Para o Ministro da Cultura de Portugal, José Antonio Pinto Ribeiro, Brasil tem um papel fundamental para os propósitos comuns da Língua Portuguesa nos países lusófonos. Em visita a São Paulo, o ministro afirmou que o Brasil é hoje uma “potência mundial”, um país que muito se valorizou nos últimos anos, e que tem um papel importante no que diz respeito à cultura lusófona no mundo.
“O Brasil de hoje não é o Brasil de 10, 20 ou 40 anos. Ele tem uma situação econômica ímpar, estável, não tem dívida. Aquilo que o Brasil tem, faz e exporta, dos aviões da Embraer até a soja, ao petróleo ou ao suco de laranja, tudo isso tem extraordinariamente valorizado” defende. “Portanto o Brasil transformou-se numa potência regional e mundial”.
Segundo o ministro, estas diferenças podem ser vistas por quem regularmente visita o país, citando ainda o “grande esforço” brasileiro na criação de condições sociais para o desenvolvimento econômico e social. “O Brasil, simultaneamente, descobre-se e percebe-se uma potência mundial e cultural também”, disse o Ministro da Cultura, exemplificando com a qualidade as orquestras sinfônicas, como a de São Paulo, e a divulgação da língua portuguesa do “samba à bossa nova”. “Tudo isso afirma o Brasil como potência cultural”.
Unir a diáspora pela Língua
A mais recente cimeira realizada em Lisboa, dia 24, pela CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), trouxe como tema a Língua Portuguesa. Em uma iniciativa do ministro brasileiro Gilberto Gil, um estudo sobre o idioma com os países da CPLP aponta seu valor econômico, e também esteve sendo abordado durante a cimeira.
Um dos projetos para a promoção da língua em discussão é a união, em todas as diásporas lusófonas, do ensino e aprofundamento do português. “Temos muitas centenas de milhares de descendentes de português na Venezuela, mas o Brasil tem muitas pessoas em Massachusetts e New Ingland, o Brasil tem muita gente na Flórida e Califórnia, muitos brasileiros no Japão que estão lá só falam o português, estão lá para ver se prendem japonês. Há muitos caboverdianos que estão na Holanda, há muitos portugueses em Paris, Londres. Há muitas diásporas, unir estas diásporas, consolidá-los como alguém que pensa numa forma específica” é objetivo, disse.
O projeto é complexo, mas segundo o ministro, possível. “Na nossa vida, devemos fazer as coisas bem, e quem vier atrás de nós que continue. Aquilo que fizermos, se fizermos bem, fica. O nosso objetivo é fazer com paixão e deixar uma cicatriz no mundo” sustentou. “Aquilo que eu gostaria de ajudar a fazer é percebermos o que de extraordinário e específico tem falarmos e pensarmos em português. Somos diferentes dos alemães, ingleses, franceses, chineses, russos, americanos. E esta maneira de falar que nos une, e faz do Brasil este país extraordinário”.
O Ministro falou ainda sobre o recém lançado Fundo para Promoção e Aprofundamento da Língua Portuguesa no Estrangeiro. Dedicado aos países em via de desenvolvimento, tem objetivo de transformar o idioma português numa língua técnica, de aprendizagem, da comunicação e progressivamente, possa “transformar-se na língua mãe”.
“Quando nós aprendemos a falar numa língua local, e essa língua não tem livros, não tem expressão escrita, quando a pessoa começa a procurar outros conhecimentos além daquele que está muito próximo de si, o conhecimento das coisas muito materiais, não há maneiras de voar mais longe. Se nessa língua não existe a Bíblia, Os Lusíadas, Shakespeare, ou tudo aquilo através do que nos tornamos pessoas mais merecedoras, mais capazes de resolver os problemas, estas pessoas ficam nessas situações mais ou menos analfabetas”.
Defendendo a necessidade de difusão de uma maneira de aprender o português nos países lusófonos, Pinto Ribeiro falou da possibilidade de se fazer “tudo” em português. “Dá para namorarmos, dá para fazermos negócio, para viajar, se comunicar, dar e obter ordem, dá para fazermos tudo”.
SP: Centro Econômico
José Antonio Pinto Ribeiro, afirmando que sua visita à São Paulo foi muito positiva, disse que o intercâmbio com São Paulo pode ser muito amplo. “É um centro economicamente muito importante, mas culturalmente muito forte e ativo. É possível fazer muitas coisas e intercâmbios culturais”.
Entre os projetos citados pelo ministro, está a exposição de José Saramago em São Paulo. Ainda sem data definida, será montada em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e o Instituto Tomie Ohtake. “Queremos mandar para cá jovens artistas, e tenho tido contato para que estreitem estas relações culturais e de língua, para que não seja só de vez em quando”.
Na visão de Ribeiro, o multicultural Brasil foi colonizado pelos portugueses tão quanto por outros povos imigrantes, como japoneses, alemães ou italianos. “Nós temos que perceber que os portugueses não colonizaram o Brasil, fizeram o Brasil. E cá ficaram, não foram embora. Por acaso, havia cá poucas pessoas que eram índios, que os trataram muitas vezes mal, outras melhor, alguns até defenderam que não os tratassem mal como o Pe. Antonio Vieira, cujo os 400 anos este ano se celebram”.
Para ele, o país é feito sobretudo pelos portugueses por causa da língua, o que sustenta Brasil e Portugal serem países-irmão. “Se aqui se falasse espanhol ou inglês, não teríamos a relação fraterna que temos. Somos iguais mesmo sendo diferentes”.
Em passagem por São Paulo para assinalar o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, o ministro manteve encontros com autoridades locais, entre eles com o secretário de Cultura do Estado de São Paulo, João Sayad. Participou ainda de ato cívico no Clube Português, e uma recepção no Consulado de Portugal em São Paulo.
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