Cinemateca Brasileira completou 70 anos

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Há exatos 70 anos, foi criado, em São Paulo (SP), um espaço dedicado à preservação, à restauração e à divulgação da produção audiovisual brasileira: a Cinemateca Brasileira. Ligada à Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), a instituição conta com acervo de mais de 250 mil rolos de filmes, centro de documentação e pesquisa, biblioteca, salas de exibição, laboratório e promoção de cursos.

 

Os trabalhos contínuos da Cinemateca tiveram início em 7 de outubro de 1946, com a criação do Segundo Clube de Cinema de São Paulo, um grupo composto por intelectuais, professores universitários e pessoas da sociedade civil que se organizaram em defesa da formação de uma cinemateca e iniciaram uma prospecção de filmes em território nacional e internacional. A preservação do patrimônio cinematográfico brasileiro articulou-se à difusão sistemática da cultura cinematográfica, o que propiciou novas formas de exibição e apreciação de cinema no País.

 

Uma das personalidades centrais para que isso ocorresse foi o crítico de cinema brasileiro Paulo Emílio Sales Gomes (1916-1977), que dedicou a vida à cinemateca e faleceu antes de vê-la em sua sede atual. “Do sonho e da perseverança de Paulo Emílio, surgiu o mais expressivo centro de memória audiovisual brasileira”, destaca o secretário do Audiovisual do MinC, Alfredo Bertini.

 

Paulo Emílio foi um intelectual brilhante, que, além de criar a Cinemateca, defendeu a ideia do cinema como um elemento necessário para entender quem somos”, afirma a coordenadora-geral da Cinemateca, Olga Futemma. “Por meio de sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo, advogava pela existência da Cinemateca como um centro de memória cinematográfica do Brasil, uma fonte de pesquisa importantíssima e uma fonte de formação educativa por meio do cinema”, recorda.

 

Vida longa

 

Durante as primeiras décadas, a responsabilidade de criar condições para pleno funcionamento da instituição e para a formação de um acervo ficou a cargo de Francisco Luiz de Almeida Salles, João de Araújo Nabuco, Lourival Gomes Machado e Paulo Emílio Sales Gomes, que contavam com a colaboração de Gustavo Dahl, Rudá de Andrade, Caio Scheiby, Jean-Claude Bernardet e Maurice Capovilla.

 

Ao longo do processo histórico, o centro passou por sucessivas crises institucionais. Olga Futemma recorda que, após a Cinemateca existir em um galpão sujeito a chuvas no Ibirapuera e em outros espaços precários, a instituição finalmente se instalou na Vila Clementina, entre 1995 e 1998. “Isto representou um avanço extraordinário porque os setores todo juntos, no mesmo espaço, conseguiram se harmonizar para oferecer a cidade um centro da memória audiovisual”, avalia.

 

Olga, que trabalha na cinemateca desde 1984, se orgulha: “sempre digo que temos aqui três tesouros: a equipe altamente especializada, o acervo e o parque tecnológico que conseguimos montar ao longo dos 70 anos”, afirma. “É bonito, é muito bonito. São 70 anos, é uma jovem senhora, mais que ainda tem muito a realizar”, acrescenta.

 

Para o secretário Alfredo Bertini, a Cinemateca é fundamental e necessita de um trabalho contínuo. “Nosso trabalho é para que a maturidade dos 70 anos se renove por muito tempo, agora na perspectiva de um novo entendimento do papel da preservação no contexto econômico do audiovisual”, pontua.

 

Acervo

 

Apesar de enfrentar precariedade dos meios e dos recursos para sua manutenção, a Cinemateca Brasileira se ampliou para além do pequeno grupo de intelectuais interessados em cinema, e ganhou reconhecimento mundial, tornando-se um dos maiores acervos audiovisuais da América Latina.

 

Entre os 250 mil rolos de filmes, há curtas, médias, longas-metragens, cinejornais, documentários e obras de ficção, além de registros raros, como a coleção de imagens da extinta TV Tupi.

 

Só a filmografia da Cinemateca traz dados de cerca de 45 mil títulos, com informações de datas, cartazes, fotos e produção do filme.

 

“A produção é valiosa em cada obra e, no conjunto, aqui são depositados todos os filmes importantes realizados no Brasil. O filme mais antigo que temos é Os óculos do vovô, de 1913, produzido em Pelotas, no Rio Grande do Sul”, conta Olga. “É uma joia porque conseguiu atravessar todo esse tempo e é uma beleza”, completa.

 

O núcleo de Arquivos e coleções do Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca reúne conjuntos de documentos produzidos, acumulados ou colecionados por pessoas ou entidades ligadas ao cinema brasileiro ao longo de suas trajetórias. São fotos, textos, desenhos, manuscritos, correspondência, objetos, que guardam em si grande carga de testemunho sobre seu produtor. Entre eles, estão os de Glauber Rocha, Pedro Lima e Paulo Emílio Sales Gomes.

 

Seleção de OS

 

Desde 26 de setembro, a Cinemateca mantém inscrições abertas para a seleção de uma organização social que irá gerir, durante um ano, suas atividades. O edital privilegia a capacidade técnica e operacional da organização na gestão de projetos culturais e a experiência no trato com a administração pública. Também contam pontos o plano para a preservação e divulgação do acervo. Podem participar da seleção pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, com natureza de associação civil ou fundação, cujas atividades sejam dirigidas à cultura. As inscrições devem ser feitas até às 17h do dia 17 de outubro de 2016.

 

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