laudamos.

Minas Gerais – Compositores brasileiros que atuavam nas cidades mineiras de Diamantina, Ouro Preto e Tiradentes, no século XVIII, em sua maioria mulatos, deixam a produção mais bem documentada da época. O barroco mineiro se inspira nas óperas napolitanas de compositores como Davide Perez e Jommeli e na música religiosa portuguesa de caráter polifônico, do início do barroco europeu. Entre seus principais compositores estão José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Marcos Coelho Neto, Inácio Parreira Neves e Manoel Dias de Oliveira.

José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805) nasce em Serro Frio, perto da atual Diamantina, filho de um português e uma escrava liberta, Joaquina Emerenciana. É organista, compositor e professor de música. Em 1789, torna-se alferes. Muda-se para o Rio de Janeiro, em 1801, atuando como organista. Entre suas obras de importância estão a Missa em fá e o Ofício das violetas, escrito para uma orquestra sem violinos.

São Paulo – Embora em menor quantidade, são encontradas obras paulistas do século XVIII. O compositor André da Silva Gomes (Lisboa 1752-S. Paulo 1823) é seu principal representante.

Música na Corte – No final do século XVIII, o carioca José Maurício Nunes Garcia domina uma linguagem composicional própria, com uma riqueza harmônica comparável aos padrões europeus da época. É professor de Francisco Manuel da Silva, autor do Hino Nacional Brasileiro e primeiro diretor do Conservatório do Rio de Janeiro. A chegada da missão cultural, trazida por dom João VI, em 1816, agita o ambiente musical na Corte. O compositor austríaco Sigismund Neukomm (1778-1858) traz a música de Haydn, de quem é o discípulo favorito. A ópera napolitana é representada pelo compositor da metrópole Marcos Portugal (1759-1830).

José Maurício Nunes Garcia (1759-1830) nasce no Rio de Janeiro, filho de mulatos. Inicia cedo os estudos de música e em 1792 ordena-se padre. Em 1798, torna-se mestre-capela e professor de música da catedral da Sé do Rio de Janeiro e, em 1808, mestre de música da Capela Real. Destaca-se como compositor e regente, sendo responsável pela estréia do Réquiem de Mozart, em 1819, e da Criação de Haydn, em 1821. De sua obra são conhecidas cerca de 400 peças, destacando-se sua Abertura em ré maior, talvez a primeira grande sinfonia brasileira, a ópera Zemira e a Missa de réquiem, de 1816.

 

 

 

Romantismo

O romantismo no Brasil é basicamente importado da França e inicia-se após a independência. Nessa época, são encenadas diversas óperas no Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara, destruído por um incêndio em 1851, e substituído pelo Teatro Provisório, em 1854. Francisco Manuel da Silva funda, em 1833, a Sociedade Beneficência Musical, que promove concertos. Em 1834 é criada a Sociedade Filarmônica do Rio de Janeiro.

Ópera nacional – O fato mais importante do romantismo brasileiro é a criação de uma ópera nacional. Os principais representantes são os compositores Antonio Carlos Gomes e Elias Álvares Lobo (1834-1901), auxiliados por libretistas como Machado de Assis e José de Alencar. Em 1861, estréia Joana de Flandres, de Carlos Gomes, com texto em português totalmente mutilado pelos cantores italianos que a apresentam. O movimento progressivamente perde força e uma última ópera é apresentada nesse período: O vagabundo, de Henrique Alves de Mesquita.

Antonio Carlos Gomes (1836-1896) nasce em Campinas, São Paulo, filho de Maneco Gomes, músico e regente da banda local. Em 1859, foge de casa para estudar música no Rio de Janeiro. É matriculado no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, por ordem do imperador, onde estuda com professores italianos. Em 1860 torna-se preparador de óperas na Imperial Academia de Música e Ópera Nacional. A partir de 1863 parte para estudos em Milão. Adquire notoriedade na Itália, onde compõe as óperas Il Guarany, Fosca, Maria Tudor, Lo schiavo, O condor e o oratório Colombo. Em 1895, volta ao Brasil e torna-se diretor do Conservatório Musical de Belém do Pará.

