“Precisamos de um SUS da cultura”, diz Alexandre Santini

 

Em entrevista, o gestor cultural Alexandre Santini analisa a reconstrução do Ministério da Cultura, a luta por financiamento e o papel da cultura na disputa política.

O presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Alexandre Santini, destacou que o governo Lula iniciou o terceiro mandato enfrentando um “cenário de terra arrasada” nas políticas culturais.

Segundo ele, após seis anos de desmonte nos governos Temer e Bolsonaro, foi necessário reconstruir do zero o Ministério da Cultura, recriado em 2023. “O MinC é como uma fênix. Foi extinto e recriado diversas vezes, mas simboliza a redemocratização do país”, afirmou.

Santini ressaltou que a gestão da ministra Margareth Menezes marca uma virada, com a consolidação da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), que destina R$ 3 bilhões anuais ao setor por meio de estados e municípios. “É o maior investimento direto na história das políticas culturais do Brasil”, disse.

Assista a íntegra da entrevista:

O desafio do financiamento permanente

Apesar dos avanços, Santini apontou que a cultura ainda sofre com o subfinanciamento. Ele defendeu a consolidação do Sistema Nacional de Cultura para garantir percentuais fixos do orçamento público — 2% da União, 1,5% dos estados e 1% dos municípios.

“O que falta é um ‘SUS da cultura’, com mecanismos desburocratizados e permanentes de repasse de recursos aos fazedores e fazedoras de cultura”, explicou.

Cultura e luta de ideias

Para o gestor, a cultura é hoje um campo central da disputa política. “Vivemos uma guerra cultural. A extrema-direita compreendeu a força simbólica da cultura e tentou capturá-la ideologicamente. Precisamos retomar esse espaço”, afirmou.

Ele destacou que o campo progressista deve valorizar suas próprias tradições intelectuais — citando Gramsci e o marxismo — para compreender o papel estratégico da cultura na luta de classes contemporânea.

Soberania digital e o papel das Big Techs

Santini também abordou o impacto das plataformas digitais e a necessidade de soberania tecnológica. “O Brasil já foi referência em cultura digital e software livre. Perdemos tempo ao entregar nossas redes às Big Techs”, avaliou.

Ele defendeu que o país invista em tecnologia própria e integre cultura e ciência na construção de uma soberania digital.

A Casa de Rui Barbosa e o legado de Niterói

À frente da Casa de Rui Barbosa, Santini destacou o trabalho de recuperação institucional e ampliação do diálogo com a sociedade. A fundação, criada em 1930 e vinculada ao Ministério da Cultura, abriga um dos maiores acervos literários do país e tornou-se centro de pesquisa e memória.

“Queremos que a Casa dialogue com todas as matrizes culturais do povo brasileiro, valorizando especialmente as tradições afro-brasileiras e indígenas”, afirmou.

Ex-secretário de Cultura de Niterói, Santini lembrou que a cidade é exemplo de continuidade nas políticas públicas do setor. “Em Niterói, a cultura é parte de um projeto de cidade há quase 40 anos. Isso mostra que a política cultural dá certo quando é política de Estado”, concluiu.

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