A edição de 2017 do Maio Fotografia no MIS apresenta a exposição Revista Camera – A fotografia dos séculos XIX e XX. A mostra surgiu a partir da coleção do fotógrafo Allan Porter, editor da cultuada revista suíça Camera, uma das mais importantes publicações do mundo da fotografia. Outro destaque é Farida, um Conto Sírio, trabalho inédito do brasileiro Mauricio Lima, que acompanhou durante seis meses o fluxo migratório de refugiados do Oriente Médio à Europa.
A fotografia produzida em smartphones ou celulares ‒ mobgrafia ‒ alcança, em 2017, um patamar não imaginado até pouco tempo atrás. Assim, a mObgraphia Cultura Visual, dos fotógrafos Cadu Lemos e Ricardo Rojas, integra a programação do Maio Fotografia no MIS e traz três exposições que ocuparão o Espaço Expositivo 2º Andar e o Foyer do Auditório LABMIS. Avessos e paradigmas reúne quatro decanos da fotografia brasileira para uma produção única de mobgrafias que abraça a inovação, a tecnologia e a inclusão dessa nova arte visual. O coletivo internacional Hikari Creative, formado por premiados fotógrafos internacionais, integra a mostra com suas produções com smartphones com a exposição A arte da observação urbana e o Festival Latino-Americano de Mobgrafias (FLAMOB) apresenta as fotografias premiadas em seis categorias.
O Maio Fotografia ainda traz a mostra Passagens da inocência de Giullia Paulinelli, uma das artistas selecionadas pelo programa Nova Fotografia 2017, espaço do MIS dedicado a fotógrafos promissores. Completa a programação uma curadoria especial com acervo do próprio museu, intitulada Caçador e construtor, que tem entre seus destaques obras de Cristiano Mascaro, Arnaldo Pappalardo, Fernando Natalici e Gal Oppido.
Confira a seguir informações sobre cada uma das exposições do Maio Fotografia no MIS 2017.
Revista Camera – A fotografia dos séculos XIX e XX
Allan Porter resguardou aproximadamente três mil negativos, cromos, ampliações em papel fotográfico e papel japonês de diversos fotógrafos que tiveram seus trabalhos publicados durante os 15 anos em que ele esteve à frente do periódico (1966 – 1981), e que mostram o percurso da fotografia desde o século XIX. Em 2015, Wulf Rössler, psiquiatra e professor da Universidade de Zurique, comprou todo o acervo de Porter que, à época, enfrentava uma crise financeira.
No ano seguinte, pensando que essa coleção se encaixava no perfil do MIS, Rössler procurou o museu com uma proposta para expô-las. “Ele nos explicou que havia feito uma primeira separação das fotos, mas que ainda seria necessário um trabalho adequado de documentação e conservação. Assim foi fechada a parceria: o MIS auxiliaria na higienização, catalogação e acondicionamento das fotografias, e ele cederia parte delas para uma exposição no MIS”, conta André Sturm, que na época era diretor executivo do MIS e que assina a curadoria da exposição.
Assim, Sturm e Patricia Lira, supervisora do CEMIS, viajaram para Zurique, cidade onde Wulf Rössler reside. Lá tiveram acesso a este rico material e mergulharam nas fotografias e nas informações diversas sobre os artistas e sobre a revista Camera. Lá também tiveram a oportunidade de conhecer o próprio Allan Porter, que vive em uma cidade próxima, Lucerna. “Em meio a livros e café, aquela figura lendária da fotografia mundial nos contou, com muita lucidez, diversas histórias sobre o mundo da fotografia e da revista que ele dirigiu por 15 anos. Patricia Lira retornou para uma temporada em Zurique e pôde conhecer o acervo a fundo e realizar as tarefas necessárias”, detalha Sturm. “Aqui no MIS, meu desafio era, a partir daquela coleção, fazer um recorte. Várias ideias surgiram e terminei optando por fazer uma seleção dos grandes artistas que participaram da Camera, e uma ala para as fotos do século XIX e início do XX”, complementa.
A mostra Revista Camera – A fotografia dos séculos XIX e XX ocupa o Espaço Expositivo 1º andar e apresenta 219 imagens de importantes nomes da fotografia, como Eugène Atget, Cartier-Bresson, Aleksander Rodchenko, Robert Mapplethorpe, Robert Frank, Sarah Moon e Larry Clark, entre outros.
