Relembre o legado e a história de Leonel Brizola, que completaria 102 anos.

 

102 anos do nascimento de Leonel de Moura Brizola

Iniciou sua carreira no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), enquanto ainda estudava Engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Com um grupo de sindicalistas de Porto Alegre, Brizola ajudou a formar o primeiro núcleo do PTB em 1945. Além disso, demonstrava simpatia pelo presidente Getúlio Vargas, fundador do partido.

Em 1947, Brizola foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul. Ao assumir seu mandato na Assembleia, encarregada da Constituição estadual, afirmou querer representar as camadas mais carentes da população.

Logo no início, Brizola manifestou sua oposição ao grupo político liderado por Carlos Lacerda, da União Democrática Nacional (UDN).

Durante sua posse como deputado federal, acusou-o de hipocrisia por jurar democracia no plenário enquanto pregava golpe fora dele. Sua intervenção gerou grande repercussão.

Brizola também teve um papel na articulação da candidatura de Vargas para suceder o presidente Dutra em abril de 1950.

Ascensão na política

Em 1955, fundou e dirigiu o tabloide Clarim, que alcançou a circulação de 35.000 exemplares. Foi através dessa publicação que ele promoveu sua segunda campanha para prefeito de Porto Alegre, cargo que venceu ano seguinte.

Como prefeito, Brizola direcionou seus esforços para atender às necessidades das classes trabalhadoras. Ele enfatizou a importância de saneamento básico, escolas primárias e melhorias nos transportes coletivos. Seu lema “Nenhuma Criança Sem Escola” se tornou emblemático, e ele criou grupos escolares municipais em toda a área urbana.

Além disso, Brizola recebeu o apoio dos sindicatos através do Manifesto dos Trabalhadores ao Povo. O Manifesto foi assinado por cinco federações e 16 sindicatos, endossando a reforma tributária e subsidiando seu Plano de Obras.

Brizola também utilizou a pressão popular para combater a Frente Democrática no Legislativo, formada pelo PSD, UDN e o PL. Além disso, obteve saldo positivo em sua administração, o que o credenciou a disputar o governo do estado em 1958.

Leonel Brizola e a transformação do Rio Grande do Sul

Governador do Rio Grande do Sul, implementou políticas ousadas para a industrialização do estado e criação de serviços públicos estatais. Brizola garantiu que a economia gaúcha seria controlada pelo capital nacional e não aceitaria interferência estrangeira.

As ações de nacionalização tornaram-se um problema diplomático. Por essa razão, o presidente John F. Kennedy o transformou em alvo da Emenda Hickenlooper. Tratava-se de uma iniciativa para interromper a ajuda financeira a países que expropriavam propriedades norte-americanas.

Além disso, estabeleceu acordos com escolas privadas para disponibilizar vagas gratuitas e construiu mais de seis mil instituições de ensino. Como resultado, abertura de 689 mil matrículas e 42 mil vagas para docentes. Dessa forma, o estado teve a mais alta taxa de escolarização do Brasil na época.

Para empreender a reforma agrária, Brizola criou o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária, que prestou assistência e verbas para produtores. Ele também ajudou a organizar acampamentos do Movimento dos Agricultores Sem Terra e concedeu propriedade de terras da Fazenda Pangaré.

  1. Defesa da democracia em tempos de ditadura

Com a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, os militares foram contra a posse de João Goulart, o vice-presidente. Foi então que Brizola liderou a “Cadeia da Legalidade”, um movimento de resistência, que se espalhou pelo país.

Com sua habilidade de mobilização, Brizola conseguiu o apoio popular e os militares acabaram recuando, permitindo que Goulart assumisse.

Diante desse cenário, ele mudou seu domicílio eleitoral em 1962, a fim de garantir sua candidatura ao Legislativo sem renunciar ao governo estadual.

Dessa forma, pôde aceitar o convite do PTB carioca para uma vaga na Câmara dos Deputados. Brizola foi vitorioso com 269.384 votos.

No ano seguinte, Brizola liderou a criação de uma organização para implantação das Reformas de Base.

Surgia assim a Frente de Mobilização Popular (FMP), um instrumento de discussão e pressão política. Dessa forma, tinha como meta convencer o presidente João Goulart e o Congresso Nacional a acelerar a implementação dessas reformas.

Além disso, Brizola convocou os ouvintes de seu programa de rádio para formar o “Grupo dos Onze Companheiros”. Tratava-se de um movimento nacionalista contra a onda conservadora que se intensificava no Brasil.

Os Grupos dos Onze mobilizaram a população por meio de programas de rádio e do jornal “Panfleto”. Eles defendiam a nacionalização de empresas estrangeiras, o controle da remessa de lucros para o exterior e as reformas.

Golpe militar

No Comício da Central do Brasil, realizado em 13 de março de 1964, Leonel Brizola, proclamou uma proposta audaciosa e transformadora. Sugeriu a substituição do tradicional Congresso Nacional por uma assembleia nacional constituinte, composta por uma representação diversificada.

Camponeses, operários, sargentos e oficiais nacionalistas seriam os pilares dessa nova ordem política, buscando dar voz às classes historicamente marginalizadas. Ele afirmou que buscava resgatar a essência da democracia.

