O legado do leitor da cultura brasileira

awilson martinsA editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa publica a versão definitiva, em sete volumes, da História da Inteligência Brasileira, obra máxima de Wilson Martins. Em uma tarde da década de 1960, no Rio de Janeiro, Wilson Martins (1921-2010) recebeu o convite de um editor para escrever um livro sobre a história da literatura brasileira. No mesmo instante, Martins aceitou a sugestão, mas disse que, para entender a literatura, é necessário conhecer muito mais do que apenas as obras literárias.

Nascia, naquele contexto, a História da Inteligência Brasileira, obra com sete volumes, que agora ganha a sua terceira e definitiva versão, publicada pela Editora Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Wilson Martins foi um intelectual que pensava os assuntos de maneira completa e complexa, bem diferente das leituras fragmentadas e recortadas do tempo presente. Isso pode ser comprovado pela grande obra que ele deixou. Saiba mais:

A História da grande obra

A primeira edição da História da Inteligência Brasileira sai com o selo da Cultrix, em volumes avulsos, entre 1976 e 1979, e a edição estava sob responsabilidade do poeta José Paulo Paes. Anos depois, com mais precisão, entre 1992 e 1994, a T. A Queiroz republica todos os sete volumes, usando o projeto gráfico da edição anterior. Apenas esta terceira edição, da Editora UEPG, foi revista por Martins e, por isso, adquire a condição de definitiva.

Modo de usar

A convite da Gazeta do Povo, Miguel Sanches Neto escreveu uma espécie de verbete, para que o leitor tenha uma ideia de como utilizar a História da Inteligência Brasileira: “A HIB pode ser usada de duas formas: para buscar informações sobre livros e autores e ideias, para que se possam ampliar as discussões sobre eles e compreendê-los em seu momento histórico. Este seria um uso de consulta. Mais ou menos como se consulta uma enciclopédia ou um dicionário. Mas o grande valor dele está na leitura em ordem cronológica de todos os volumes, para entender como as ideias se movimentam em nossa cultura. É uma obra que abre caminhos.”

A coleção de livros, conhecida pelo adjetivo “monumental”, é uma espécie de síntese do que foi publicado e pensado no Brasil de 1550 a 1960, período sobre o qual Martins se debruçou. Durante a temporada em que lecionou Literatura Bra­­si­­leira na Univer­­sidade de Nova York, entre 1965 e 1991, o crítico dedicou grande parte do tempo para tentar ler e reler todo e qualquer volume escrito e publicado no Brasil. In­­clusive, como ele disse em diversas entrevistas, era mais fácil encontrar obras brasileiras nos Estados Unidos do que por aqui.

O poeta e ensaísta Affonso Romano de Sant’Anna afirma que a História da Inteligência Brasileira é a obra mais completa sobre não apenas literatura, mas a respeito do pensamento brasileiro. Ele conta que, quando realizou uma pesquisa sobre o frade Manuel Calado (1584-1654), autor do clássico Valeroso Lucideno, procurou informações em livros de outros autores, como Antonio Candido e Afrânio Coutinho, e ficou a “ver navios”. Foi apenas na obra de Wilson Martins que o ensaísta mineiro obteve dados e uma rica análise do autor que ele precisava conhecer com mais profundidade.

“A História da Inteligência Bra­­sileira é um livro de consulta obrigatória, que deveria estar em todas as bibliotecas do país, para atender às pessoas que querem se informar sobre a nossa História cultural”, diz Sant’Anna.

O escritor Miguel Sanches Neto, colunista da Gazeta do Povo, completa o raciocínio de Sant’Anna e observa que a História da Inteligência Brasileira é relevante pelo fato de mostrar que a cultura do país não está apenas nos chamados “grandes livros”, mas no conjunto de todas as obras publicadas.

O comentário de Sanches Neto pode ser comprovado se o leitor consultar qualquer fragmento da História da Inteligência Brasileira, por exemplo, a página 406, do volume 7. Lá, Martins faz uma análise de 1956, ano em que duas grandes obras fo­­ram publicadas, Vila dos Confins, de Mário Palmério e Grande Sertão: Ve­­redas, de Guimarães Rosa. O crítico, então, apresenta um olhar sobre o contexto: “Não eram obras isoladas que surgissem por milagre em um deserto literário”, escreveu Martins, para em seguida, listar diversos outros títulos que ajudaram a compor o painel da­­quele tempo.

Sanches Neto conta que esta edição foi revisada por Martins. Posteriormente, Renato Bitten­­court, escritor e revisor profissional, passou um ano fazendo uma segunda leitura detalhada, com a responsabilidade de oferecer ao público esse legado de Martins, em alguma medida definitivo, sobre o país.

Serviço:

História da Inteligência Brasileira, de Wilson Martins. Editora UEPG, sete volumes, cada livro com 600 páginas (em média). A coleção inteira custa R$ 270, cada volume é vendido a R$ 45. Mais informações: (42) 3220-3306.

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1059462&tit=O-legado-do-leitor-da-cultura-brasileira

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