Mutirão Nacional

Por Walmor Marcellino

O Paraná está bloqueado pelas “forças do bem”. O governo Lula e “sua maioria” no Congresso Nacional votaram pela “Bio-segurança dos transgênicos” articulada parlamentarmente pelo Ministro Augusto Rodrigues e o Senador Tasso Jereissati, enquanto Lula-lá fazia discursos patéticos.

A sua vez, na justiça, a paranaense Ministra Denise Arruda não pôde discernir a ilegalidade dos “direitos facultativos de reservas de capital e da antevisão de receitas de pedágio desse capital incorporadas ao capital fixo efetivo (aquele que é aplicado objetivamente nas rodovias pedagiadas) das empresas concessionárias e mandou recomeçar pelos pródromos as pendengas (com 10 anos de “retorno judicial”).

E o Paraná dos Jaimes, até 2002 ameaçado pelas “forças do mal”, agora está de mal com as “forças do bem”, aquelas mesmas do facínora George W. Bush/Tony Blair/Carlos Menem/Fernando-Henrique/Jaime Lerner et caterva; que, aqui entre nós, tem seus agentes no governo Lula, no Congresso Nacional, na “imprensa democrática e progressista” e sabe-se mais onde.

Os estrategistas do Governo Requião estão tentando atenuar os efeitos de sua campanha política: “o pedágio vai baixar ou acabar!” por outra, “nós também vamos pedagiar nossas estradas ao preço razoável do capitalismo reprodutivo” (a 1/4 do preço do Cecílio do Rego Econorte). Já no caso da transgenia sojística, com Lula, o Congresso Nacional e a “imprensa democrática” contra, e com agentes inimigos infiltrados em seu próprio governo, o governador vai ter de inventar alguma variante, para não ficar abanando o rabo.

Até mesmo seu embarque no neodesenvolvimentismo do economista Carlos Lessa, do brigadeiro Ferolla e do publicista Bautista Vidal não vai norteado por mais combustível (popular) ou porto (instituição ou partido) do que o próprio ideário; e o próprio documento-base ainda não passou por um crivo sociopolítico que lhe dê suporte. O professor da PUC-SP Lúcio Flávio de Almeida, coordenador da revista “Lutas Sociais”, comentou a respeito de projetos nesse sentido: há “…uma certa nostalgia do nacional-desenvolvimentismo, inclusive a retomada de mitos a respeito de uma burguesia nacional que estaria interessada em “fortalecer o Estado”, devolvendo-lhe seu “verdadeiro papel” de defensor do bem comum, o que passaria por implementar políticas favoráveis às classes populares e à soberania nacional.

E adiante: “Alianças são importantíssimas”… “Mas é fundamental conhecer a prática dos eventuais aliados, até para não se comprar, de novo, gato por lebre. Existem várias tendências neodesenvolvimentistas. Urge verificar suas bases sociais…”

Reconhecido o alcance de sua visão estratégica e aplicada sua intransigência moral, o governador Roberto Requião se vê sem suporte político partidário (e se faz tarde para começar seus intentos de obter o apoio organizado da população ‑ obtido em parte durante suas campanhas eleitorais ‑) e sem aporte tecnocientífico através de entidades representativas. Assim, sem conseguir realçar seu projeto de marketing político, tendo na verdade a imprensa “democrática” contra si; sem lograr a formação de uma coordenação política competente e eficaz; e sem conseguir formular estratégias para as áreas políticas de maior sensibilização (segurança, educação, saúde e “cultura de massa”), em razão de sua desnorteada “equipe de governo”, a grandiosa navegação política de Roberto Requião de Mello e Silva, do Rio Iguaçu ao Lago Paranoá, do regional para o nacional, vai acabando literalmente no rego. E nós, agentes sociais e produtores culturais, todos, lamentamos profundamente essa anomia de movimentos e partidos políticos no Paraná.

Walmor Marcellino é escritor e jornalista. Escreve para Brasil Cultura

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