Poucos dias depois, no entanto, a história tomaria outro rumo. No dia 31 de março de 1964, um golpe militar suspenderia a democracia no país e levaria militares ao poder.

 

Após discurso na Câmara Municipal, no qual pediu aos suboficiais do exército para prenderem os generais, Brizola tornou-se um dos principais alvos da ditadura.

Ciente do perigo iminente, Leonel Brizola fugiu para o Uruguai. Permaneceu por dez anos, gerenciando a propriedade de sua esposa e mantendo-se a par do que acontecia no Brasil.

Exílio

Mas mesmo no exílio, Brizola não estava livre de perseguições e pressões. Ele era observado de perto pela inteligência brasileira e norte-americana, que faziam de tudo para forçá-lo a deixar o Uruguai. Com o surgimento de uma ditadura militar no país vizinho, o risco aumentou ainda mais.

Foi nesse cenário de ameaças que o governo brasileiro trabalhou em conjunto com os militares uruguaios para capturar Brizola. A operação chamava-se Operação Condor.

No entanto, conseguiu um visto concedido pelo conselheiro John Youle da Embaixada dos EUA, obteve asilo político nos Estados Unidos. Retornou ao Brasil depois de 15 anos, se tornando o primeiro líder político cassado pelo golpe a voltar ao país.

Além disso, Leonel Brizola enfrentou um contratempo. O Tribunal Superior Eleitoral decidiu que a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) seria concedida a Ivete Vargas. Tratava-se da sobrinha do fundador, o presidente Getúlio Vargas.

Determinado a continuar sua trajetória política, Brizola criou o Partido Democrático Trabalhista (PDT) em 1980, no Rio de Janeiro.

  1. Mudanças sociais no Rio

O político brasileiro foi eleito governador do estado do Rio de Janeiro em duas ocasiões, 1983-1987 e 1991-1994. Durante seus mandatos implementou mudanças significativas na estrutura da segurança pública e por sua defesa dos direitos dos cidadãos.

Ele deu grande importância à Secretaria de Justiça, à Procuradoria-Geral do Estado e ao Ministério Público. Tais instituições tinham como missão garantir os direitos dos cidadãos. Além disso, o governo de Brizola tinha uma postura diferenciada diante das ações policiais nas áreas mais carentes do estado.

Ele extinguiu a Secretaria de Segurança Pública e elevou a Polícia Militar e a Polícia Civil ao nível de Secretarias de Estado. Dessa forma, haveria maior fiscalização e transparência nas ações policiais.

A abordagem de Brizola para a segurança pública não incluía ações policiais violentas, com tiros indiscriminados que atingiam inocentes desamparados.

Além disso, o governo criou uma comissão de assuntos fundiários. Dessa forma, passou a negociar diretamente com os proprietários para desapropriar áreas. Também iniciou um processo de regularização fundiária de diversas favelas e áreas rurais.

As famílias receberam títulos de direito real de uso, que lhes garantiam o direito de permanecer em suas casas ou terras.

Projeto educacional

Durante seu mandato, criou os CIEPs, centros integrados de educação pública. Conhecidas como “brizolões”, não eram apenas para estudar, mas um espaço para a prática de esportes, leitura e aprendizado em geral.

Os CIEPs eram construídos em comunidades carentes e favelas, justamente onde a educação era mais escassa. Era uma forma de garantir que as crianças tivessem acesso a uma educação de qualidade, independentemente de onde morassem.

Algumas contavam com casas em sua cobertura para abrigar crianças sem lar, que eram assistidas por chamados “pais sociais”.

Mas Brizola não parou por aí. Ele também criou as escolas Lelé, destinadas a crianças em idade pré-escolar.

No final do seu governo, cerca de 550 escolas de tempo integral haviam sido construídas em todo o estado.

Os “brizolões” se tornaram um símbolo de esperança para as comunidades carentes, que antes eram deixadas à margem da sociedade.

No final do governo, 4.600 crianças entre 8 e 12 anos em situação de vulnerabilidade foram assistidas pelos “pais sociais”.

  1. Rumo à presidência

Após o fim do seu primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro, Brizola continuou atuando politicamente. Além disso, atuou na luta pelas eleições diretas para presidente no Brasil. Dessa forma, mobilizando milhões de brasileiros em comícios e passeatas pelo país.

Leonel Brizola foi um político com grandes aspirações presidenciaisSua primeira tentativa ocorreu em 1989, quando o Brasil finalmente teve eleições diretas para presidente após anos de regime militar. Brizola concorreu pelo PDT e conquistou mais de 10 milhões de votos, terminando em terceiro lugar na disputa.

Ele tentou novamente se eleger presidente em 1994, mas desta vez ficou em quarto lugar. Em 1998, Brizola voltou a participar de uma campanha presidencial. Dessa vez, como candidato a vice-presidente na chapa do então líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva.

A chapa não saiu vitoriosa, mas Brizola manteve sua influência e atuação política até falecer, em 2004, aos 82 anos. Seu legado político é reconhecido por muitos brasileiros, e sua morte foi lamentada por líderes políticos e pela população em geral.

A célebre frase do líder político ecoa até hoje: “Vocês são o nosso país. O Brasil depende de vocês. É dos jovens que surgem os grandes movimentos transformadores.”

 

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