O Brasil (ainda) não é um país democrático

Foram muitos anos de luta. Muitas vidas ceifadas pela repressão formal e pela repressão de fato. Muitos brasileiros exilados. Muitos mais torturados, alguns até a loucura. A ditadura escancarada da camarilha burguesa foi deposta pelo menos duas vezes nos quase 90 anos de existência do PCdoB. Isso me orgulha muito.

Eu me vejo nos guerrilheiros do Araguaia, nos aliancistas de 1935, nos que realizaram a conferência da Mantiqueira em 1942, que persistiram nos ideais marxistas-leninistas, persistiram na defesa do proletariado em 1962 e após 1991. Posso dizer que estou entre esses últimos, ainda que fosse criança à época.

Nos anos do auge do neoliberalismo, quantas passeatas, manifestações, ocupações? Eu mesmo participei de algumas, inclusive da ocupação da Assembléia Legislativa do Paraná em 2001, barrando a privatização da companhia paranaense de energia elétrica (Copel). Participei das campanhas de Lula em 2002 (quando me filiei ao PCdoB, com 19 anos de idade) e 2006. Participei com afinco da campanha pela eleição de Dilma Rousseff. Acredito na democracia. Acredito que é possível avançar, e muito – criei até o Correio Progressista para divulgar notícias e idéias favoráveis às lutas dos trabalhadores, mesmo que nem sempre iguais às que defendo.

Muito tempo dediquei à luta por um Brasil verdadeiramente democrático, em que o povo realmente possa determinar os rumos da nação. A saída de Orlando Silva Jr. do Ministério do Esporte, a despeito de todas as demonstrações de inocência, a despeito da total ausência de provas, me abalou. Sim, sinceramente, esse evento me abalou. Tenho consciência, porém, de que se trata apenas de um percalço em um caminho longo e tortuoso que levará ao socialismo. Ao fim da ditadura da burguesia.

Ditadura da burguesia? Sim. Ditadura da burguesia. Se não, vejamos: o povo elegeu Dilma Vana Rousseff para continuar e avançar nas mudanças iniciadas timidamente por Lula. Elegeu Dilma Rousseff inclusive para levar adiante a política implementada pelo Ministério do Esporte, comandado pelo PCdoB desde 2003. Uma política que levou muita transparência aos gastos públicos, e também conquistou a Copa 2014 e a Olimpíada 2016. Uma política democrática, que visa apenas a beneficiar a população brasileira – tanto é que muitos dos convênios firmados entre o ministério e prefeituras foram realizados justamente com administrações municipais comandadas pelo DEM e pelo PSDB, partidos que agora gritam contra os convênios celebrados pelo ministério.

Essa ditadura da burguesia, porém, permite que meia dúzia de empresas jornalística destituam ministros a seu bel prazer. Já foram 5 esse ano. Somente uma troca ministerial ocorreu para fazer avançar as políticas públicas (a do Ministério da Defesa). Todas as demais, apenas para saciar a sede de sangue de uma mídia que há muito já ultrapassou o nível de um Murdoch e seu The Sun. O Brasil é refém da burguesia. Através de seu braço midiático, essa camarilha, essa quadrilha de seqüestradores da vontade popular vem impondo demissão após demissão no governo Dilma – o objetivo é chegar à demissão da própria presidenta eleita com muito suor pelo povo.

Essa ira insana da quadrilha burguesa se elevou ainda mais frente ao Partido que efetivamente representa os interesses estratégicos das classes trabalhadoras no Brasil, no fim das contas, o interesse da própria sociedade brasileira. Capas e reportagens cheias de ódio, e vazias de conteúdo. Transcrições de gravações cujo áudio até hoje não foi apresentado. E, justamente no dia em que o principal pivô do escândalo midiático-burguês pela segunda vez fugiu de um depoimento, a vítima da perseguição sai do governo.

Orlando Silva Jr. saiu de cabeça erguida. Sabe-se inocente. Eu, no entanto, estou de cabeça baixa. Sei que é temporário. É só mais um percalço, muito menor que muitos outros que já apareceram pelo caminho. Porém, comovo-me com a sorte do meu país. Com a má sorte. O fado, em bom português. A sina. A sina de um país cujo povo não merece ficar refém da burguesia local e internacional. Não merece ficar refém da FIFA. Não merece ficar refém de Globo, Abril et caterva. É só mais um percalço, devo continuar firme na luta, pois essa é a solução. Continuarei. No Partido em que sempre militei. Com a dedicação que sempre tive. Mas, sinto-me comovido pela sina do meu povo.

Lutar é difícil. Sempre foi. Não devemos mudar de rumo – o socialismo continuará sendo nossa meta. Que será atingida. O PCdoB é forte e aguerrido. Mostrou sua unidade em uma luta difícil. É um Partido forte, porque sua militância é forte, unida, e convicta de que o socialismo é a única alternativa democrática para o Brasil. O povo saberá escolher quando chegar a hora. O povo, não a camarilha midiático-burguesa.

Autor: Leandro Arndt

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