Crônica de um Aniversário Farroupilha

 

Alguns não irão concordar, mas como sou levado pelo meu cérebro ladino, inquiridor e insatisfeito, vamos a prosa:  Fazer aniversário em 20 de setembro é como nascer no palco de um CTG: enquanto todo mundo canta parabéns, tem gente lá fora marchando com bombacha, cavalo e bandeira tremulando. Coincidência? Destino? Ou apenas a vida dizendo: “meu filho, tua data vai ter sempre um desfile junto”.

E já que caí nesse dia, me sinto autorizado a dar uns pitacos históricos. Não briguem comigo — afinal, aniversariante pode falar umas verdades com cobertura de bolo, não é mesmo? Eu prefiro brigadeiro, adoro!

Pra começar: a imagem heroica da Revolução Farroupilha foi meio que passada por um filtro “Instagram do século XIX”. Escritores, políticos e folcloristas foram ajeitando as arestas até que os Farrapos virassem quase super-heróis de bombacha. Só que, como sempre, a história real era menos épica e bem mais bagual.

Outro detalhe: não foi o Rio Grande inteiro que aderiu à revolta. Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande olharam pros Farrapos e disseram: “Bah, mas não dá, gurizada, tamo com o Império mesmo”. Então, na prática, a coisa ficou mais restrita à metade sul. Ou seja, revolução regional com pretensões estaduais.

E a motivação? Bom, não era liberdade, igualdade e fraternidade, não. Era charque. Isso mesmo: carne salgada. O charque gaúcho tava pagando imposto alto, enquanto o do Uruguai entrava baratinho. Resultado: revolta tributária com cheiro de churrasco.

Quanto à escravidão… melhor não dourar a pílula. Os Farrapos não estavam preocupados em libertar escravos. E quando negros e indígenas entraram pra luta, a recompensa foi traição. O massacre de Porongos é a lembrança amarga disso. Ou seja: prometeram baile, mas apagaram a música antes da primeira vaneira.

Chegando ao fim: o famoso Tratado de Ponche Verde. Chamam de “paz honrosa”, mas na real foi um “meio-termo” cheio de empurra-empurra. Quem ganhou? Quem perdeu? Difícil dizer. O certo é que os Farrapos não levaram a taça — e ainda assim a torcida insiste em chamar de empate moral.

Moral da história: a Revolução Farroupilha não foi esse épico libertário que muita gente repete. Mas virou símbolo, tradição, orgulho. E tudo bem! Só não custa lembrar que, na churrasqueira da história, o mito sempre coloca mais sal grosso do que a carne aguenta.

E como bom aniversariante de 20 de setembro, só me resta levantar a taça, cortar o bolo e dizer: parabéns pra mim e pra todos os Farrapos de alma — mas, por favor, sem exagerar na lenda.

 

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor

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