Renúncia fora dos planos


O momento não é dos melhores para o antropólogo Antonio Augusto Arantes Neto, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Suspeito de nepotismo e de mau uso de recursos públicos em decorrência de uma polêmica viagem a Paris para acompanhar a mulher, a coreógrafa Marília de Andrade – atração do Ano do Brasil na França -, Arantes teve seu procedimento analisado nos últimos meses pela Comissão de Ética da Presidência da República.

O parecer dos juristas foi discutido em reunião da comissão há um mês e será oficialmente publicado até o dia 21, após a aprovação da ata com o resultado da investigação, mas integrantes da comissão afirmam que informaram a decisão ao Ministério da Cultura (MinC) e ao presidente do Iphan. Nos corredores do MinC, os rumores são de que Arantes terá que pagar os custos da viagem, realizada com verba pública. Arantes diz que a comissão aguarda documentos seus para concluir o processo, e que ele não pretende deixar o cargo, mesmo se considerado culpado.

– Não penso em sair da presidência do Iphan, acho que o processo não me desautoriza nem coloca meu cargo em risco, pelo menos não tive nenhuma sinalização nesse sentido. Se falhei, estou disposto a receber a penalidade e me retratar, pois não se trata de uma falha intencional. Há uma linha muito tênue entre o interesse público e o privado, as coisas podem ficar obscuras e gerar confusão – alega Arantes.

O incidente que levou à investigação da atuação de Arantes Neto está relacionado com a apresentação do espetáculo Villa em movimento, em 13 de julho passado, no Ano do Brasil na França. Incluído entre as homenagens ao maestro Heitor Villa-Lobos no Carreau du Temple, onde foi sediado o Espaço Brasil, o espetáculo de dança dirigido pela coreógrafa Marília de Andrade é uma adaptação de Impressões brasileiras, obra encenada no centenário de nascimento do compositor, em 1988. Marília, entretanto, é mulher de Arantes Neto, e a atração foi levada a Paris dentro da agenda do Iphan.

Além da contratação da mulher, que caracterizaria nepotismo, Arantes é suspeito de usar recursos do órgão para acompanhar Marília a Paris, um interesse considerado particular. Para esclarecer a situação, o MinC enviou o processo para o julgamento da Comissão de Ética, responsável por julgar questões do gênero no âmbito dos ministérios.

– O que está em análise não é minha integridade como cidadão, mas meus procedimentos como gestor. Não estou sendo acusado de corrupção ou superfaturamento, trata-se de algo mais sutil – argumenta Arantes.

O antropólogo está há quase dois anos na presidência do Iphan – foi nomeado pelo ministro Gilberto Gil em 20 de março de 2004. Neste ano, ele administra uma dotação de R$ 35,6 milhões e cuida de 41 museus, além de mais de 20 mil edifícios tombados, 83 centros e conjuntos urbanos e 12.517 sítios arqueológicos. A autarquia do MinC prepara-se para, no ano que vem, incorporar 148 funcionários aprovados por concurso público, o primeiro realizado em três décadas. Mais de 900 candidatos disputam atualmente as vagas, na fase de análise de títulos.

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