O encontro da dança com a filosofia

 

É possível debater, no universo da dança, questões de espacialidade, movimento e materialidade exploradas por pensadores como Espinosa, Nietzsche e Deleuze? São conceitos presentes na dança recente, mas o desafio para os coreógrafos é argumentar sobre eles apenas com o gestual, sem abrir a boca. Lia Rodrigues, Bruno Beltrão e Márcia Milhazes toparam a proposta e pretendem dialogar com filósofos de renome, como o francês Michel Bernard e o português José Gil, tirando partido do corpo. Eles apresentam obras inéditas antes de palestras dos acadêmicos no I Encontro Internacional de Dança e Filosofia, a partir de hoje, no teatro do Espaço Sesc, em Copacabana.
Até domingo, 26 coreógrafos, críticos e filósofos se revezam na abordagem de temas como a capacidade de mobilização política da dança e o reflexo das relações de colonização na produção contemporânea. A questão principal é uma adaptação da que foi formulada por Espinosa no século 17: o que pode o corpo que dança? Segundo o crítico Roberto Pereira – que organiza o encontro com o filósofo Charles Feitosa e a pesquisadora Thereza Rocha -, esse espaço híbrido é fundamental para se chegar a uma resposta.

– Os bailarinos de William Forsythe estudam filosofia. É algo visível na interpretação deles. Michel Bernard, quando tece questões sobre a dança, enriquece a argumentação filosófica. Aliás, trazê-lo é um grande mérito do encontro – destaca Pereira, que lança com a crítica Silvia Soter hoje à noite o livro Lições de dança 5 (UniverCidade).

O coreógrafo Paulo Caldas, formado em filosofia e parceiro de Charles Feitosa em um debate sobre o tédio na dança, celebra a vinda ao Rio do português José Gil.

– Nem Deleuze, no qual Gil se baseia, conseguiu articular a questão do corpo como ele – diz Caldas.

Márcia Milhazes, que exibe no encontro um extra de 45 minutos cortado da versão final de Tempo de verão, aguarda um bom embate nesses quatro dias.

– Para quem pensa a dança como processo definidor da arte, o encontro é um vulcão de idéias – empolga-se.

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