Folclorismo – Ainda voltados para os padrões europeus estão os compositores Glauco Velasquez (1884-1914), seguidor do cromatismo francês, Henrique Oswald (1852-1931), adepto do impressionismo, e Leopoldo Miguez (1850-1902), seguidor do cromatismo de Wagner e Liszt.

O caminho para o nacionalismo das primeiras décadas do século XX começa a ser aberto por compositores brasileiros com formação erudita européia, principalmente francesa, representados por Brasílio Itiberê (1846-1913), Luciano Gallet (1893-1931), Alberto Nepomuceno (1864-1920), Francisco Braga (1865-1945) e Alexandre Levy (1864-1892), que se utilizam de temas do folclore brasileiro. A tendência de nacionalização da música erudita brasileira está presente também na dança e na canção urbana de Francisca Hedwiges Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga (1847-1935), e Ernesto Nazareth (1863-1934), que produz uma música de harmonia simples e de forte aspecto popular.

Chiquinha Gonzaga (1847-1935), pianista e compositora desde a infância. Em 1885, já famosa por suas peças de caráter dançante, compõe uma opereta, A corte na roça, e inicia uma série de 77 partituras teatrais, como A sertaneja, Juriti, e Maria. Suas composições traduzem, com fidelidade, a ginga, os improvisos e o lirismo das serestas, dos choros e das danças de crioulos.

 

 

 

 

Modernismo Nacionalista

O pleno desenvolvimento do uso de elementos folclóricos é realizado por Heitor Villa-Lobos (1887-1959), cuja obra determina a estética nacionalista brasileira até os dias de hoje. Esse movimento não apenas incorpora elementos das melodias populares e das complexas melodias indígenas, como desenvolve sonoridades típicas, presentes na obra de Villa-Lobos. O canto de pássaros brasileiros, como a araponga, aparece em suas Bachianas 4 e 7; em O trenzinho do caipira reproduz a sonoridade de um trem; no seu Choro 8 busca reproduzir o som de pessoas numa rua. Sua estética espelha uma tendência européia, presente nas obras de Bella Bartok, Stravinsky, Manuel de Falla e, por sua vez, serve de modelo para compositores como Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Radamés Gnatalli, Mozart Camargo Guarnieri, entre outros. Mesmo após a introdução de elementos da estética dodecafônica no Brasil, diversos compositores figuram em um aparecimento tardio do nacionalismo, como Sérgio de Vasconcelos Correia, Oswaldo Lacerda e Mário Tavares.

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) nasce no Rio de Janeiro e começa a tocar violoncelo profissionalmente aos 12 anos. É influenciado por autores populares como Ernesto Nazaré. Viaja pelo país, se interessa pelo folclore brasileiro e compõe obras como Amazonas e Uirapuru. Participa da Semana de Arte Moderna de 1922. Vive na Europa de 1923 a 1930, onde é marcado pelo impressionismo. Entre suas principais obras estão suas Bachianas brasileiras e Choros, onde funde a música do compositor alemão Bach e o chorinho.

 

 

 

 

 

Musica Contemporânea

Desde a década de 40 até os dias de hoje, a música brasileira vive movimentos de nacionalização e de internacionalização. A introdução do dodecafonismo por H. J. Koellreuter na Bahia, o movimento Música Viva, o Manifesto de 1946, o movimento Música Nova e a música eletrônica marcam o período.

