Montado apenas duas vezes no Brasil (por Cacilda Becker, em 1950, e por Nathalia Thimberg, em 1960), O Anjo de Pedra (Summer and Smoke) – texto de Tennessee Williams, um dos dramaturgos mais cultuados do teatro universal (1911-1983) – volta aos palcos depois de 5 décadas, ano em que o escritor completaria 100 anos. Com estreia no dia 24 de junho, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro Paulo Eiró, a nova montagem é dirigida por Inês Aranha.
Com elenco formado por Rui Ricardo Diaz (protagonista do filme Lula, O Filho do Brasil), Rosana Maris, João Acaiabe, Bri Fiocca, João Bourbonnais, Lianna Matheus, Fani Feldman, Rose de Oliveira, Plinio Meirelles e Pedro Monticelli, a peça tem trilha sonora original de Carlos Careqa e iluminação de Aline Santini.
Inês Aranha, diretora do espetáculo, conta que foi uma grande responsabilidade montar o texto. “A peça é linda, e é um desafio para qualquer diretor encenar um clássico de Tennessee Williams”, afirma. Traduzido para o português por Sergio Viotti e adaptado por Rosana Maris, o texto não sofreu alterações na montagem atual. “Não faz sentido mutilar um texto deste porte. Quero ser fiel ao máximo à adaptação”, acrescenta Inês.
Rosana Maris, que produziu o projeto – além de ser a protagonista da peça, conta que foi muito simples fazer a adaptação: “A dramaturgia de Tennessee Williams é impecável”. A atriz acredita que, por se tratar de um drama humano, a história encenada poderia acontecer com qualquer pessoa e em qualquer lugar.
Muitos anos após a última vez em que se viram, os jovens Alma Winnemiller e John Buchanan Jr se reencontram. Já adultos, recordam o amor de infância. Filha de pastor protestante, Alma tem a mãe com problemas mentais e acredita no amor como um sentimento sublime. Jovem médico, filho do conceituado Dr. John, John Buchanan Jr vê o amor como nada além de uma satisfação biológica. Em meio à erupção de sentimentos e o desejo latente, ambos deparam com formas opostas de pensar e novos jeitos de agir. São eles que tecem o enredo de uma história repleta de descobertas e emoções. Seria possível uma inversão de valores?
“Fiquei lisonjeada e apreensiva com o tamanho do projeto”, comenta Inês. Para ela, que foi convidada por Rosana Maris para a direção, a ideia é fazer uma encenação ágil e leve, com momentos de humor sutil. “Assim, é possível deixar o texto fluir com intensidade nos momentos cruciais das personagens centrais”, comenta.
Criar dando liberdade ao elenco é uma das características de Inês Aranha. Habituada a preparar atores, ela desenvolveu uma ferramenta que abre espaço para a criatividade e para os desenhos da cena. “Nunca começo um trabalho com uma ideia rígida. Isso facilita tanto para mim como para os artistas”, conta.
Nesta primeira vez em que trabalha com um elenco heterogêneo, Inês comenta que os atores já estavam no projeto quando aceitou fazer a direção. “Em algumas cenas, personagens que não fariam parte delas aparecem como elementos integrantes do espaço cênico, para dar mais dinâmica e beleza, além de ajudarem na ambientação”, descreve. “Acho que isso pode tirar um possível ar de encenação datada. Quero enaltecer os momentos de profundidade”, complementa. De acordo com a diretora, se O Anjo de Pedra é um texto de muitas palavras, suas emoções, entretanto, são despertadas no silêncio. “Para que a ação se estabeleça e para que o público se sinta cúmplice deste silêncio e dessas situações, a relação ator/plateia é bastante valorizada. São dez atores no espetáculo e estes farão todos os personagens considerados necessários.”
Música Composta por Carlos Careqa, a trilha sonora de O Anjo de Pedra busca o caminho do surrealismo. “Ele usa instrumentos não convencionais, como um serrote, que acompanha a primeira canção e faz lembrar a guitarra havaiana”, diz Inês. A trilha sonora se baseia no canto inicial da personagem Alma. “A canção que compus para o início da peça é como um canto religioso, que endossa a personagem vivida pela atriz Rosana Maris. Para isso, me baseei em um poema do Willian Blake, que é recitado no espetáculo”, comenta o compositor e instrumentista.
