Pacto pela descentralização da cultura

 

 

 

 

 

O problema se repete por todos os Estados, provavelmente. Talvez São Paulo fuja um pouco à regra, já que possui o interior desenvolvido economicamente e, conseqüentemente, culturalmente. Mas se pode afirmar sem muito erro: o interior do país sofre de uma invisibilidade cultural, quando comparado aos centros, às capitais. Daniel Valentim já tratou do mesmo assunto aqui no Overmundo, quando escreveu a respeito do contexto manaura.

 

Pessoalmente, eu senti essa diferença por ter nascido e vivido boa parte da minha vida numa cidade do interior. Não tão pequena, é verdade, mas infinitamente menos interessante do ponto de vista de acontecimentos e opções culturais, quando comparada à Belo Horizonte. Itabira, uma cidade localizada à 100 km da capital mineira, mesmo com a proximidade da capital, não goza de uma vida cultural rica, pelo contrário. É a cidade onde nasceu Carlos Drummond de Andrade, um dos nossos maiores poetas e, sim, realmente existe uma certa tradição cultural no município. Penso que ouvir um jovem falar “não há nada de muito interessante para se fazer nessa cidade” seja um fato comum a várias cidades do interior desse país.

 

“Essas cidades (do interior) vivem o problema de isolamento cultural. A produção cultural existente acaba ficando fraca por falta de incentivo e público nos municípios. A cultura, em geral, é relevada a um 2º plano. A necessidade de uma mobilização da cultura no Sul de Minas vai fortalecer nossa identidade, criar a visibilidade para os produtores culturais e nos possibilitar a criação de projetos maiores e ousados”, esse é o retrato que faz Emanoel Gusmão.

 

Desde o ano passado, ele tem tentado unir forças ao redor do chamado Pacto Cultural do Sul de Minas. O objetivo prático é um: atrair atenção para a região. Mostrar que lá se produz, mas que a necessidade por incentivos é grande. Exemplifica: “Em Ouro Fino, o grupo de teatro ficou ensaiando e montando por 5 meses a peça de teatro ‘O exorcista’, adaptado por Vitor Góes. A peça teve 3 apresentações sucessíveis em Ouro Fino, com grande sucesso e parou por falta de condições de se apresentar em outra cidade (falta de contato, problemas financeiros, etc.). Ou seja, os produtores culturais vão desistindo de seus sonhos e seus projetos.”

 

O problema de concentração do apoio cultural é tão grande que existe um projeto para que Minas Gerais tenha sua Lei de Incentivo à Cultura regionalizada. O Projeto de Lei nº 2880/05 busca distribuir melhor os recursos financeiros, ao dividir o estado em dez regiões. Com isso pretende-se atingir os projetos de municípios menores, como é o caso de Ouro Fino e a sua companhia de teatro.

 

Para clarear um pouco mais. Imagine a periferia da periferia. Se podemos considerar Belo Horizonte como a periferia do eixo Rio-São Paulo no que diz respeito aos investimentos culturais (quase 80% se concentram no dois estados), o interior de Minas Gerais é a periferia de Belo Horizonte (a capital mineira chega a concentrar 75% dos investimentos). É a migalha da migalha.

 

Há algumas explicações, é claro. A primeira delas é que a maior parte das empresas patrocinadoras e participantes da lei de incentivo está na capital e, portanto, acaba procurando apoiar financeiramente os projetos que aqui se encontram. A lógica é: o investimento vai onde está o consumidor.

 

Mas há outra causa para esse problema apontada pelo texto do Projeto de Lei da Deputada Elisa Costa (PT). “No período de 1998 a 2002, a região Central concentrou 78,5% dos projetos apresentados”. Ou seja, o interior do estado deve demandar mais, apresentar mais propostas. E é nesse sentido que entra o Pacto Cultural: de organizar e coordenar os trabalhos dos produtores culturais do Sul de Minas Gerais e, assim, se tornar mais forte e interessante aos olhos de quem investe em cultura no Brasil.

 

http://www.overmundo.com.br/overblog/pacto-pela-descentralizacao-da-cultura

Sergio Rosa

Compartilhar: