Um novo eixo para a Cultura

Fora do EixoO que fazer quando mesmo com uma forte cena musical, as bandas de uma cidade não têm espaço pra tocar e nem para circular seus discos e CDs? Pensando nisso, em 2005, um grupo de produtores das cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR) se organizou para estimular a circulação de bandas, o intercâmbio cultural e de produção, e a escoar produtos musicais dessas regiões. Esta rota foi batizada de Circuito Fora do Eixo (CFE), nome escolhido por se tratar de uma área fora do circuito musical mais profissionalizado e industrializado existente entre as capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo. O circuito realiza um amplo trabalho e compreende festivais, selos, casas de show, projetos e também pensa políticas culturais.

O grupo que gere o CFE já vem colhendo bons frutos: a rede cresceu, as relações de mercado estreitaram-se, e festivais de música independente que antes eram pouco conhecidos hoje têm seu nome e fama espalhados pelo Brasil – inclusive no eixo Rio-São Paulo. O crescimento e o desenvolvimento do circuito também foi favorecido graças à facilidade das novas tecnologias e ao aumento do acesso à informação, que criaram solo fértil para o surgimento e fortalecimento de pequenos empreendimentos na área.

Entre as principais conquistas do Circuito Fora do Eixo está a criação do Congresso Fora do Eixo, que teve sua primeira edição em 2008. “O congresso foi uma consequência natural do desenvolvimento do circuito, pois era preciso discutir nossas questões de forma mais orgânica e sistemática”, conta Daniel Zen, hoje secretário de cultura do Estado do Acre e um dos fundadores do CFE.

A segunda edição acaba de acontecer na cidade de Rio Branco (AC), dos dias 21 a 27 de setembro. O objetivo do Congresso Fora do Eixo é discutir e debater os rumos da cultura brasileira, abordando desde as iniciativas que dão certo pelo país até políticas culturais. Entre os temas estão: economia criativa, artista e mercado musical, tecnologia social, empreendedorismo e economia solidária. No ano passado, o principal resultado do congresso foi a sugestão da criação dos pontos Fora do Eixo. Hoje, existem 38 pontos em todo o Brasil, distribuídos em 18 estados, feitos para disseminar a causa e aumentar a rede do circuito.

Simultaneamente ao II Congresso Fora do Eixo aconteceu o Festival Varadouro 2009, um dos maiores festivais de música independente do País. Segundo Karla Martins, uma das organizadoras do festival, “é importante ter o congresso durante o Varadouro, pois um completa o outro”. Ambos foram realizados pelo Coletivo Catraia, com o apoio do Sebrae do Acre, apoio cultural da Associação Brasileira de Festivais Independentes e do Circuito Fora do Eixo, patrocínio da Petrobras e do Governo do Estado do Acre, via Fundação Elias Mansour.

Coletivos motivados  

Um dos destaques do congresso foi a palestra com o professor da Universidade Federal de São Carlos, Ioshiaqui Shimbo, da Incoop, Incubadora de Cooperativas Populares da UFSCar. Ele, que pesquisa a aplicação da economia solidária em empreendimentos de produção e prestação de serviços em diferentes setores, presta assessoria às cooperativas incubadas, preparando suas estruturas e qualificando-as para a inserção no mercado após seu processo de formação. Vários coletivos do Circuito Fora do Eixo são assessorados pela Incoop. Quando as cooperativas deixam as incubadoras, a Incoop continua a acompanhar seu desenvolvimento.  

Ele confessou ser “impressionante” como os coletivos presentes na palestra já “vêm praticando economia solidária”. E ainda destacou a riqueza desta conquista, visto que “a adesão do indivíduo no coletivo é livre, espontânea, esclarecida e consciente”.  

Para Daniel Zen, “todos os temas discutidos durante a semana foram importantes”. Mas, em especial, ele destacou a troca de conhecimento que todos os representantes de coletivos ali presentes puderam experimentar. “Todos saíram de lá motivados a continuar o ótimo trabalho que vêm realizando e com novas ideias para seguir adiante”.  

Se no ano passado o congresso serviu para fortalecer o objetivo de criar os Pontos Fora do Eixo, este ano o circuito avançou no processo da sua legitimação por meio da aprovação de um regimento interno, da sua carta de princípios e do planejamento de um projeto político. “Tudo isso já existia empiricamente, mas era preciso colocar no papel”, afirma o secretário.  

Além disso, o encontro anual é muito importante para que o circuito alinhe suas ações para o próximo ano. Apesar de ser mais conhecido pela sua atuação em benefício dos festivais e da música independente, o CFE atua na defesa ao acesso à cultura e às manifestações culturais de qualidade como direito de todo cidadão. “O Brasil possui uma grande diversidade cultural e a indústria não dá conta de toda essa produção”, ressalta. “É preciso garantir formas de fazer a cultura marginal aparecer”.  

O III Congresso Fora do Eixo ainda não tem data marcada, mas já tem lugar definido: acontecerá em Uberlândia (MG), simultaneamente ao festival de música independente da cidade, o Jambolada.

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