Unidos do Cassetete faz apresentação em Curitiba.

A Polícia Militar do Paraná, com saudades dos tempos da repressão, usou balas de borracha, bombas de efeito moral, cassetetes e uma tropa de choque protegida por escudos para dispersar foliões que participaram do desfile do bloco pré-carnavalesco Garibaldis e Sacis, no Largo da Ordem, centro histórico de Curitiba, neste domingo (5) à noite.

O pronto-socorro do Hospital Evangélico informou que ao menos quatro pessoas que estavam no Largo da Ordem foram atendidas. Ao menos uma delas chegou numa ambulância. No Hospital Cajuru, a recepção não soube informar quantos foliões chegaram ao pronto-socorro, mas confirmou que houve “alguns atendimentos”.

Além deles, há informações de várias pessoas com ferimentos leves, que não precisaram ir a hospitais. De acordo com o site do jornal “Gazeta do Povo”, um policial ferido foi encaminhado ao Hospital do Trabalhador.

Segundo testemunhas, a confusão começou quando alguns foliões atiraram garrafas numa viatura da PM. “Disso veio uma reação absurdamente desproporcional. Vi policiais atirando a esmo, para qualquer lado. Mesmo que tivesse havido um atentado terrorista no Largo da Ordem, ainda assim acho a violência da PM teria sido exagerada”, criticou o arquiteto Rafael Dal-Ri, 32 anos, que assistia o desfile da sacada de um prédio.

A confusão começou pouco depois das 21 horas, quando o Garibaldis e Sacis já havia encerrado o desfile – o bloco sai nos quatro domingos que antecedem o carnaval, das 16 às 20 horas.

Uyara Torrente, 25, vocalista da Banda Mais Bonita da Cidade, que participou do desfile cantando o hit “Oração” com o Garibaldis e Sacis, foi arrastada para debaixo da mesa de um bar pela multidão que fugia da polícia.

“Após o bloco terminar sua apresentação, fomos um bar, onde conversávamos sentados. De repente, ouvimos tiros, pessoas começaram a entrar, em pânico. Fui arrastada para debaixo de uma mesa, uma criança chorava ao meu lado”, afirmou.

“Depois disso, as portas do bar foram fechadas, e amigos contaram que os policiais cercaram o prédio, batendo no próprio peito com cassetetes. Uma amiga, que teve o pai atingido por um tiro, foi chamada de ‘vagabunda’ por um policial quando tentava proteger uma criança. Outro amigo, ao tentar filmar a ação policial, levou um tiro de borracha”, relatou Uyara.

“Vimos a polícia descendo, numa espécie de arrastão. Ficamos com medo e entramos num bar. De repente chegou um policial mandando abaixarem a porta do bar, enquanto apontava uma escopeta para quem estava lá dentro. Achei que ele fosse atirar”, disse o funcionário público Ricardo Polucha, 36, que participava da festa com amigos.

“O que mais me impressionou foi ver a polícia usar violência desproporcional contra pessoas mais velhas, mulheres, pessoas que estavam festejando. Não eram baderneiros”, falou Polucha.

“A polícia chegou dando tiro em todo mundo. Fui atingido de raspão no pé, mas um amigo levou um tiro no peito. Foi uma atitude arbitrária, um ato de covardia. Como cidadão, quero saber quem mandou fazer isso. Ninguém ali era marginal”, protestou o iluminador Luiz Nobre, 48, integrante do Garibaldis e Sacis.

Um dos organizadores do bloco, o músico Marcel Cruz, 32, disse que a confusão começou quando o grupo recolhia instrumentos do caminhão usado para o desfile. “Ouvimos tiros, logo depois veio uma multidão correndo, e a PM, o Batalhão de Choque, dando tiros, jogando bombas de gás. Vi uma mulher grávida correndo, para fugir, e um jornalista ser atingido por um cassetete”, relatou.

No domingo passado, o Garibaldis e Sacis estima ter reunido cerca de 20 mil pessoas no Largo de Ordem. “Esta semana, pedimos aos meios de comunicação para não divulgarem a festa, para evitar aglomerações. Durante a semana, pedi reforço de segurança à Guarda Municipal, e fui bem atendido. A secretaria estadual de Segurança Pública (a quem a PM é subordinada) foi informada de nossos desfiles por ofício em 23 de dezembro passado”, falou Cruz.

“A Guarda Municipal estava presente. A PM disse que iria caso houvesse problemas (a região é monitorada por câmeras)”, explicou o músico. Luiz Nobre reclamou da ausência da PM. “Durante o desfile do bloco, não havia um carro da PM para proteger quem estava lá. Um casal relatou ter sido assaltado às 19 horas. Eles só apareceram depois, para agredir quem ainda estava lá.”

Marcel Cruz disse que, até o final da noite deste domingo, não havia sido procurado por autoridades para falar sobre o incidente. “Espere que não cause problemas para o bloco, até porque nem estávamos tocando quando houve a confusão”, afirmou.

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