Freio no lançamento de DVDs no Brasil

 

Os donos de cinema querem colocar um freio no lançamento de DVDs no Brasil. Eles pretendem obrigar os distribuidores de filmes a respeitar um intervalo de tempo mínimo entre a estréia dos títulos nas salas e nas locadoras.

Esse intervalo, na verdade, sempre existiu informalmente. É chamado de “janela” no jargão da indústria cinematográfica. O problema, do ponto de vista dos exibidores, é que as “janelas” encurtaram nos últimos anos e as locadoras passaram a fazer concorrência com as salas de cinema.

Se antes o espectador tinha de esperar pelo menos seis meses para ver em DVD um filme que “perdeu” nos cinemas, hoje a demora habitual é de quatro meses.

A perspectiva de ter acesso cada vez mais rápido ao filme desestimula o espectador das capitais a ir ao cinema, avaliam os exibidores, que enfrentam queda de público. Para as salas do interior, o problema é maior. Os filmes só circulam pelo interior depois de esgotar sua carreira nas capitais. Muitas vezes, chegam com o DVD ou depois dele.

Um exemplo disso ocorreu com o filme-fenômeno de 2005, “2 Filhos de Francisco”. Lançado em agosto nos cinemas, o longa saiu em DVD em dezembro, antes que as cópias do filme tivessem chegado a muitas salas do interior. Para a distribuidora, era importante aproveitar o aquecimento das vendas de Natal. Extrair o máximo de renda do filme em todos os formatos de exploração é a lógica que rege o encurtamento das “janelas”.

Para se proteger, os exibidores recorreram à Ancine (Agência Nacional do Cinema), pedindo que ela regule a questão -fixe um intervalo obrigatório e fiscalize o seu cumprimento.

A questão é espinhosa não só no Brasil. Nos EUA, o produtor e diretor Steven Soderbergh pôs-se à prova neste ano, ao lançar seu “Bubble” simultaneamente nos cinemas, em DVD e na TV paga. A venda de ingressos foi modesta, US$ 70 mil (R$ 144 mil), para um filme de orçamento também modesto, US$ 1,6 mi (R$ 3,3 mi).

O relativo fracasso de Soderbergh reforça um argumento dos exibidores: “Sem um grande sucesso em cinema, não se faz um sucesso em DVD”, diz Adhemar Oliveira, dono das redes Espaço Unibanco e Unibanco Arteplex.

“É impensável alargar as “janelas”. O cinema é que tem de se reinventar. Ele entrou em crise e está usando a solução simples que é culpar a “janela”, diz João Mesquita, diretor da rede Telecine.

Mesquita é “partidário da redução das “janelas” e nem poderia ser diferente. A TV paga, onde ele atua, é a penúltima ponta no elo convencional da cadeia de distribuição. Depois do DVD, os filmes passam pela TV paga antes de chegar à TV aberta.

O executivo diz que “o cinema ficou atrelado à pipoca” e não percebeu que a “fantástica” qualidade de imagem do DVD iria seduzir o espectador, “ainda mais num país que tem ingressos relativamente caros e o gravíssimo problema da violência”.

Oliveira refuta a idéia de que a defesa das “janelas” é uma defesa do atraso. “Não se trata de ser conservador, mas de lutar contra uma velocidade desumana”, diz. Refere-se à “velocidade desumana” da concorrência no mundo dos negócios e também à avalanche de informações que recai sobre o consumidor. “Do jeito que vai, não haverá hora suficiente no dia para o cara fruir nada. Vai ficar um neurótico”, afirma.

A portas fechadas, exibidores de São Paulo estudam boicotar filmes cuja estréia em DVD esteja prevista para breve. A iniciativa encontra eco no Rio de Janeiro. “Não se trata de retaliar ninguém. Mas, se amanhã eu souber que um filme está entrando muito rápido em DVD, vou evitar lançá-lo”, afirma Luiz Severiano Ribeiro, presidente da rede de salas de cinema Severiano Ribeiro.

A respeito da velocidade máxima das “janelas”, o presidente da Ancine, Gustavo Dahl, faz uma interrogação: “É uma tendência de mercado ou é a predação de um segmento sobre outro?”.

Vice-presidente para a América Latina da distribuidora gigante Universal Pictures, Jorge Peregrino prefere ver o governo fora desse debate. “Esse é um negócio eminentemente privado. O acordo deve ser buscado internamente. Deixa o governo se ocupar lá do gás da Bolívia”, diz.

Peregrino diz que “o cinema não acaba”, a despeito de qualquer previsão fatalista. Mas afirma que “o aumento da “janela” vai financiar ainda mais a pirataria”.

Dahl tem uma réplica pronta: “Não se pode estipular uma política de regulação a partir de um delito”. O presidente da agência estima que uma “janela” razoável entre a estréia dos filmes nos cinemas e seu lançamento em DVD deva girar em torno de “quatro a seis meses”.

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

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