Cristiane de Almeida e Talita Virginia assinam a co-curadoria.
Sobre a revista Camera Criada em 1922, a Camera encerrou suas atividades em 1981 e voltou a ser editada em 2013, em uma versão bilíngue (francês-inglês) com quatro edições anuais. A versão original da revista foi um marco, e assim permaneceu durante os períodos mais importantes da fotografia. Sob a direção de Porter, a revista experimentou um sucesso sem precedentes. A publicação testemunhou a época de ouro do documentário, o advento da cor e os experimentos em abstração e minimalismo, à medida que a fotografia começava a ser aceita no mundo da arte. Importantes figuras como Josef Koudelka, Ralph Gibson, Duane Michals, Lua de Sarah, Eikoh Hosoe, Bernard Plossu, David Goldblatt e Leslie Krims publicaram suas fotografias na Camera, onde foram reconhecidas não como mera ilustração, mas como obras de arte em si mesmas.
Farida, um Conto Sírio | Mauricio Lima
O Espaço Redondo do Museu é ocupado pela exposição Farida, um Conto Sírio, do fotógrafo Mauricio Lima, que acompanhou por seis meses em 2015 a longa jornada de migração de refugiados do Oriente Médio rumo a Europa. O título da mostra, que conta com curadoria da alemã Elisabeth Biondi, alude ao nome do bebê que nasceu em Karlstad, interior da Suécia, após todas as dificuldades físicas e emocionais que seus pais ─ que representam os mais de cinco milhões de refugiados sírios ─ foram obrigados a enfrentar por mais de 50 dias durante a travessia, ocasionada pela guerra em seu país. Este ensaio sobre os refugiados em busca de asilo na Europa rendeu a Mauricio Lima o Prêmio Pulitzer em 2016, tornando-o o único cidadão brasileiro a receber esse prestigioso reconhecimento.
Desde a invasão norte-americana do Iraque, em 2003, Mauricio Lima vem documentando o êxodo e as consequências de povos afetados por conflitos. Em 2015, ele passou 38 dias entre o norte da Síria e o Iraque, depois visitou as principais fronteiras que os refugiados usam para fugir: Turquia, Grécia, Bulgária, Macedônia, Sérvia, Croácia e Hungria; e os destinos ou rotas: Áustria, Alemanha, Suécia e Noruega. Passou entre uma e duas semanas em cada lugar, no total de seis meses. As fotos de Mauricio iluminam a montanha-russa emocional por que os refugiados passam em sua jornada pelo desconhecido, na esperança de encontrar um lugar para viver com dignidade e respeito.
Enquanto documentava a saga dos refugiados, Mauricio percebeu que devia humanizar o acontecimento catastrófico e quis se aproximar de uma família e fotografar suas provações árduas até o exílio. Ele se conectou com a família Majid, que dormia em uma barraca em uma praça de Belgrado, na Sérvia. Durante 29 dias, o fotógrafo compartilhou da vida deles, os perigos e as dificuldades para ir da Sérvia à Suécia. “Com suas imagens, Mauricio Lima dá a nós, espectadores, a oportunidade de compartilhar visual e intimamente os altos e baixos da viagem da família em busca de asilo”, diz a curadora Elisabeth Biondi.
A exposição, que apresenta 33 imagens, é co-realizada pelo MIS e pela DOC Galeria|Escritório de Fotografia.
Avessos e paradigmas | Penna Prearo, Maureen Bisilliat, Nair Benedicto e German Lorca
A mostra, com curadoria de Fausto Chermont, traz obras dos veteranos Penna Prearo, Maureen Bisilliat, Nair Benedicto e German Lorca. As séries apresentam o resultado do desafio proposto: utilização de câmeras de captura digital de telefones celulares.
Os ensaios realizados por esses fotógrafos que experimentaram grande parte das mudanças tecnológicas de impacto dos últimos anos, bem como a migração das câmeras analógicas para o fazer digital, possibilitam uma reflexão sobre o “fazer fotográfico”, o “fazer arte”, os meios e motivações para se produzir imagens. A coragem de expurgar o viés comum, de viver o hoje com os meios e métodos contemporâneos que produzem resultados imagéticos a serem decifrados por cada um na assamblage de conteúdos eletrônicos com toque de passado, presente e futuro.
