Prédio engorda dívida do Masp

 

 

O Museu de Arte de São Paulo tem hoje uma dívida de aproximadamente R$ 10 milhões, valor que não inclui suas despesas anuais de manutenção, que são de cerca de R$ 6 milhões. A dívida cresceu com o financiamento que o museu fez em dezembro de 2004 para a compra do prédio no número 1.510 da Avenida Paulista. O credor é a empresa Trianon Sociedade Civil Imobiliária. Além disso, o museu deve R$ 3,3 milhões à Previdência – dívida que questiona judicialmente – e teve de penhorar uma obra avaliada em R$ 4,2 milhões.

 

O edifício da Avenida Paulista foi adquirido no final do ano passado por R$ 12 milhões, e o museu parcelou a dívida. Pagou R$ 2,4 milhões no ato, mais R$ 6 milhões em janeiro. Resta pagar outros R$ 2,6 milhões no próximo mês de fevereiro e mais R$ 1 milhão em fevereiro de 2007. Há também o compromisso de reforma da Galeria Prestes Maia, cujo plano de revitalização custará R$ 5.942.928, 00 ao Masp – até agora, foram captados R$ 2.778.598,74.

 

Segundo afirma o diretor-presidente do Masp, Julio Neves, em entrevista por fax, o prédio da Paulista foi adquirido “com recursos que já foram e serão totalmente fornecidos, especificamente para a compra deste prédio, por um grande patrocinador que, no momento, não deseja sua divulgação”.

 

No edifício, Neves pretende instalar um anexo do museu, para onde seriam transferidos o departamento administrativo e os cursos. O novo prédio também teria uma estrutura metálica de 70 metros, espécie de mirante na Paulista (116 metros acima da avenida e 932 acima do nível do mar), mas o projeto enfrenta resistência de órgãos preservacionistas. Deverá haver também, nos próximos dias, o anúncio da compra de outro imóvel, com o qual o museu pretende criar “um novo modelo de sustentação para o Masp”, no dizer de seu diretor.

 

Mesmo se confirmado que o museu tem um misterioso mecenas que se dispõe a comprar um prédio para a instituição, há uma questão intrigante: por que investir tanto em uma obra se o museu tem dificuldade para sobreviver? A instituição conta apenas com a venda de ingressos para visitas ao acervo (de R$ 10) e uma verba da Prefeitura para manutenção (em 2004, foram R$ 952 mil), além de patrocínios eventuais.

 

No ano passado, a instituição atrasou pagamentos e encargos básicos e teve de enfrentar manifestações de funcionários no vão livre do Masp. Sua programação está esvaziada e há anos não consegue formular uma agenda cultural de peso. Também apostou em mostras populares que se revelaram um fiasco de crítica e público, como a mostra em homenagem a Edson Arantes do Nascimento, o ex-jogador Pelé.

 

O museu tem se declarado com dificuldades para encontrar patrocinadores para mostras e obras de reforma – incluindo a unidade da Galeria Prestes Maia. Críticos da administração Neves questionam qual o sentido de se fazer uma dívida desse tamanho com o museu em tal situação.

 

“A reforma da Galeria Prestes Maia está sendo integralmente realizada com recursos vinculados à execução das obras e fornecidos por empresas interessadas na revitalização do centro de nossa cidade, não existindo, portanto, qualquer comprometimento financeiro do Masp para o término das obras”, diz Neves.

 

Há grande temor também com a conservação das obras do acervo, que a crise financeira pode comprometer – o acervo do Masp está avaliado em R$ 17 bilhões. Neves diz que os equipamentos especiais e a reserva técnica garantem a adequada conservação das obras, e rebate as críticas.

 

O Masp publicou seu balanço anual em abril, junto com um parecer dos auditores independentes da Price Waterhouse Coopers. O próprio parecer, no entanto, aposta na capacidade de captação de recursos da diretoria. Segundo os auditores, “a administração está empenhada em viabilizar a situação financeira na entidade mediante a obtenção de recursos financeiros, sob a forma de subvenções ou doações, para suprir o seu capital de giro e reduzir os compromissos existentes a curto prazo”. Mas as doações precisarão ser muito significativas para que o Masp não aderne.

 

“O acréscimo dos espaços do Masp não resulta de obsessão, mas da necessidade de atender o sempre desejado incremento de suas ações, com a ampliação do acervo, das instalações do departamento de restauro e das atividades educativas do museu”, disse.

 

De acordo com Julio Neves, a obra penhorada para “garantia do juízo” da dívida com o INSS “nunca saiu do museu e não consideramos como admissível tal hipótese”.

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