Paraíba – Festas de junho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tudo começou há mais de 8.000 anos, na região do Crescente Fértil – onde hoje estão Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Líbano, Síria, Turquia. Com camponeses que celebravam a proximidade da colheita em volta de fogueiras, cantando e dançando. Para afastar os demônios da esterilidade, da estiagem e da miséria. E também para adorar o sol e a deusa da Fertilidade – na Grécia, Démeter; e em Roma, Ceres.

Depois, a tradição foi se espalhando por toda a Europa. Os primeiros sacrifícios aos deuses ocorriam nas próprias casas, em primitivas lareiras (daí vem a palavra lar), com o fogo sagrado ganhando diferentes nomes – Héstia (Grécia) e Vesta (Roma) – sendo então conhecidas, as celebrações, como “Vestália”. Passa o tempo e este ritual profano, como tantos outros, foi se incorporando à tradição cristã.

 

A fogueira reproduz o gesto de Isabel que usou o fogo para anunciar o nascimento de seu filho João, primo carnal de Jesus. Sendo os deuses pagãos, aos poucos substituídos por essa criança que depois cresceu, virou apóstolo, deu a vida pelo Salvador e foi sagrado santo – São João.

 

As comemorações do São João, a mais importante festa do Nordeste, começam já nos primeiros dias de junho. Reproduzindo costumes de Portugal – onde, até o século XVIII, se iniciavam em 12 de junho (véspera de Santo Antonio); e terminavam só em 29, dia de São Pedro. Tudo decorado com arcos cobertos com alfazema, louro e flores; balões, bandeirolas coloridas (por lá conhecidas por “vistões”) e ramalhetes de flores (conhecidos por “festões”). Mais brincadeiras nas ruas, adivinhações, superstições, marchas populares, concursos de ranchos e danças. Fogueiras também, onde se queimava alecrim, murta e sal.

 

Mas, ao menos em Lisboa, Santo Antonio passou a ser a festa de maior prestígio. Provavelmente por ter nascido em Lisboa mesmo. E era tanta sua devoção que o papa Pio XI elevou Santo Antonio a segundo padroeiro da cidade (em 1934); junto com São Vicente, primeiro padroeiro, natural de Huesca, nos Pirineus (Espanha). Mas em outras regiões, como no Norte – sobretudo Porto e arredores – continua sendo São João a mais celebrada festa. “Podem tirar tudo do portuense, mas não lhes tirem o São João”, segundo a escritora portuguesa Maria de Lourdes Modesto.

 

Não existe, em Portugal, uma culinária típica dessas festas. “Sob o ponto de vista alimentar é uma quadra pobre e pouco caracterizada, sendo mesmo raras as áreas em que se assinale qualquer manjar específico”, ensina o pesquisador e fundador do Centro de Estudos e Etnologia, Ernesto Veiga de Oliveira. Nas mesas estão sempre os mesmos pratos de todos os grandes festejos de cada região – caldo-verde, sopa de grãos, anho (cabrito), bacalhoada, bife de vitela, caldeirada, carneiro, febras de porco, leitão, pataniscas de bacalhau, sardinhas assadas.

 

Como sobremesa arroz doce, bolo capela de São João, nógados, popias caiadas e de Alcântaras, queijadas, tabuleiros de bolachas. E sobretudo vinho. Muito vinho. O costume de celebrar o São João, no Brasil, chegou por mãos do colonizador português. Mas, diferentemente dos padrões europeus, aqui foi ganhando características próprias – tudo como veremos nas próximas colunas.

 

 

 

 

RECEITA:

 

PATANISCAS DE BACALHAU

INGREDIENTES:

800 gr. de bacalhau, 1 copo de leite, limão, 150 gr. de farinha de trigo, 1 ovo, sal, pimenta, 1 cebola picada, 1 ramo de salsa, 1 colher de sopa de azeite, óleo para fritar.

 

 

PREPARO:

 

– Deixe o bacalhau de molho, por 1 dia. Tire peles e espinhas. Separe em lascas e deixe essas lascas de molho (durante 2 horas), em leite e limão.

– Coloque em uma tigela: farinha, ovo, azeite, sal, pimenta. Bata bem. Acrescente água, aos poucos, até formar um creme grosso e homogêneo. Junte cebola e salsa picada.

– Retire as lascas de bacalhau do leite. Junte ao creme, esmagando o bacalhau para que ele se desfaça. Deixe tudo descansar por 4 horas. Coloque colheradas da mistura, em bastante óleo. Frite até que fiquem douradas. Retire, escorra em papel absorvente. Polvilhe com um pouco de sal e sirva imediatamente.

 

 

 

 

Lectícia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.

 

Fale com Lecticia Cavalcanti: lecticia.cavalcanti@terra.com.br 

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