O crescente roubo de documentos valiosos deixou o Ministério da Cultura em estado de alerta. Os cofres serão abertos e, somente no Rio de Janeiro, serão investidos mais de R$ 3,2 milhões em tecnologia de segurança, ainda este ano. A instalação de sensores eletrônicos e câmeras de vídeo faz parte de um conjunto de estratégias para evitar novos prejuízos aos acervos de bibliotecas e museus.
Como antecipou Ricardo Boechat, do Jornal do Brasil, o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista receberá R$ 500 mil do orçamento direto do Ministério da Cultura e mais R$ 233 mil da Caixa Econômica Federal (CEF), para investir na reestruturação, climatização e segurança da biblioteca de obras raras, de onde desapareceram 24 in-fólios, dos quais 17 foram levados inteiros e o restante teve as gravuras cortadas. Sumiram as transcrições de viagens e registros ilustrados sobre os índios da América do Sul, feitos pelo alemão Hans Staden, em 1592. Do documento, com 296 folhas, só restou a capa, que não era a original.
Diretor do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (Iphan), o antropólogo José do Nascimento Júnior informa que 21 instituições públicas e privadas instaladas no Rio de Janeiro receberão os recursos, provenientes da lei de incentivo à cultura e dos editais feitos em parceria com o BNDES e a CEF.
“Não basta o governo investir, é preciso que as instituições mudem o procedimento de consulta e vigilância de seus acervos, para evitarmos novos prejuízos à memória histórica e cultural do Brasil”, observa o diretor do Iphan.
Em outubro de 2003, centenas de mapas e gravuras dos séculos XVII e XVIII, além de fotografias do século XIX, foram roubados da Mapoteca do Palácio do Itamaraty, no Centro. No acervo desaparecido havia rotas de navegação, divisas de capitanias hereditárias e delimitação de fronteiras pintadas a mão em aquarela ou a nanquim. Algumas pranchas têm detalhes em ouro.
Um dos centros culturais contemplados é o da Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, de onde desapareceu há cinco anos a coleção Plynio Doyle, recuperada ano passado, em São Paulo, por agentes da Polícia Federal. A diretora do Centro de Memória e Informação, Ana Pessoa, aguarda a liberação da Justiça para reintegrar as revistas ao acervo.
Por sugestão do Iphan a Polícia Federal estuda uma maneira de combater a evasão da memória histórica brasileira, aumentando a fiscalização nos aeroportos. O delegado Deuler Rocha diz acreditar que gravuras e mapas antigos podem estar em países como França e Holanda, onde há colecionadores especializados e “apaixonados” pelo assunto.