A não proposição de temas para os ensaios e a confiança plena do curador com o resultado como alternativa de elaboração autoral, na temporalidade do evento, são parte das provocações a formatos hegemônicos da contemporaneidade, tornando a exposição uma surpresa até mesmo para seus participantes. German Lorca, Maureen Bisilliat, Nair Benedicto e Penna Prearo podem ou não se ater a suas linhas de pesquisa e produção costumeiras. Liberdade de escolha é um dos principais ingredientes da proposição.
A arte da observação urbana | Hikari Creative
Uma seleção de 75 trabalhos dos cinco fotógrafos que compõe o Hikari Creative – coletivo formado por Adriana Zehbrauskas, Ako Salemi, Eric Mencher, Marina Sersale e Q. Sakamaki – compõe a mostra A arte da observação urbana, que traz registros que buscam dar uma dimensão apropriada para a importância das narrativas visuais, com imagens urbanas que atestam o lema do grupo: “nos unimos através da fotografia para afirmar a arte como essencial em nossas vidas”.
Em lugares que vão desde Veneza até Nova York, passando por cidades e vilarejos, como San Miguel Allende, no México, todas as coisas possíveis e imagináveis podem ser vistas até mesmo pelo observador mais casual. Mas os membros do Hikari Creative, fotografando nos cinco locais em que vivem ou que visitam regularmente, escolheram, em vez disso, voltar o foco de seus smartphones para a beleza do trivial, para aqueles momentos do dia a dia que, em última instância, definem a vida de forma mais clara e concisa que os extremos. Como observadores urbanos, capturam o movimento da cidade, prestando atenção aos detalhes, aos contrastes e à ironia. Mas, tão importante quanto essa atenção aos detalhes, são os momentos fugazes, efêmeros e empáticos que combinam, nas palavras de Baudelaire, “noções sociológicas, antropológicas, literárias e históricas da relação entre o indivíduo e a grande multidão”.
Hikari Creative é um coletivo baseado no Instagram, fundado com o objetivo de explorar um estilo de fotografia que mescla as tradições das belas-artes às do fotodocumentário. Hikari significa luz em japonês e é também uma metáfora para esperança.
FLAMOB 2017
O Festival Latino-Americano de Mobgrafias (FLAMOB) 2017 exibe uma mostra com as fotografias produzidas e compartilhadas com smartphones em seis categorias ─ Arte em mobgrafia, Documental, Retrato, Street, Preto e branco e Paisagem ─, nas quais os temas são livres, além da categoria Ensaio, que nesta edição privilegia as narrativas visuais a partir da questão: Qual a sua história?. Como definem seus curadores: “desde o princípio o evento é totalmente aberto: sem restrição profissional, artística, ou de fronteiras”.
Os números do festival são plurais. Desde seu início já atingiu o patamar de 15 mil imagens inscritas, de onde são selecionadas 75 para a exposição. Um júri formado por profissionais do Brasil, Canadá, França, Alemanha e Portugal, seleciona, por categoria, os vencedores que são anunciados no dia da abertura da mostra. O FLAMOB vem se colocando como lugar de convergência. Além de abrir este espaço, também promove o Flamob Talks com encontros, palestras, workshops e leituras de portfólio durante o período do festival.
ACERVO MIS | Caçador e construtor
A mostra Caçador e construtor traz uma seleção de imagens apresentada por jovens fotógrafos que participaram entre 1989 e 1997 do Projeto Fotografia de Autor ‒ encontros quinzenais realizados no MIS que resultavam em exposições e deram origem à coleção Expressão Pessoal do acervo fotográfico do museu ‒, e acabaram se tornando grandes nomes da fotografia brasileira. Arnaldo Pappalardo, Cristiano Mascaro, Gal Oppido e Hilton Ribeiro são alguns nomes presentes nesta exposição, cujo título faz referência aos fotógrafos que ora são viscerais, agarrando a realidade e fazendo um recorte dela como forma de alimentar sua expressividade; ora erigem um mundo de símbolos e significados para seus espectadores desvendarem.
A exposição conta com 38 imagens e está exposta no Foyer do Auditório MIS.
