O Rádio, Meu Primeiro Amor – Crônica de Cláudio Ribeiro

 

O som do rádio sempre foi parte da minha existência, como se seus acordes estivessem gravados em minha alma desde o primeiro instante em que respirei.

Desde o meu primeiro suspiro, o rádio já embalava meus sonhos, antes mesmo que eu entendesse o mundo ao meu redor. Era mais do que uma simples caixa de som; era a voz que nos unia, a companhia constante que aquecia o silêncio. Minha mãe, Fádua, me segurava nos braços enquanto as ondas sonoras preenchiam o ar. Dizem que o rádio tem o poder de aproximar corações distantes, mas, para mim, ele começou aproximando o meu pequeno coração do dela.

Eu nasci no dia 20 de setembro e, por uma feliz coincidência, o Dia do Rádio é comemorado no dia seguinte. Talvez, por isso, o destino tenha me levado aos 14 anos de idade a entrar nesse fascinante mundo. Primeiro como rádio escuta, atento a cada detalhe; depois como rádio ator, dando vida às palavras; e, por fim, como apresentador, entregando a minha voz a milhões de ouvidos desconhecidos, mas que sempre senti tão próximos.

O rádio, para mim, nunca foi apenas um meio de comunicação. Ele é o palco onde a vida real se apresenta sem máscaras, onde o ouvinte, aquele amigo invisível, nos oferece a dádiva da sua atenção. E é essa atenção que merece respeito. Por trás de cada microfone, há uma história a ser contada, há um coração que bate, seja na minha voz ou na de quem escuta.

Lembro das palavras de Edgard Roquette-Pinto, o visionário que trouxe o rádio para o Brasil: “O rádio é o jornal de quem não sabe ler, o mestre de quem não pode ir à escola, o divertimento gratuito do pobre”. E como é verdade! Ele chega a todos os cantos, desde o casebre mais modesto até o mais alto arranha-céu, sem pedir nada em troca, apenas a oportunidade de ser ouvido.

O primeiro mandamento de qualquer programa de rádio é tratar o ouvinte com a dignidade que ele merece. Respeitar sua inteligência, suas emoções, seu tempo. O segundo, talvez o mais difícil de seguir, é nunca adotar uma postura professoral. O microfone nos empresta um poder temporário, mas quem sabe mesmo da vida é o ouvinte, com suas experiências e sentimentos.

Por fim, o terceiro mandamento é saber ler. Ler com a alma, com o corpo inteiro, não apenas com a boca. Ler como quem vive cada palavra, como quem sente o peso e a leveza de cada frase. Porque, no rádio, a voz não apenas comunica, ela toca o coração. Cada pausa, cada ênfase, cada risada compartilhada é um laço que se cria com o ouvinte, uma prova de que, apesar das distâncias, estamos todos juntos.

Hoje, ao olhar para trás, vejo que o rádio sempre será meu primeiro amor. O amor que nunca se apaga, que continua pulsando no ritmo das ondas sonoras. É nele que me encontro, é por ele que vivo, e é por ele que ainda sonho.

Cláudio Ribeiro

Radialista, Jornalista e Compositor

 

 

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