Francis Hime
O cantor e compositor Francis Hime, de 65 anos, recorre a uma passagem do documentário de João Moreira Salles, sobre o também pianista Nélson Freire, para alertar que seu instrumento predileto é uma verdadeira incógnita. “Nunca se sabe o que um piano vai aprontar”, repete Francis, depois de ouvir a mesma frase de Freire.
Convidado pelo Teatro Municipal de Nova Lima para inaugurar o recém-adquirido piano de cauda inteira Kawai, de fabricação japonesa, ele vai viver experiência inédita, depois de dedicar décadas ao instrumento. “Não me lembro de ter inaugurado um piano”, afirma.
Sexta e sábado, Francis se apresentou em Nova Lima ao lado de duas convidadas mineiras, as cantoras Lígia Jacques, de 44 anos, e Ângela Evans, de 31. Neste domingo, faz show no Teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte. Relançado pela Biscoito Fino em setembro, o CD Álbum musical, de Francis Hime, que chegou ao mercado pela Warner Music, em 1997, é a base dos três shows.
Considerado pelo próprio Hime a síntese de um período importante, por reunir suas canções mais representativas de 1963 a 1984, o disco traz intérpretes como Maria Bethânia, Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento, que interpretam clássicos que ele compôs com Vinícius de Morais, Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, entre outros.
Uma das experiências mais apaixonantes que Francis viveu com o piano ocorreu na sede da gravadora Biscoito Fino: encomendado por Arnaldo Cohen, o Stein de cauda inteira, usado pela Filarmônica de Berlim, emocionou-o com sua qualidade exuberante. Foi alojado em uma sala de onde jamais poderá sair, devido à estrutura do imóvel.
“Não me lembro de ter inaugurado um piano” • Francis Hime
Na carreira do compositor, eventualmente o piano também aparece em algumas canções. A que mais marcou foi Meu melhor amigo, com a qual inaugurou a parceria com a mulher Olívia Hime, autora da letra. Em Minas, a presença das convidadas Lígia Jacques e Ângela Evans agrada ao pianista, que, mesmo sem conhecê-las, pôde constatar a qualidade do trabalho das duas. “São originais, cada qual dentro do seu estilo”, diz, elogiando os “timbres especiais” de Lígia e Ângela. No roteiro, 18 canções do repertório do disco, a maioria composta com o amigo Chico Buarque.
O mais recente parceiro de Francis Hime é o genial Angenor de Oliveira, o mestre Cartola (1908-1980). Graças a Nilcemar Nogueira, neta do sambista, ele musicou a letra de Sem saudades, o que lhe rendeu algumas madrugadas solitárias. Ao piano.
Mineiras adoraram o convite
Lígia Jacques e Ângela Evans são intérpretes representativas do canto mineiro, cada qual contribuindo, à sua maneira, para o enriquecimento da MPB. Elas receberam com alegria o convite para se apresentar ao lado de Francis Hime. “Fico honrada com o convite prazeroso”, diz Lígia, que vai interpretar A grande ausente, parceria de Francis com Paulo César Pinheiro.
“Para mim, também é muito honroso poder cantar ao lado de uma figura histórica da MPB”, acrescenta Ângela Evans, encarregada de interpretar a comovente Trocando em miúdos, da parceria com Chico Buarque, que ela nunca havia cantado antes.
Lígia Jacques conta que, além da canção escolhida, havia enviado para Francis Hime as gravações de Minha e Sem mais adeus. “Adorei a escolha de A grande ausente, que é mais romântica e combina com a interpretação pianística”, diz. Já Ângela escolheu, de cara, a clássica Trocando em miúdos.