Música viva – Em 1939, ao nacionalismo identificado com a ditadura Vargas opõe-se o Movimento Música Viva, liderado pelo compositor e professor alemão Hans Joachim Koellreuter, introdutor da música dodecafônica no Brasil. Entre seus alunos destacam-se os compositores Claudio Santoro (1919-1989), Guerra Peixe (1914-1993), Eunice Catunda (1915- ) e Edino Krieger (1928). Embora com tendência diversa da original, a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia é herdeira direta dos Seminários de Música de Salvador, dirigidos por Koellreuter. São seus representantes o compositor Ernest Widmer e seus alunos Lindenberg Cardoso, Rufo Herrera, Jamary de Oliveira e recentemente Fernando Cerqueira (1941) e Paulo Lima (1954).

Manifesto de 1946 – Em 1946, Cláudio Santoro, Guerra Peixe, Eunice Catunda e Edino Krieger assinam o manifesto de 1946, que tem o objetivo de recuperar o trabalho com a música popular brasileira, a partir das ferramentas fornecidas por Koellreuter. Guerra Peixe e Santoro seguem, posteriormente, um caminho mais pessoal, marcado por elementos da música regional, e influenciam a música popular instrumental brasileira. Embora não ligados diretamente ao manifesto, diversos compositores aderem ao uso livre de elementos da tradição brasileira, como Kilza Setti, Ronaldo Miranda, Marlos Nobre, Almeida Prado. Atualmente destacam-se Mariza Rezende (1944), Roberto Victório (1959) e Sergio Rojas (1960).

Claudio Santoro (1919-1989) nasce em Manaus. Atua como violinista até 1938, iniciando-se na composição ao término de seus estudos no Conservatório do Distrito Federal. Em 1940, torna-se aluno de Koellreuter e entra em um período estritamente dodecafônico. Incorpora depois elementos da música folclórica e, por fim, aproxima-se da composição progressista, em obras como Impressões de uma usina de aço e Ode a Stalingrado. Em 1947 estuda com Nadia Boulanger, em Paris.

Música nova – Também de tendência internacionalista é o movimento Música Nova, de 1963, liderado por Gilberto Mendes (1922) e Willy Correa de Oliveira (1938). As peças de Willy, como a série Phantasiestuck, Um movimento vivo, La flamme d’ une chandelle refletem o pensamento dos serialistas da escola de Darmstadt e as idéias dos poetas concretistas Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari. Destacam-se ainda Mário Ficarelli (1937), Aylton Escobar e novas gerações de compositores voltados para o teatro musical como Eduardo Álvares (1959), Luiz Carlos Czeko (1945), Carlos Kater (Tim Rescala) (1961) e Tato Taborda (1960). Na música instrumental, destacam-se compositores como Silvio Ferraz (1959), Lívio Tragtemberg (1963) e Eduardo Seincman (1955).

Gilberto Mendes nasce em Santos, São Paulo. Tem contato com a música de Cláudio Santoro e Olivier Toni. Autodidata, é um dos pioneiros da música aleatória e do teatro musical no Brasil. Em 1962, idealiza o festival Música Nova, que até hoje revela compositores. Entre suas peças, destacam-se Santos Football Music, Beba Coca-Cola, Ulisses em Copacabana. Sua mais recente produção reflete uma tendência para a “nova consonância”, movimento que retoma elementos das músicas tonais e modais.

Música eletrônica – O movimento reflete as tendências da música eletrônica européia e americana e ganha vitalidade, apesar das limitações de infra-estrutura e defasagem com relação aos grandes centros de produção musical. Entre seus compositores estão Jorge Antunes (1942), Conrado Silva e Rodolfo Coelho de Souza (1952). Mais recentemente ganha impulso com a implantação de novos estúdios eletrônicos (Stúdio Panaroma-UNESP-FASM e Laboratório de Linguagens Sonoras, em São Paulo) e a multiplicação de estágios de compositores brasileiros em estúdios da Alemanha, França e Estados Unidos. Destacam-se Flo Menezes (1962), Rodolfo Caesar (1950), Paulo Chagas, Paulo Álvares (1960), Augusto Valente, Aquiles Pantaleão (1965) e José Augusto Mannis (1958).

 

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