Mais novo livro pela Editora Telha é o primeiro de Coleção Pensamento Negro Contemporâneo, voltada para produção de saberes negros atuais
O livro “Maioria Minorizada: um dispositivo analítico de racialidade”, de Richard Santos, comunicólogo, rapper, ativista de movimentos negros/sociais e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) é a primeira obra da Coleção Pensamento Negro Contemporâneo (Editora Telha). A série vai dar espaço a pensadores de diversas áreas, sem necessariamente ser uma produção acadêmica de saberes. O prefácio é da professora Maria do Carmo Rebouças e a orelha é da cantora, compositora e deputada estadual, Leci Brandão (PCdoB-SP).
A obra visa introduzir ao público o dispositivo analítico de racialidade Maioria Minorizada, um signo de representação unificador do discurso e proposta de emancipação negra. O autor compreende Maioria Minorizada como o grupo social majoritariamente formado por pretos e pardos (negros), conforme categorização do IBGE, que formam a maioria demográfica da população brasileira, mas se constitui em “minoria” no que se refere ao acesso a direitos, serviços públicos, cidadania, representação política. Ao mesmo tempo, são “maiorias” em todo o processo de espoliação econômica, social, cultural e como vítimas de todas as formas de violência.
Subversão
Na orelha, a Deputada Leci Brandão, afirma que o livro “nos dá a grata oportunidade de subverter nosso modo de pensar sobre nós”. Além disso, ela ressalta que a obra “expõe a mídia como um dos fatores que alimentam a estrutura racista e desigual de nossa sociedade, impondo não apenas um padrão estético, mas também uma forma de pensar, um modo de produzir conhecimento, um jeito de ser e de viver branco que nos coloca, enquanto população negra, à margem dos direitos e da cidadania plena.”
Ruas e salas de aula
A conexão entre vida, obra, acúmulo teórico e vivências é explicitada no prefácio de Maria do Carmo Rebouças, que demonstra como desde as ruas e palcos como rapper – então conhecido como Big Richard, passando pela atuação nos movimentos negros, sociais, na Hip Hop, espaços políticos, de religiosidade de matriz africana, além da própria experiência acadêmica até o doutorado e da sala de aula, todos esses passos contribuem para o resultado presente no Maioria Minorizada.
Obra e vida
Segundo o autor, a construção do conceito de Maioria Minorizada e do dispositivo analítico conjugam a vivência em comunidade com sua caminhada intelectual: “Minha obra e trajetória são um compromisso intelectual de permanente justiça epistêmica articulado a um esforço de interpretação da realidade histórica e a produção intelectual daí advinda. Pesquiso, escrevo e estudo para romper, de uma vez por todas, com o complexo colonial, com o racismo e o epistemicídio”.
Autor
Richard Santos é “pós-doutor” (realizou estágio pós-doutoral) pelo Programa Multidisciplinar de Pós- Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia. Doutor em Ciências Sociais pelo Departamento de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília, ELA-UNB. Mestre em Comunicação pela Universidade Católica de Brasília. Coordenador do grupo de pesquisa Pensamento Negro Contemporâneo – UFSB – CNPq. Professor adjunto da Universidade Federal do Sul da Bahia. Ao longo de sua trajetória profissional teve oportunidade de trabalhar como repórter, apresentador, produtor e editor em diversas empresas de comunicação, sempre com o pseudônimo “Big Richard”. Nome artístico oriundo de sua atuação como artista/ativista do movimento Hip Hop internacional. É especialista em História e Cultura no Brasil pela Universidade Gama Filho-RJ e graduado em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo. É membro da Intercom, Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares em Comunicação. Desenvolve palestras, seminários e conferências nacionais e internacionais associadas à sua vida acadêmica e
político-social relacionadas ao universo da comunicação, cultura e comunidades negras e tradicionais.
Trechos do Livro:
“É fazer ver que os instrumentos utilizados para nos sacar a voz e subalternizar, fazendo-nos ventríloquos de nossos algozes, seres de cidadania mutilada, não foram tão eficientes assim, estamos vivos, ainda que carregando alvos nas costas, produzimos conhecimento a partir do saber acumulado e das vivências experienciadas. Enunciamos.”
“Dessas invisibilidades, opressões e discursos para a vida (anti-morte), é que nasce a reafirmação da cultura e ocupação do espaço na disputa do poder. Dessas experiências e lugares é que vimos os(as) intelectuais negros(as) atravessando fronteiras, rompendo barreiras invisíveis para se fazerem humanamente visíveis, presentes e contribuintes da sociedade contemporânea. É do campo da Maioria Minorizada, dos territórios negros a que foram postos, é que vimos ecoar conhecimentos e saberes insurgentes, reveladores de sua cognição complexa e de possibilidades não determinadas pela parede da opressão. “
“Ao apresentar esse novo paradigma, Maioria Minorizada, me alinho à práxis das ciências sociais latino-americanas que têm uma vocação crítica de questionar o paradigma dominante, de buscar formas de emancipação e gerar reflexões que vão além da mera reprodução de pressupostos construídos em outros contextos. Assim, recupera-se a história não contada, a versão dos invisibilizados, a oralidade, os métodos não cartesianos, as verdades não estabelecidas, a alteridade.”
Ficha técnica:
Título: “Maioria Minorizada: um dispositivo analítico de racialidade”
Autor: Richard Santos
Publicação: Editora Telha
Prefácio: Maria do Carmo Rebouças
Orelha: Leci Brandão
98 páginas
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