O maestro, pianista, arranjador, produtor, compositor e educador Antonio Adolfo é um dos mais importantes músicos do Brasil. Com uma discografia imensa, além de vários livros lançados aqui e nos exterior, ele tem sido ao longo do tempo um dos porta-vozes do nosso país quando o assunto é música, viajando por várias cidades brasileiras e no exterior. Nesta entrevista ele nos conta um pouquinho de sua carreira, seu envolvimento com educação musical, seu novo disco com Carol Saboya e também fala do seu mais recente projeto de educação musical, a escola Brazilian Music Workshop, criada no sul da Flórida, nos EUA e a programação do primeiro evento – um workshop com início na próxima semana. Confira:
BLOG (Ava Araujo): Em 1977, você teve a iniciativa de produzir o primeiro disco independente no Brasil criando o selo Artezanal, numa atitude corajosa, inovadora e modernista, dando o primeiro passo para um movimento verticalmente crescente da produção independente no Brasil. Como você avalia este processo ao longo do tempo?
ANTONIO ADOLFO: Na verdade, produção independente no Brasil sempre existiu, desde o tempo de Chiquinha Gonzaga, que tinha uma gravadora de fundo de quintal em sua casa, bem como vendia suas partituras de porta em porta. Teve também o Tim Maia “Racional” e alguns lançamentos na área erudita. O que aconteceu foi que, em 1977, com o lançamento do meu disco Feito em casa, o movimento criou força e, hoje, passou a ser a maioria dos títulos lançados. O que aconteceu também foi que o termo produção independente expandiu e passou a ser adotado pelas pequenas e até gravadoras de médio porte. Ou seja, quase tudo que não era bancado pelas multinacionais passou a ser chamado de produção independente. Há uma grande diferença, portanto, entre o músico auto produtor (prefiro usar esse termo hoje em dia) e o que se chama de sêlo independente.
BLOG (Ava Araujo): No selo Artezanal foram produzidos inúmeros discos, alguns deles antológicos como Antonio Adolfo e a Brazuca (1969), Conjunto 3-D Muito na Onda (1967) e Tema 3-D (1964), reeditados recentemente pela EMI e RCA/BMG. O que significou para você como músico, arranjador, compositor e educador ter seu próprio meio para desenvolver seu trabalho e fazê-lo sob criativa liberdade e sem a ingerência de uma major?
ANTONIO ADOLFO: uma correção: os discos do 3D e os da Brazuca não foram lançados pelo selo Artezanal. Mas, voltando a sua questão, não há nada que possa ser comparado a você ser dono do seu copyright, principalmente quando você elaborou as músicas, criou os arranjos, executou e produziu. Outro fator importante é a liberdade que você tem para fazer o que quiser e quando quiser. Sendo assim, pude lançar discos que nunca lançaria em gravadora, aliás quase todas as minhas auto produções foram assim.
BLOG (Ava Araujo): Há bastante tempo você vem se dedicando à educação musical com o Centro Musical Antonio Adolfo, no Rio de Janeiro, que há 22 anos está em atividade. Educação musical nas escolas públicas do país, de forma planejada e apoiada pelo governo, como sonhou Villa Lobos e tantos outros, revolucionaria a cultura musical brasileira?
ANTONIO ADOLFO: Educar é uma das minhas paixões – sem desfazer de compor, arranjar e tocar, dentre outras paixões. Claro que uma educação musical moderna nas escolas públicas seria uma grande revolução no ensino do Brasil. O que não pode é querer reimplantar o método implantado pelo querido Villa. Aquilo valia para a década de 40. Hoje seria outra coisa, com Choro, Samba reggae, samba, metais, guitarras, funk, jazz, bateria, percussão, etc….Não dá pra sintetizar o ideal em uma única resposta. Tentou-se fazer uma reunião das Câmaras Setoriais propostas pelo Gil, mas infelizmente, naufragamos em todas elas. O Governo quis e não quis nos ouvir (foi mal organizado e mal elaborado, infelizmente) e aí ficamos todos em cima do muro e nada se resolveu: foi só blá blá blá. Lamentável. As idéias do Ministério da Cultura, ou melhor, do Gil, são excelentes, mas o acompanhamento tem sido deficiente em muitos casos e continua-se a privilegiar as elites musicais (e não musicais. Adoro o Gil como artista, como ser humano e como cabeça. No entanto sua assessoria passou a ser o problema no MinC, creio. Me desculpem.
