Quando o Bum do Bumbo Chama, o Coração Atende

 

Uma crônica para celebrar o Dia Nacional do Samba, essa alegria que chega antes mesmo do segundo bum

Pois então… quando o bumbo faz bum, no segundo bum eu já cheguei lá. Não tem atraso, não tem desencontro — o samba me convoca e meu corpo atende antes da razão. É como se eu tivesse nascido com um GPS emocional que vibra ao primeiro sinal do surdo. E quando o samba chama, quem fica parado é poste.

No dia 2 de dezembro, o Brasil inteiro — do Oiapoque à Pontal do Paraná — acorda com vontade de sorrir mais fácil, de balançar mais leve, de conversar com cadência. É o Dia Nacional do Samba, e se existe data que dispensa cerimônia, é essa. Porque o samba não pede licença: ele chega entrando, ocupando sala, alma e memória, trazendo junto os amigos que a vida nos deu e os que o samba nos emprestou.

O mundo inteiro conhece o Brasil pelo samba, mas nós sabemos: ele não é só música, é registro civil da nossa identidade. É aquele abraço apertado no Carnaval, o sorriso que escapa na roda de bar, a velha guarda que passa a sabedoria adiante, a criança curiosa batucando o primeiro compasso na mesa da cozinha.

Foi no samba que o país se reconheceu plural, mestiço, inventivo. Foi no samba que o povo aprendeu a transformar dor em beleza, luta em melodia, saudade em poesia. E foi no samba — especialmente no samba de roda, reconhecido pela UNESCO em 2005 como patrimônio oral e imaterial da humanidade — que o Brasil mostrou ao mundo que tem um jeito único de contar sua própria história: cantando.

Rio de Janeiro e Bahia que me perdoem, porque eles são berço e altar. Mas o samba já é de todos. Está no Paraná, no Amazonas, no Mato Grosso, nas quebradas, nos morros, nas universidades, nos terreiros, nos salões, nas praças. Está onde houver gente disposta a se reinventar.

E, no fim das contas, o samba é isso: um convite permanente para a alegria possível, uma festa que nunca termina, um reencontro com quem somos de verdade — mesmo que o bumbo só tenha dito o primeiro bum.

Rendo aqui minhas homenagens aos meus parceiros de alma e estrada no mundo do samba: Mestre Maé da Cuíca, Homero Réboli, Mestre Cartola, Claudionor Cruz, Gerson Bientinez, Waltel Branco, Nelson Sargento — e tantos outros que ainda seguram firme o ritmo da vida.
Cada um deles deixou em mim um traço, um acorde, um aprendizado que o tempo não apaga.

O samba, esse velho companheiro, sempre chega antes. Ele abre caminho, ilumina a roda, prepara o coração. E nós, que somos filhos dessa batida ancestral, chegamos logo depois — mas chegamos com o peito aceso, com o sorriso largo, com a alma inteira dançando.

Porque, no fundo, é o samba que nos levanta quando caímos, que nos abraça quando o mundo pesa, que nos devolve a alegria quando ela parece fugir.
E quem não gosta de samba… ah, esse não sabe o que é viver direito. É ruim da cabeça ou doente do pé — e, sobretudo, desconhece a bênção de pertencer a essa família que pulsa no mesmo compasso.

 

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor

Compartilhar:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*