Passagens da inocência | Giullia Paulinelli | Nova Fotografia 2017
Passagens da inocência, de Giullia Paulinelli, é a segunda mostra apresentada pelo programa Nova Fotografia 2017, espaço do MIS dedicado a fotógrafos promissores. Na exposição, a artista apresenta figuras humanas nuas, sem definir símbolos que imponham uma ideia ou pensamento. O observador é confrontado com indícios, nada mais. Com uma nudez que não se liga a questões de pudor ou moralidade. Com um olhar não revelado; indeterminado pelas personagens que dão as costas aos observadores.
O conceito da exposição surgiu a partir de um incômodo da fotógrafa com a banalização do corpo, da nudez. “Um assunto ainda muito presente e mal resolvido”, diz a artista. “Procuro tirar a segunda pele de pessoas comuns para mostrar um nu inocente, que sim, acredito deva ser mostrado, mas sem exageros, apenas como algo natural. Sem despertar a curiosidade no observador em relação ao nu em si, mas antes no conjunto de mistérios que compõem as cenas”, explica a fotógrafa.
A série é composta por 12 imagens que foram feitas em diversos lugares do Brasil. Entre as locações estão uma estação ferroviária em Morretes (PR), um porto no Paraná, uma caverna em Altinópolis (SP) e uma praia em Angra dos Reis (RJ). “Tive que me deslocar e enfrentar riscos e dificuldades que estavam presentes nas locações. A pressa e os cuidados exigidos por esses lugares marcaram todo o processo”, relata. A artista utiliza o ambiente digital e se propõe a um meticuloso trabalho de pré e pós-produção para criar composições que unem o real e o fantástico.
Programação paralela
No dia 6 de maio (sábado), acontece o lançamento do Foto MIS, uma série de livros que mostra a riqueza e a diversidade do acervo fotográfico do Museu da Imagem e do Som. Produzidos em parceria com a SESI-SP editora, cada livro aborda os aspectos mais importantes de cada coleção, por meio de uma seleção de fotografias ‒ muitas delas inéditas ‒, além de textos que as contextualizam (alguns deles com caráter histórico, outros literários). Alex Vallauri, Memória Paulistana, Lambe-lambe e Estrada de Ferro Madeira-Mamoré são as coleções abordadas nos quatro primeiros volumes.
Nos dias 6 e 7 de maio, o MIS recebe a Foto Feira Cavalete, evento para amantes da fotografia, que reúne fotógrafos, galerias, editoras, selos independentes, artistas visuais e produtores. O objetivo é oferecer todo e qualquer objeto fotográfico: impressões, publicações, fotolivros, fotozines, livros de artistas, caixas de fotografias, fotos soltas e também roupas e serviços como impressão fine art, conservação de arquivos etc. A Foto Feira Cavalete é organizado pela DOC Galeria|Escritório de Fotografia.
Cursos de fotografia
O MIS está com inscrições abertas para cinco cursos de fotografia: Introdução ao Fotojornalismo (20 de abril a 1º de junho); Fotografia de paisagens (2 a 11 de maio); Fotografia de moda (10 de abril a 10 de maio); Ensaios fotográficos (15 a 31 de maio) e Fotografia para câmeras compactas e smartphones (18 a 27 de abril). Em todos os cursos os alunos ganham um ingresso gratuito e participam de uma visita guiada pelo professor à exposição Maio Fotografia no MIS 2017.
Sobre o Maio Fotografia no MIS
Criado em 2012, o projeto Maio Fotografia no MIS dedica cerca de dois meses por ano à fotografia, com todos os espaços do Museu tomados por exposições, seminários e oficinas. Em suas cinco edições figuraram importantes artistas, nacionais e internacionais, como André Kertész, Andy Warhol, Carlos Eber, Chico Albuquerque Claudio Edinger, Gregory Crewdson, Josef Koudelka, Martin Parr, Valdir Cruz, Vivian Maier e Willy Ronnis.
SERVIÇO
MAIO FOTOGRAFIA NO MIS 2017
Data 13 de abril a 28 de maio de 2017
Horário terças a sábados, das 12h às 21h; domingos e feriados, das 11h às 20h
Local Espaço Redondo, Espaço Expositivo 1º andar, Espaço Expositivo 2º andar, Nicho, Foyer do Auditório MIS e foyer do Auditório LABMIS.
Ingresso R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia)
Classificação etária livre
Museu da Imagem e do Som – MIS
Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo | (11) 2117 4777 | www.mis-sp.org.br
Estacionamento conveniado: R$ 18
Acesso e elevador para cadeirantes. Ar condicionado.
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