APEX-Brasil

 

 

Exportar e projetar a cultura brasileira no exterior para além dos estereótipos comuns de samba e futebol vem sendo um dos trabalhos desenvolvidos pela APEX-Brasil, uma agência governamental voltada ao estímulo das exportações nacionais. Um dos setores onde o órgão desenvolve projetos é o de entretenimento e serviços, que na área cultural, engloba os segmentos de instrumentos musicais, música independente e audiovisual (tv e cinema). A estimativa é que em 2006 esse setor atinja US$50 milhões em exportações.

Os projetos são desenvolvidos com cada setor, e operacionalizados por entidades que representem as empresas da área, que recebem da APEX recursos financeiros e o know-how de promoção comercial das exportações.

Para a área de TV, a APEX tem um convênio assinado com a ABPI-TV (Associação Brasileira dos Produtores Independentes de TV). Nos últimos dois anos, o setor arrecadou US$15 milhões em exportações, superando significativamente a estimativa original de US$6 milhões (a exportação desse setor antes do projeto era de apenas US$2 milhões). O carro-chefe do programa é a participação de produtoras em feiras internacionais (como a MIPCOM na França, a principal do setor), impulsionada pelo crescente interesse pelos conteúdos audiovisuais brasileiros, bastante diferenciados devido à riqueza da diversidade cultural do país. Para essa finalidade, foi criada a marca “Brazilian TV Producers” para o mercado internacional.

Com a dificuldade interna de encontrar espaços de exibição e distribuição e a falta de mecanismos de financiamento, o caminho das feiras vem sendo utilizado cada vez mais como alternativa pelas produtoras nacionais. Os principais compradores são França, EUA e Alemanha e o Canadá vem crescendo em participação.

No cinema, a parceria com o SICESP (Sindicato da Indústria Cinematográfica do Estado de São Paulo) estabeleceu dois focos principais: a co-produção internacional de cinema e a distribuição internacional das produções brasileiras, tanto para salas de exibição quanto para televisão e home vídeo. O investimento será de quase R$5 milhões e as metas são obter exportações de US$3 milhões em 2006. No Festival de Cinema de Cannes, encerrado na semana passada, foi lançado o “Programa Cinema do Brasil”. Um estande na feira de negócios do evento ofereceu apoio e estrutura para 33 produtores e distribuidores brasileiros negociarem seus filmes no mercado internacional.

Outro segmento valorizado pela diversidade cultural brasileira é o de instrumentos musicais, que em 2005 exportou US$15 milhões. É uma oferta bastante variada, que inclui instrumentos de sopro, cordas e percussão, além dos assessórios. A ANAFIM (Associação Nacional dos Pequenos e Médios Fabricantes de Instrumentos Musicais) é a parceira da APEX no projeto de exportações. EUA, Alemanha e Japão aparecem como os maiores mercados.

Entre os produtos comercializados no setor de música, estão cds, dvds, shows, licenciamento e downloads, vendidos para países como França, Itália, Inglaterra e Japão. Uma das principais ações para este ano envolve a Popkomm, uma das maiores feiras internacionais de música que ocorre em setembro em Berlim. Dentro do projeto “Copa da Cultura”, do Ministério da Cultura, o Brasil terá destaque com o maior estande do evento e 17 shows de músicos independentes.  O país também esteve presente na MusikMesse Frankfurt, a maior feira mundial de instrumentos musicais.

A Copa do Mundo também serviu de mote para a APEX lançar a campanha promocional “We do it d!fferent”’ (Nós fazemos diferente).“Queremos ampliar a participação do Brasil no mercado internacional. Mostrar que, como no futebol, as indústrias brasileiras englobam uma enorme diversidade de talentos”, observa o presidente da APEX-Brasil, Juan Quirós. “Esse é o momento propício para os negócios, uma vez que há uma grande empatia entre o povo alemão e o brasileiro e somos um dos favoritos a vencer o torneio. Ou seja, as atenções estão voltadas para o Brasil”, acrescenta.

Na área cultural, além da música, a campanha irá explorar o setor de artesanato. Embora os números pareçam modestos quando comparados com outros segmentos, vêm aumentando a cada ano. Em 2005, a Feira Nacional de Artesanato, realizada em Belo Horizonte, teve um montante de exportações de cerca de  US$2.100 milhões. Durante este ano, o Brasil participará de quatro eventos internacionais, uma ação importante ao se considerar que as exportações são a principal fonte de escoamento para os produtos dessa área.

Novos setores têm potencial para se juntar aos atualmente trabalhados pela agência, como o de livros e literatura. Para Christiano Braga, Gerente Nacional da Carteira de Projetos de Serviços, Cultura e Entretenimento da APEX, “o Brasil figura como um dos países com maior produção literária,  porém se vende muito pouco lá fora. Poucos autores brasileiros são conhecidos e as ações no mercado externo são ainda pontuais.” Outro segmento atraente, segundo ele, é o de artes visuais, “devido à qualidade e diversidade da arte contemporânea brasileira e o potencial de compra que existe no mercado internacional.” A APEX já iniciou encontros com instituições e grupos de empresários desses setores.

Mas a exportação da cultura brasileira também enfrenta dificuldades, a começar pelas internas. Segundo Braga, “é importante lembrar que exportação é a ponta de um icerbeg que começa na produção e que demanda um esforço enorme do país, seja para ajustar as suas políticas culturais, estabelecer marcos regulatórios atuais para os diferentes setores, ou criar um sistema que possa medir esse esforço de promoção nos serviços e particularmente no âmbito das chamadas economias criativas”. Ele explica que as dificuldades prosseguem no mercado externo. “As informações sobre o Brasil ainda remetem a imagens estereotipadas que têm uma grande influência no imaginário mundial, e é claro que isso se reflete no trabalho de promoção. É difícil não perceber o nosso know how de país produtor de grandes eventos de massa como o carnaval, mas por outro lado, é difícil promover o Brasil como um país de inovação tecnológica, apesar da nossa reconhecida criatividade.”

Apesar das barreiras, o potencial futuro se revela bastante promissor. Os números atingidos pela exportação da cultura brasileira vêm aumentando significativamente nos últimos anos, e isso levando em conta apenas os projetos desenvolvidos pela APEX. Diversos setores culturais ainda não vêm sendo devidamente explorados economicamente, e até o final do ano, deverá estar funcionando em Salvador o Centro Internacional da Economia Criativa, que colocará o Brasil no centro do debate sobre a importância que a cultura pode representar para o desenvolvimento sócio-econômico de um país. Dentro desse panorama, as exportações terão um papel cada vez mais importante a cumprir.

Cultura e Mercado

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