BLOG (Ava Araujo): Em janeiro deste ano você lançou um novo livro sobre música brasileira, chamado “Phrasing In Brazilian Music”, especialmente dedicado ao que conhecemos como fraseado na música. O lançamento foi dentro da Conferência da International Association for Jazz Educator, da qual você faz parte. O mercado para a MPB fora do país tem evoluído muito, sua abertura e aceitação. Como você vê esse crescente interesse por nossa música em todo o mundo?
ANTONIO ADOLFO: Sim, a nossa música é cada vez mais aceita fora do país e mesmo dentro do Brasil. Não há dúvida. E isso é muito bom. Temos que prestar atenção pra não vendermos o peixe errado/equivocado fora do país, pois isso pode acabar vendendo/passando uma imagem equivocada da rica cultura brasileira.
CD Antonio Adolfo & Carol Saboya ao Vivo
www.myspace.com/antonioadolfomusic
BLOG (Ava Araujo): Seu mais recente projeto é a Brazilian Music Workshop – uma escola de música que está sendo criada no sul da Flórida – EUA – e onde está sendo programado um primeiro workshop com início dia 04 de agosto próximo. Como está sendo este processo? Fale-nos do projeto de uma forma geral?
ANTONIO ADOLFO: Na verdade venho fazendo workshops de música brasileira no exterior há muito tempo. No entanto essa nova experiência na Flórida fez com que eu me juntasse aos talentos musicais brasileiros residentes na área. Pretendo fazer isso não só na Flórida, mas em outras cidades e países, como já havia feito, por exemplo, na Dinamarca e em outros encontros de uma ou duas semanas em diversas cidades do mundo, divulgando a riqueza da nossa música. Mostrando que a nossa música tem uma coisa não traduzível em palavras que faz todos ficarem apaixonados por essa maravilha que é a Música Brasileira.
BLOG (Ava Araujo): Existe uma parceria da Brazilian Music Workshop com o Clube do Choro de Miami?
ANTONIO ADOLFO: Sim, assim como com outros artistas e comunicadores apaixonados pela MPB baseados na Flórida, como Beatriz Malnic, Cláudio Silva, Paulo de Carvalho, Gene de Souza, Rose Max, Ramatis de Moraes e muitos outros.
BLOG (Ava Araujo): Como tem sido a receptividade do público para este projeto por lá e quais as faixas etárias que serão contempladas neste primeiro evento?
ANTONIO ADOLFO: A receptividade parece que vai ser boa (começaremos em agosto) e as faixas etárias são variadas.
BLOG (Ava Araujo): O público esperado para este evento é de maioria americana e de outros países?
ANTONIO ADOLFO: Está aberto a todos, mas tem despertado o interesse principalmente dos americanos.
BLOG (Ava Araujo): Recentemente a cantora Ivete Sangalo regravou pela segunda vez Sá Marina, composição sua com Tibério Gaspar e foi lançada no CD e DVD “Ivete Sangalo ao vivo no Maracanã”. Tanto esta canção quanto outras compostas à mesma época foram consideradas pela crítica como parte de um movimento modernizador da MPB naquele momento em especial. Como o maestro avalia isso hoje?
ANTONIO ADOLFO: Está no DVD do Maracanã. Não está no cd. E está também no primeiro disco que ela gravou na carreira solo e no disco que lançou em 2006 para o mercado exterior. Realmente, na época em que compusemos (eu e Tibério Gaspar) essas músicas: Sá Marina, Teletema, Juliana e outras, era considerado um movimento de vanguarda: o da Toada Moderna, com adesão também de Milton Nascimento, Marcos Valle, Danilo e Dori Caymmi e muitos outros.
BLOG (Ava Araujo): O novo disco “Antonio Adolfo e Carol Saboya Ao vivo/Live” já está no mercado, tanto no Brasil como no exterior. O disco tem um repertório de clássicos da Bossa Nova e da MPB em geral. Como tem sido recebido este novo trabalho?
ANTONIO ADOLFO: Muito bem recebido. Simplesmente apresentamos um show que foi gravado e que mixamos e lançamos porque estava tudo natural e espontâneo: uma noite muito musical com a participação de grandes músicos e de uma grande cantora. A receptividade, tanto do show quanto do disco tem sido a melhor possível. Basta dar uma checada no www.myspace.com/antonioadolfomusic ou no Google.
*Informações sobre o Workshop acesse: www.antonioadolfo.net
Agradecimentos a Antonio Adolfo pela entrevista
e a Micaela Souza pelo apoio e produção
BLOG DA AVA – www.blogdaava.blogspot.com