Refazendo a história

 

 

 

 

 

Se ouvir a versão original de “Águas de Março” interpretada por Elis Regina e Tom Jobim já é uma benção para quem gosta da boa MPB, o que dizer de uma versão mais limpa e cristalina, na qual é possível escutar até a respiração da cantora segundos antes da música começar? É isso que permite “Elis & Tom”, reedição especial remasterizada do venerado álbum gravado em 1974 e que chega às lojas pela gravadora Trama – não por acaso, do presidente João Marcelo Bôscoli, filho de Elis.

 

 

César Camargo Mariano, que na época da gravação era o marido de Elis, foi o arranjador do disco. Nada mais justo, portanto, do que colocar nas costas do músico a responsabilidade de transformar “Elis & Tom” em CD e também num DVD-áudio especialíssimo, que reproduz o som do CD com melhor qualidade e traz as letras das canções. O trabalho demorou meses para ser concluído. “Um tape tem um período de vida determinado. Com o tempo, se deteriora. Antes até de abrimos a caixa onde estavam esses masters colocamos tudo num forno para tirar a umidade. A fita perigava ‘estourar’ quando um lado desgrudasse do outro”, disse Mariano durante a coletiva de imprensa que se seguiu à audição do disco, nesta terça-feira (24), em São Paulo.

 

 

Mariano contou que cada faixa foi tocada uma só vez para que fosse gravada no formato digital.”Depois de tudo pronto, nós tinhamos o material original completo num hard disk, gravado para o resto da vida. Agora era só limpar”. A “limpeza” à qual o arranjador se refere foi feita no sistema surround 5.1, que permite a divisão do som em oito canais diferentes, permitindo que se ouça detalhes antes ignorados. Os músicos, é claro, vão delirar.

 

 

No novo CD, os finais das canções são mais longos e cada faixa é introduzida por diálogos de Tom, Elis e do restante da equipe da gravação original. Mariano explica que os takes em que se errava eram sumariamente eliminados e só ficava a versão definitiva. “Voltávamos a fita e gravávamos por cima para economizar. Mas encontramos o começo e o final dos takes descartados. Foi legal deixar essas sujeiras de estúdio, são um documento histórico.”

 

 

Para ele, era justamente no final das canções que a “a coisa ficava boa”. “Quando os músicos terminavam de ler a partitura, começavam os improvisos, os solos, as conversas entre o guitarrista e o cantor… Isso era literalmente capado pelos técnicos de som, preocupados com o tempo da faixa que ia acabar ficando grande para caber no vinil”.

 

 

Além das 14 músicas originais, o disco traz duas faixas bônus. Uma delas é a inédita “Bonita”, toda cantada em inglês. “Essa música acabou limada do projeto original a pedido da própria Elis. A letra não existe em português até hoje, e ela não ficou satisfeita com a pronúncia e com o sotaque”.

 

 

O outro presente para os fãs é uma versão alternativa de “Fotografia”. Mariano conta: “Desde 70, Elis, eu e o restante do quarteto já tocávamos essa música nos shows. Quando chegou a época de entrar em estúdio, fomos mostrar nossa versão para o Tom, nosso ídolo. Era o nosso arranjo. O maestro adorou e quis tocar junto. Mas quando estávamos na pós-produção, preferimos colocar no disco a outra versão, a versão com o arranjo do Tom. E regravamos essa faixa aqui em São Paulo mesmo, sem o Tom e sem o Oscar Castro Neves. E foi esta versão que foi para o disco original”.

 

Por Thiago Cardim, da Redação AOL

 

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