Projeto Inédito garante ação dos independentes no Exterior

 

Os produtores brasileiros independentes de TV participam até sexta-feira da MIPTV 2005 (Mercado Internacional de Programas de Televisão), em Cannes. Essa participação e o desempenho na feira, uma das maiores do mundo em conteúdo audiovisual, podem ser considerados uma prova de fogo para a produção de TV independente do País. Não representa somente oportunidades de negócios, mas é ponto alto do esforço inédito de produtores e governo para colocar de vez o Brasil no mapa do mercado mundial de TV. Esforço que vem tendo maior ênfase desde julho, quando foi criado o Projeto Setorial de Promoção e Exportação, o primeiro plano de exportação na área de serviços do País. “Graças à parceria entre a ABPITV (Associação Brasileira de Produtores Independentes de TV), a Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil) e a Secretaria de Audiovisual do MinC, estamos fazendo pelos produtores independentes o que nunca havia sido feito, como profissionalizar de vez o setor”, conta Marco Altberg, presidente da ABPITV.

Desde a criação da associação, em 1999, o setor se organizou, promove cursos, idas a feiras e workshops. Mas sua atuação realmente se destacou desde julho. Em menos de um ano, a associação já contabilizou a movimentação de US$ 4,5 milhões gerados em exportação de produtos (prontos e co-produção). O total estimado para os dois primeiros anos era de US$ 6 milhões. Caminha-se para a superação do previsto. “É algo ainda pequeno, mas a tendência é crescer. Várias produtoras estão no MIPTV, como a Grifa, a Pródigo Filmes, a TV Pingüim. Não só as produções de TVs abertas, como a Globo, têm stands na feira”, conta Altberg. “Este ano, em outras feiras, já foram fechados acordos com TVs da Espanha, Canadá, Itália, França.” Para o MIPTV, a entidade espera ampliar essas parcerias, vender produtos já finalizados e, acima de tudo, iniciar relações de co-produção com outras empresas internacionais. “É uma marca importantíssima. Eu, que produzia para a Globo na década de 80, parei praticamente de produzir para a TV na década de 90. Agora sou procurada por TVs internacionais para co-produção”, alegra-se Denise Gomes, sócia fundadora da Made to Create, responsável pela produção de diversos produtos, como episódios do Globo Repórter e Globo Ciência e séries de sucesso como Dive Adventures, exibida no GNT e exportada para vários países da América Latina.

 

Pode-se falar então, a exemplo do cinema nacional, de uma retomada da produção independente? Para Denise e Altberg, não é uma retomada propriamente dita porque essas ações são realmente inéditas. Até hoje, o setor se resumia a ações isoladas. Desde sua criação, a ABPITV ganhou 80 produtoras associadas e investiu mais de R$ 9 milhões para a viabilizar seus projetos. “Na verdade, a ação internacional da ABPITV foi uma saída alternativa ao mercado fechado para a produção independente, especialmente nas TVs abertas comerciais brasileiras”, explica Altberg.

 

A expansão para o mercado internacional é a saída para a profissionalização do setor? Denise acredita que sim. “Como não há leis que defendam a produção independente e as TVs abertas comerciais acabam produzindo quase todo seu conteúdo por questões econômicas e mercadológicas, conquistar o mercado externo é uma alternativa para ampliar a atuação.” Já Altberg crê numa mudança interna. “O modelo de TV brasileiro é único no mundo. As emissoras são produtoras de praticamente tudo o que veiculam. Nos EUA e Europa, as emissoras são emissoras e as produtoras são produtoras, daí o nome independentes. E elas abastecem a maior parte da grade das emissoras.”

 

Por que isso não ocorre no Brasil? “Isso está nas em leis desses países e no Brasil isso não ocorre. E qualquer tentativa de regular a TV aberta comercial cria uma barreira na mídia, gerando confusão”, ressalta Altberg, tendo em vista a suspensão temporária do projeto da Ancinav que previa a veiculação de produção independente nas TVs abertas nacionais.

 

Tal quadro de privilégios parece dar sinais de mudança quando levantados exemplos bem-sucedidos de parceria entre produtoras e TV aberta como Cidade dos Homens e Carandiru – Outras Histórias, parcerias entre O2 Filmes e HB Filmes e TV Globo, que funcionam como uma vitrine da produção independente. “Estamos satisfeitos. Vamos reiniciar as filmagens dessa nova temporada em setembro”, conta Paulo Morelli, sócio-fundador da O2 e diretor da série Cidade dos Homens. “A parceria prova que há muita coisa boa e oxigena o mercado. Quando começamos com Olhar Eletrônico, há 20 anos, essa era nossa intenção”, comemora Morelli.

 

Mas, qual a vantagem para as emissoras abertas ao adquirem produtos independentes? “Além de custarem menos para as emissoras, programas produzidos fora saem sempre com uma cara diferente. Documentários e longas reportagens é o que as TVs poderiam sempre contratar independentemente. Uma produtora consegue ir muito mais a fundo ao abordar um tema que exige muito tempo de realização”, comenta Fernando Meirelles, de quem partiu a iniciativa de oferecer Cidade dos Homens para a Globo.

 

A TV a cabo também figura como grande usuária de produção independente no País. Redes internacionais, como HBO, Discovery Channel e National Geografic, investem em produções e co-produções brasileiras 3% do valor que esses programadores internacionais remetem ao exterior para pagamento de sua programação. Os casos mais recentes e notáveis são as séries Carnaval, produção da O2 Filmes, e Mandrake, da Conspiração Filmes, ambas em parceria com a HBO.

 

Numa posição intermediária, surge o também canal a cabo GNT que, por ser nacional, não pode utilizar os benefícios fiscais. “Mesmo assim, dedicamos orçamento considerável para produzir conteúdo em parceria com independentes”, conta Elizabeth Ritto, gerente de Projetos do canal. O sucesso da parceria é tamanho que no ano passado o GNT criou uma espécie de concurso. “Vamos reabrir a seleção em julho. Na primeira experiência, no ano passado, recebemos 130 projetos em apenas 15 dias.” A idéia já rendeu frutos e programas selecionados em 2004, como Mulher Procura, Contemporâneo e Nós e Eles já estão no ar.

 

Seja no mercado externo, seja internamente, o consenso é que esta iniciativa inédita contribui para a profissionalização do setor. “Temos muito a aprender com a experiência internacional, onde as relações de negócios se baseiam num jogo justo de mercado. Mas importante também é conquistar espaço em nosso próprio mercado e poder contar com apoio do governo isso”, conclui Altberg.

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