Cinema e a sua Identidade Nacional 2

 

 

Cinema e a sua Identidade Nacional

 

Em meados da década de 50, começa a surgir uma estética nacional. Nesta época são produzidos Agulha no palheiro (1953), de Alex Viany, Rio 40 graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, e O grande momento (1958), de Roberto Santos, inspirados no neo-realismo italiano. A temática e os personagens começam a expressar uma identidade nacional e lançam a semente do Cinema Novo. Paralelamente, destaca-se o cinema de Anselmo Duarte, premiado em Cannes, em 1962, com O pagador de promessas, e dos diretores Walther Hugo Khouri, Roberto Farias (Assalto ao trem pagador) e Luís Sérgio Person (São Paulo S.A.).

Nelson Pereira dos Santos (1928- ), nasce em São Paulo e, no final da década de 40, freqüenta cineclubes e já faz curtas de 16 mm. Em 1953 muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha como jornalista a partir de 1957. Faz também assistência de direção, montagem, produção e trabalha também como ator. Na direção, seu filme de estréia, Rio 40 graus (1954), marca uma nova fase no cinema brasileiro, de busca da identidade nacional, seguido por Rio Zona Norte (1957), Vidas secas (1963), Amuleto de Ogum (1974), Memórias do cárcere (1983), Jubiabá (1985) e A terceira margem do rio (1994). No centenário do cinema, em 1995, é convidado pelo British Film Institute para dirigir um filme comemorativo, ao lado de diretores como Martin Scorsese e Bernardo Bertolucci.

Roberto Santos (1928-1987), nasce em São Paulo e, em 1950, cursa o Seminário de Cinema. Trabalha nos estúdios da Multifilmes e Vera Cruz, como continuista e assistente de direção. A partir de 1966 leciona cinema e roteiro na Escola Superior de São Luís e na ECA-USP. Posteriormente, realiza alguns documentários, Retrospectivas e Judas na passarela, na década de 70. O grande momento, de 1958, seu filme de estréia, aproxima-se do neo-realismo e reflete os problemas sociais brasileiros. Seguem, entre outros, A hora e a vez de Augusto Matraga (1965), Um anjo mau (1971) e Quincas Borba (1986).

Walter Hugo Khouri (1929- ), paulista, produz e dirige teleteatros para a TV Record, na década de 50. Trabalha como crítico de cinema e jornalista. Nos estúdios da Vera Cruz, começa fazendo preparação de produção e, em 1964, passa à frente da companhia. Influenciado por Bergman, sua produção enfoca os problemas existenciais, com trilha sonora refinada, diálogos inteligentes e mulheres sensuais. Autor completo de seus filmes, faz roteiro, direção, orienta a montagem e a fotografia. Depois de O gigante de pedra (1952), seu primeiro filme, seguem-se Noite vazia (1964), O anjo da noite (1974), Amor estranho amor (1982), Eu (1986) e Forever (1988), entre outros.

Cinema novo

 

“Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” é o lema de cineastas que, nos anos 60, se propõem a realizar filmes de autor, baratos, com preocupações sociais e enraizados na cultura brasileira. Vidas secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, é o precursor. Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e Os fuzis, de Rui Guerra, também pertencem à primeira fase, concentrada na temática rural, que aborda problemas básicos da sociedade brasileira, como a miséria dos camponeses nordestinos. Após o golpe de 64, a abordagem centraliza-se na classe média urbana, como em A falecida, de Leon Hirszman, O desafio, de Paulo César Sarraceni, e A grande cidade, de Carlos Diegues, que imprimem nova dimensão ao cinema nacional.

Com Terra em transe (1967), de Glauber Rocha, o Cinema Novo evolui para formas alegóricas, como meio de contornar a censura do Regime Militar. Dessa fase, destacam-se Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr., O bravo guerreiro, de Gustavo Dahl, e Pindorama, de Arnaldo Jabor.

Glauber Rocha (1939-1981) é o grande nome do cinema brasileiro. Nasce em Vitória da Conquista, Bahia, e inicia a carreira em Salvador, como crítico de cinema e documentarista, realizando O pátio (1959) e Uma cruz na praça (1960). Com Barravento (1961), é premiado no Festival de Karlovy Vary, na Tchecoslováquia. Deus e o diabo na terra do sol (1964), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969) ganham prêmios no exterior e projetam o Cinema Novo. Nesses filmes predomina uma linguagem nacional e de caráter popular, que se distingue daquela do cinema comercial americano, presente em seus últimos filmes, como Cabeças cortadas (1970), filmado na Espanha, e A idade da terra (1980).

Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) nasce no Rio de Janeiro e cursa a UFRJ. Recebe influências do professor do cinema mudo e fundador do primerio cineclube brasileiro, Plínio Sussekind Rocha. Na primeira experiência profissional, trabalha como assistente de direção. No final da década de 50, dirige seus primeiros curtas – Poeta do castelo e O mestre de Apipucos – com os quais consegue uma bolsa para estudar cinema na França e em Londres. De volta ao Brasil, participa do Cinema Novo e dirige importantes obras, como Cinco vezes favela – 4o episódio: Couro de gato – (1961), Garrincha, alegria do povo (1963), O padre e a moça (1965), Macunaíma (1969) e Os inconfidentes (1971).

Cinema marginal

 

 

No final da década de 60, jovens diretores ligados de início ao Cinema Novo vão, aos poucos, rompendo com a antiga tendência, em busca de novos padrões estéticos. O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla, e Matou a família e foi ao cinema, de Júlio Bressane, são os filmes-chave dessa corrente underground alinhada com o movimento mundial de contracultura e com a explosão do tropicalismo na MPB.

Dois autores têm, em São Paulo, suas obras consideradas como inspiradoras do cinema marginal: Ozualdo Candeias (A margem) e o diretor, ator e roteirista José Mojica Marins (No auge do desespero, À meia-noite levarei sua alma), mais conhecido como Zé do Caixão.

Referências bibliográficas

 

 

·                    SOUSA, Ernesto de. O que é o cinema. Lisboa: Arcadia, 1960.

·                    BERNARDET, Jean-Claude; RAMOS, Alcides de Amorim; RAMOS, Alcides Freire, et al.. Cinema e História do Brasil. São Paulo: Contexto, 1988.

·                    ARAÚJO, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. São Paulo: Scipione, 1995.

·                    KNIGHT,Arthur. Uma História panorâmica do cinema. (Rio de Janeiro): Ed. Lidador, 1957.

·                    GODARD, Jean-Luc. Introdução a uma verdadeira História do cinema. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

·                    BILHARINHO, Guido. Cem anos de cinema. Uberaba: Instituto Triangulino de Cultura, 1996.

 

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