Putin se prepara para um Dia da Vitória como nenhum outro. Existe expectativa internacional de que ele anuncie nova ofensiva sobre a guerra contra a Ucrânia neste dia.
Na segunda-feira, milhares de soldados, tanques e veículos militares marcharão pela Praça Vermelha de Moscou, enquanto jatos de combate sobrevoam como parte do desfile anual do Dia da Vitória.
Este dia de orgulho, que marcará o 77º aniversário da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, é visto por alguns observadores como uma ferramenta de propaganda do governo do presidente Vladimir Putin, que defende aspectos históricos para justificar a invasão da Ucrânia para “desnazificá-la”.
E alguns temem que Putin use a ocasião comemorativa deste ano para aumentar os esforços de guerra. À medida que o Dia da Vitória se aproxima, alguns observadores acreditam que os altos escalões, frustrados com a falta de progresso em subjugar a Ucrânia, pedirão que Putin declarará guerra total.
Acredita-se que o putinismo tentará usar o Dia da Vitória para algum propósito de afirmação de poder. Avalia-se que seria difícil declarar vitória sobre a Ucrânia, mas existe a expectativa de anúncio de uma nova ofensiva ou fase da guerra.
Alguns também temem que Putin possa anunciar uma mobilização em massa, chamando homens aptos para o serviço. No entanto, rumores anteriores de lei marcial e recrutamento em março provaram estar errados.
Guerra existencial
Especialistas avaliam que a vitória na Segunda Guerra Mundial tornou-se o mito definidor da vida soviética do pós-guerra, mais até que a Revolução. O Dia da Vitória foi celebrado pela primeira vez em 1965 sob o comando do líder soviético Leonid Brezhnev, um veterano da guerra.
Também é marcado em toda a diáspora russa e em outros ex-países soviéticos, incluindo a Ucrânia, que em 2015 mudou simbolicamente a data para 8 de maio, quando a Europa lembra o dia.
A 8 de maio de 1945, o comandante das restantes forças alemãs rendeu-se ao Exército Vermelho, mas devido à diferença horária entre Berlim e Moscou, na Rússia a ocasião é assinalada a 9 de maio.
O Dia da Vitória marca o imenso sacrifício que o povo russo e outras nações da União Soviética fizeram na luta contra o nazismo. Apesar do triunfalismo artificial dos EUA sobre a Segunda Guerra, foram as forças soviéticas que suportaram o peso das longas e duras batalhas dia após dia, lutando corpo a corpo e de casa em casa em toda a região fronteiriça ocidental da URSS.
Em 22 de junho de 1941, o exército alemão iniciou sua invasão da URSS, denominada Operação Barbarossa, quando os alemães declararam que os povos eslavos eram menos que humanos. A terra russa deveria ser usada como Lebensraum, ou “espaço vital”, para colonos alemães. Ali, a guerra se torna existencial para os russos e soviéticos.
Hitler acreditava arrogantemente que a guerra não duraria mais de três meses; seus soldados não se preocuparam em trazer roupas de inverno. Embora houvesse sucessos alemães iniciais, o Exército Vermelho não desistiu.
As tropas da Wehrmacht receberam passe livre para realizar execuções em massa de prisioneiros de guerra, enquanto a Schutzstaffel (SS) cometeu atrocidades contra civis soviéticos, especialmente os de origem judaica, pelos planos genocidas de Hitler para uma “solução final”.
Durante a invasão de Kharkiv na Ucrânia, as SS massacraram 15.000 judeus ucranianos.
Enquanto isso, mais de um milhão de civis morreram no cerco de Leningrado em 1941-44, que a própria família de Putin viveu. O presidente russo revelou que seu irmão mais velho morreu de difteria, enquanto seu pai serviu em um esquadrão de sabotagem e foi ferido.
Mas em 1943, o rápido avanço dos alemães desmoronou sob o peso do feroz inverno russo e guerrilhas partidárias, perdendo batalhas importantes como Stalingrado, um dos confrontos mais mortais da guerra, onde o 6º Exército do general Paulus pereceu aos milhares de fome, frio e tiros russos.
O contra-ataque do Exército Vermelho empurrou os alemães de volta pela Polônia e, em maio de 1945, os soldados russos estavam levantando a bandeira vermelha sobre o Reichstag.
O resgate de Stepan Bandera
Alguns ucranianos, inicialmente acolheram os alemães como libertadores, pelo divisionismo que havia contra a revolução e Stalin. O Exército Insurgente Ucraniano liderado por Stepan Bandera colaborou com os nazistas, enquanto outros locais se juntaram às forças auxiliares alemãs e participaram de atrocidades como o massacre de Babi Yar, no qual cerca de 34.000 homens, mulheres e crianças judeus foram assassinados perto de Kiev.
Mas outros milhões de ucranianos lutaram e morreram contra os nazistas, e Kiev, junto com Moscou e Leningrado, detém o título de Cidade Heroica por bravura excepcional.
Ao tentar deixar de lado a influência de Moscou nos últimos anos, figuras nacionalistas como Bandera foram adotadas na Ucrânia, apesar de seu passado questionável.
É isso que em parte está por trás das alegações de Putin de que Kiev foi invadida pelos nazistas. Embora haja milícias neonazistas, especialmente, em Mariupol, há controvérsias sobre o governo ucraniano estar dominado por esse tipo de ideologia. As milícias atuam junto com o exército ucraniano, mas também têm estratégia própria e não seguem um comando central, o que os torna alvo preferencial da Rússia.
No passado, delegações de membros da OTAN, como Polônia, Reino Unido, França e Estados Unidos, participaram do desfile do Dia da Vitória. Este ano nenhum líder estrangeiro foi convidado, nem mesmo o aliado próximo de Putin, o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko.
Com informações da AlJazira
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