Rainhas do Rádio

Almirante

 

 

 

Depois que Chiquinha Gonzaga inventou o samba de pé, as marchinhas de Carnaval eram uma das maiores alegrias do público. Esperadas ansiosamente, como hoje são aguardados os samba-enredos, as marchinhas eram lançadas pelas Cantoras do Rádio, verdadeiras musas do mundo musical brasileiro nas décadas de 1940 a 1960, na Rádio Nacional e em shows disputadíssimos no Cassino da Urca. Selecionamos aqui quatro estrelas, duas que já estão iluminando o nosso céu: Lindinha e Dircinha Batista, duas que ainda brilham sobre a terra: Emilinha Borba e Marlene.

 

A vida das Irmãs Batistas é uma nota importante para a história da música brasileira. Linda (1919 – 1988) e Dirce (1922-1999) nasceram em São Paulo, filhas de um artista de circo, o ventríloquo e humorista João Batista de Oliveira. Quando crianças, se mudaram para o Rio de Janeiro, morando no bairro do Catete. Fizeram o primário no tradicional Colégio Sion, mas muito cedo se entregaram à arte.

 

Dirce, apesar de mais nova, estreou com seis anos no Teatro Santana, em São Paulo, cantando a música Morena cor de canela de Ari Kerner. Dois anos depois, gravou o primeiro disco, com músicas de autoria do pai. O sucesso a levou para a Radio Cajuti, onde durante alguns anos participou do show de Francisco Alves – que a chamava de “menina com a garganta de pássaro”. Em 1935 estreou no cinema no filme Alô, Alô, Carnaval de Ademar Gonzaga. De 1936 a 1940 gravou diversas marchinhas de carnaval. Foi a primeira Rainha do Rádio e até 1960 foi campeã de vendas de discos no Brasil.

 

 

Linda (foto), nascida Florinda, com 12 anos passou a acompanhar a irmã Dircinha no violão. Chegou a concluir o ginásio e a fazer cursos de contabilidade, corte e costura. Foi eleita a Rainha do Rádio em 1937 e por onze anos consecutivos manteve o título. Participou de alguns filmes brasileiros e cantava como crooner nas orquestras do Cassino da Urca e do Cassino da Ilha Porchat. Em 1940 gravou alguns discos e excursionou intensamente pelo país. Nega maluca – de Fernando Lobo e Evaldo Rui, lançado em 1957, foi um dos seus maiores sucessos, somente superado pela interpretação de Vingança, de Lupicínio Rodrigues. Viajou pela Europa se apresentando em boates e em 1959 recebeu o troféu Noel Rosa, por gravar exclusivamente música brasileira. A partir de 60, foi deixando a vida noturna e passando a compor sambas, até morrer em 1988. Apesar de serem amadas pelo público, o seu sucesso não resistiu a televisão e, na década de 70, as Irmãs Batistas se encontravam na miséria. Dircinha ficou internada por mais de dez anos na clínica Doutor Eiras, até morrer.

 

Emilinha Borba, nascida Emília Savana da Silva Rocha em 31 de agosto de 1923, no Rio de Janeiro. Na sua infância morou na Mangueira e em Jacarepaguá, com a família. Aos quatorze anos se apresentou pela primeira vez na Rádio Cruzeiro do Sul, pouco tempo depois, passou a fazer parte do coro da Colúmbia. Em 1939, estreou no Cassino da Urca e na Rádio Cajuti, gravando o seu primeiro disco, cantando o samba Ninguém escapa de Frazão, um sucesso total. Cantando em diversas rádios e cassinos, somente em 1947 irá compor o time da Rádio Nacional, onde ficará por 27 anos. Sua popularidade deveu-se ao programa de César de Alencar, transmitido em todo o país. Na sua voz, a marchinha Escandalosa fez o maior sucesso, bem como também Chiquita bacana. Tinha um dos maiores fãs clubes do Brasil, que vivia as turras com outro, o de Marlene. Emilinha participou de 34 filmes nacionais, mas com a chegada da bossa nova e do rock, foi deixando a carreira musical. Hoje, apresenta-se esporadicamente, levando uma vida reservada.

 

Marlene, originalmente Vitória Bonaiutti, nasceu em São Paulo em 18 de novembro de 1924. Até os 14 anos foi aluna interna do Colégio batista Brasileiro, na capital paulista, onde trabalhava para bancar seus estudos. Começou a cantar somente em 1941 na Rádio Bandeirantes, um ano depois já estreava o nome Marlene, em homenagem a Marlene Dietrich. Em 1943, mudou para o Rio de Janeiro, indo trabalhar em Niterói, no Cassino Icaraí e depois no Cassino da Urca. Foi eleita Rainha do Rádio, quebrando o reinado de Dircinha e Lindinha Batista. Na sua voz, conhecemos os maiores sucessos como Lata D’água na cabeça. Embora tenha feito diversos filmes e sido um ídolo de seu fã-clube, verdadeira torcida organizada, retirou-se dos palcos. Em 1970, convidada por Hermínio Belo de Carvalho, interpretou músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, no show Ela é a maior, que fez o maior sucesso. Hoje, leva uma vida recatada e é considerada a eterna rainha do rádio.

 

 

 

por Mariana Várzea

 

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