Careqa escreveu duas canções – ambas interpretadas pela protagonista. Segundo a diretora do espetáculo, os momentos mais líricos, como um solo de celo, se contrapõem às ambiências sonoras não realistas. “Inês está sendo bem generosa e flexível no sentido de discutir as idéias juntamente. Estamos fazendo juntos. Ela me pede algo, eu reflito e devolvo com o pedido elaborado”, conta Careqa.
Iluminação, Cenário e Figurino À cargo de Aline Santini, a iluminação do espetáculo é uma importante ferramenta para criar nuances de clima e tempo. Com diversas cenas que se passam ao ar livre, o ciclorama – tecido geralmente localizado no fundo do palco, atrás do cenário – é peça fundamental no resultado do projeto de luz. “Aline teve total liberdade para as propostas de iluminação”, afirma Inês Aranha.
Com referência nos anos 50, o figurino é assinado por Cy Teixeira. Segundo a diretora, a indicação dada é que todos os adereços tenham esse perfil. Contudo, existe a intenção de fugir do padrão, com alguns detalhes fora do comum. “A ideia é que apareça nos figurinos a libido reprimida numa sociedade moralista”, comenta Inês, que, além da direção, é responsável pelo cenário. “Quero que se tenha uma primeira impressão de que o lugar é quase uma igreja protestante, com bancos que serão desmembrados para servirem aos vários ambientes. O espaço será dessacralizado paulatinamente, de acordo com as necessidades, e totalmente refeito ao nos encaminharmos para o final da peça, onde as almas se transformaram, mas a sociedade permanece rígida, com seus preconceitos e moralismos”, finaliza.
Sobre Tennessee Williams Vencedor do prêmio Pulitzer com as peças Um Bonde Chamado Desejo ( 1848) e Gata em Teto de Zinco Quente (1955), Tennessee Williams é um dos dramaturgos americanos mais cultuados mundialmente, ao lado de nomes clássicos como William Shakespeare e Bertolt Brecht, entre outros. Sua produção literária conta 32 peças curtas, 7 médias e 24 longas, assim como várias adaptações para cinema e TV. O conjunto de obras de Tennessee Williams abrange poesia, conto e romance, mas o autor é mais conhecido como dramaturgo. Embora tenha se aventurado em todos os gêneros literários, T. Williams conseguiu manter um estilo que é comum tanto no teatro, quanto na prosa e na poesia. Em quase todas as suas obras é possível reconhecer uma preocupação com a poesia, sobretudo a poesia imagética e simbólica. Entre outros trabalhos memoráveis do autor estão À Margem da Vida, Doce Pássaro da Juventude, A Noite do Iguana e O Anjo de Pedra (espetáculo esse montado apenas duas vezes no Brasil, pela companhia da atriz Cacilda Becker, em 1950, e pela companhia da atriz Nathalia Timberg, em 1959/60).
Sobre Inês Aranha Formada pela Civica Scuola D’Arte Drammatica Paolo Grassi, em Milão, Inês acompanhou montagens dirigidas por Tadeusz Kantor, Giorgio Strehler, Heiner Muller. Após dez anos de estudos e trabalhos na Itália, voltou ao Brasil para trabalhar no Grupo Tapa e no CPT. A partir de 1997, começou a lecionar Interpretação no INDAC, onde sua metodologia de técnicas de interpretação se consolida. Alguns de seus principais trabalhos como atriz foram: Nova Velha Estória, Nas trilhas da Transilvânia, Morte e Vida Severina, Ivanov e Moço em Estado de Sítio, Orgia e As Troianas – Vozes da Guerra. É a preparadora de atores em todas as montagens do Núcleo Experimental.
Texto: Tennessee Williams. Direção: Inês Aranha.
Elenco: Rui Ricardo Diaz, Rosana Maris, João Acaiabe, Bri Fiocca, João Bourbonnais, Lianna Matheus, Fani Feldman, Rose de Oliveira, Plinio Meirelles, Pedro Monticelli
O ANJO DE PEDRA Teatro Paulo Eiró (418 lugares) .
Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro | São Paulo. Bilheteria: (11) 5546-0449 | 5686-8440. Acesso para deficientes.
Horário: Sextas e sábados, às 21h e domingos, às 19h.
Ingresso: R$ 10,00
Classificação indicativa – 12 anos
Temporada: até o dia 17 de julho de 2011
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