Você sabia que Pixinguinha foi barrado em hotel e lamentou em choro?

 

Um choro de Pixinguinha guardou certo fato que retrata bem a época em que o músico pioneiro viveu.

Está certo que a letra colocada em Lamento por Vinicius de Moraes, bem mais tarde, caracterizou a canção como um tema de amor. Mas, segundo o flautista Altamiro Carrilho, amigo de Pixinguinha, a melodia
tem sentido mais profundo sobre a sociedade. “Racismo, naquela época, não era proibido por lei”, ressalta o jornalista Sergio Cabral a respeito dos anos 1920, na biografia sobre Pixinguinha. Quando o grupo Os Oito Batutas, do chorão, Donga e outros músicos (metade deles negros), excursionou em Paris com seus maxixes e modinhas, um cronista do Diário de Pernambuco, por exemplo, afirmava não entender como se permitia que fosse mostrado na Europa “um Brasil pernóstico, negroide e ridículo”.

Na volta da excursão, no entanto, o País já reconhecia o grupo ovacionado em Paris. Com prestígio, os Batutas foram convidados pelo jornalista Assis Chateubriand a se apresentar num hotel carioca. Só que, chegando lá, parte do grupo não pôde passar do tapete de entrada. O porteiro orientava que negros entrassem pelos fundos. Pixinguinha fitava o funcionário: “Lamento, mas sei que está cumprindo ordens”. Donga não admitia a situação, sem parar de reclamar. O companheiro só repetia: “Lamento, mas está tudo bem, não podemos fazer nada”. Até que Donga teve a ideia: “Pixinguinha, você fala tanto essa palavra que devia fazer uma música com esse título”. Daí o clima tristonho do choro Lamento, de 1928. Altamiro afirmava, quando o interpretava na flauta: “Toco com arranjo bem para baixo, de propósito”

Oito Batutas foi um conjunto musical brasileiro criado em 1919 no Rio de Janeiro e formado por Pixinguinha na flauta, Donga e Raul Palmieri no violão, Nelson Alves no cavaquinho, China no canto, violão e piano, José Alves no bandolim e ganzá e Luis de Oliveira na bandola e reco-reco.

 

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